
Depois de um período de preparativos dos presentes, da ceia e de um espírito geralmente hipócrita de filantropia que só aparece nesse tempo como se pobre só tivesse fome uma vez ao ano, a vida continua como sempre foi.
Os baladeiros alienados já traçam os planos para mais uma festa de virada de ano e um ano cheio de festas, outros pensam nas férias e cada um pensa em si deixando pra trás o Natal e todo espírito filantrópico que tão penosamente o envolveu. Diga-se de passagem, a filantropia do período natalino é, na verdade, não mais que uma forma de expurgarmos o incômodo que a pobreza e a miséria nos provocam em tempos de tanto consumismo. Talvez por isso Jesus, que foi tão pobre, esteja a cada ano que passa mais fora de moda para um mundo tão consumista e uma igreja tão cheia de “prosperidade”.
Mas enfim, o Natal passou e as festas que virão não terão nenhuma conotação religiosa, pelo que poderemos nos esbaldar sem que o sofrimento alheio nos atormente. Ano novo, carnaval, verão, sol, praia, muita festa e a vida “como o diabo gosta”.
E não dá pra esquecer dos mais religiosos, que depois desse período de amor e reflexão natalina, voltarão ao habitual legalismo, usando da mesma Escritura que ensina o amor para agora condenar o infrator.
Sabe o que é pior? Para a maioria das pessoas (e dizendo isso sou otimista) Jesus não fez diferença em seu advento. Pois sendo Cristo a luz, eles permanecem na lei. Até mesmo as atitudes filantrópicas do período natalino se tornaram leis, pois não são frutos de um espírito que clama Aba Pai, pois se assim fosse, frutificariam o ano todo, amariam a todo tempo e jamais condenariam quem carece de simples atenção e sincera amizade. Assim, estes apenas trocaram a Lei de Moisés por uma nova e estranha lei a qual, por pura ignorância, atribuíram ao evangelho de Jesus, mesmo que esta nova lei contrarie o que o próprio Jesus falou.
Uma igreja que joga pedras nos homossexuais, impõe proibições e obrigações, não tolera diferenças religiosas, não respeita a cultura nativa, discrimina os pobres e se preocupa tanto com as aparências, está vivendo sob a luz de Cristo, ou apenas mudou de lei?
Infelizmente o estudo apologético de nossos dias tornou-se um mero artifício sob o qual caminha a religiosidade meramente proselitista, que mais se preocupa em mostrar estar certa do que corrigir seus próprios erros; o poder das Escrituras foi restringido a exortação dos ouvintes, mas não a correção do palestrante; é largamente usada para retirada do cisco no olho alheio, mas impotente à trave do próprio olho. Neste ínterim, religiosos e alienados baladeiros, por mais diferentes que sejam, erram igualmente, e nem de longe se parecem com Cristo.
Se Cristo de fato nasceu em nós, e se de fato vivenciamos um verdadeiro Natal, é de se esperar que alguma coisa em nós mude. Não porque temos sobre nós novas obrigações e proibições, mas porque em nós brotou a luz do Espírito de Cristo que clama Aba Pai - Paizinho Querido -. Quem assim o chama em seu coração, quer bem a todos os filhos deste mesmo Pai; se irmana aos homens, à terra e ao cosmos; não necessita de leis, pois já tem a luz; faz a Sua vontade não por que O teme, mas porque O ama.
Sob a luz de Cristo, um feliz ano novo para todos, sem exclusões.