quarta-feira, 20 de maio de 2009

TÔ PENSANDO EM ME TRAIR

Tô pensando em me trair
Falar só o que ela quer ouvir
E quando eu for escrever
Dizer somente o que ela quer ler

Tô pensando em me trair
Aderir ao gosto popular
Me desconscientizar
Deixar a onda me levar

Tô pensando em me emburrar
Pensando nela acompanhar
Afinal pra que todo ideal
Se no final tudo vira carnaval
Tudo pede pra esperar
Tudo impede realizar
Tudo perde o sonhar

Tô pensando em me dispor
Ir pra onde ela for
Sei pra mim o que preciso
Que ela siga o seu caminho
Não a vou mais impedir
E nem vou ficar sozinho
Pois tô pensando em me trair
Onde ela for eu vou seguir

Tô pensando em me anular
Em mudar o meu destino
Porém isso é impossível
Posso até mesmo pensar
Mas me trair eu não consigo

Já disse alguém que ela é burra
Seu presente é um desastre
Que seu futuro é uma farsa
Mas se dela até Cristo se fez parte
Não poderei deixar de orar
Salve, oh Deus, a grande massa

Julio Zamparetti
20/05/09

quinta-feira, 14 de maio de 2009

SONAMBULISMO ESPIRITUAL

O sonambulismo é um transtorno do sono durante o qual a pessoa pode apresentar habilidades motoras simples ou complexas. O sonâmbulo é capaz de andar, urinar, comer, realizar tarefas comuns e mesmo sair de casa, enquanto permanece inconsciente e sem possibilidade de comunicação. Embora seja difícil acordar um solâmbulo, não é perigoso fazê-lo. É mais comum em crianças e adolescentes. Recentemente houve um caso no qual um homem escalou uma montanha durante o sono, e acordou apenas lá em cima. O incrivel é que bombeiros cheios de equipamentos e outros levaram horas para escalar a montanha para o resgate, já que a montanha era muito íngreme.

Podemos verificar que há um paralelo entre o sonambulismo e o estado em que se encontra a igreja contemporânea.

Fala-se de "moveres", "movimentos", "avivamentos", que revelam uma igreja adolescente, susceptível a qualquer vento de doutrina. Porém, falta a consciência renovada. É como se o corpo estivesse agindo por reflexo, e não por ordem enviada do cérebro.

Tal qual o sonâmbulo, a igreja perdeu a lucidez, e por conta disso, alienou-se da realidade. Daí a dificuldade que tem de interagir com o mundo.

Mesmo que, aparentemente, de olhos abertos, está adormecida. Os crentes perderam o senso crítico, e estão como que hiptonizados por líderes com mentes igualmente cauterizadas.

Confunde-se avivamento com gritos, histeria coletiva, pulos, e até gargalhadas. Mas não sobra lugar para o quebrantamento e o arrependimento.

Em Efésios 5:14, encontramos a seguinte exortação: "Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará".

Há muita gente se levantando em nossos dias, porém, sem antes se despertar. É justamente isso que faz o sonâmbulo. Ele se move, se veste, e se deixar, sai de casa, expondo-se ao perigo iminente.

Um genuíno levante provocado pelo Espírito Santo deve ser precedido de um autêntico despertamento. A consciência tem que ser renovada! A realidade à nossa volta não pode ser ignorada.

O sono tem cinco estágios durante os quais as ondas cerebrais diminuem de intensidade até atingir um profundo estado de relaxamento. A baixa atividade se mantém no hipotálamo, ligado à consciência, e no córtex cerebral, que controla os movimentos do corpo. No caso dos sonâmbulos, essas ondas, vindas de uma área do cérebro chamada ponte, são irregulares. Por isso não cumprem a contento a função de inibir a região motora. Como as áreas motoras permanecem ativas, o sonâmbulo é capaz de se sentar, andar e trocar a roupa.

Já a área relacionada à consciência, no hipotálamo, se mantém quase inativa. E isso explica porque quem sofre desse distúrbio não percebe o que faz nem se lembra de nada no dia seguinte.

Daí o fato da igreja contemporânea exibir uma memória tão curta. É como se houvesse um lapso no tempo entre o livo de Atos dos Apóstolos e os nossos dias. Onde estivemos durante esses quase dois mil anos? A maioria dos crentes sequer tem noção das realizações dos crentes da geração anterior. Cada novo "mover", faz desaparecer da memória tudo o que aconteceu anteriormente. E interessante que cada novo movimento se autoproclama o último, o que precede a volta de Cristo. Porém todos estão fadados ao esquecimento, pois são resultantes de uma igreja sonâmbula.

Paulo diz que devemos estar ligados à Cabeça que é Cristo, agindo de acordo com as órdens que dela recebermos. Não agimos por reflexo, mas sob o comando do Espírito de Cristo que habita em nós.

O que precisamos não é de mais uma revelação poderosa, nem uma nova unção, mas tão-somente de um despertamento, que nada mais é do que acordar para a realidade, interagir com ela, trabalhando pela sua transformação.

Está na hora da igreja despir-se deste pijama com a qual tem estado vestida por pelo menos duzentos anos. Quem vai à guerra de pijamas?

Vale aqui a recomendação de Paulo:

"E fazei isto, conhecendo o tempo. Já é hora de despertarmos do sono... A noite é passada, e o dia é chegado. Rejeitemos, pois, as obras das trevas e vistamo-nos das armas da luz" (Rm.13:11a,12)

Infelizmente, a maioria imagina que está anoitecendo, e que as coisas tendem a piorar, preparando o cenário para a volta de Jesus. Porém, as Escrituras afirmam outra coisa. O dia está clareando. A partir da Cruz, surge um novo dia, que gradativamente vai rasgando as trevas, e preparando o cenário para o surgimento do Sol da Justiça.

Por isso Jesus é apresentado em Apocalipse como a Estrela da Manhã. Ele é que anuncia a chegada do novo dia. De Adão a Jesus, as trevas predominaram, e alcançaram seu apogeu na Cruz. Mas a partir daí, as trevas cedem lugar à Luz, e em breve será Dia Perfeito.

Estamos vivendo no aurora do novo dia. Hora de aposentar os pijamas.

“Mas a vereda do justo é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv 4.18).

sexta-feira, 8 de maio de 2009

O FIM DO FIM DO MUNDO

Comumente algumas pessoas me perguntam se eu acho que o fim do mundo realmente está próximo. Prontamente respondo que acredito piamente que estamos, a cada dia que passa, mais longe do fim do mundo.

Em primeiro lugar, estamos mais longe do fim do mundo porque a cada dia chegamos mais perto de nossa morte, o que ocorrerá muito antes que o mundo possa se acabar. Sabedor de que a morte não é o fim, não verei fim algum.

Em segundo lugar, porque, como diz a Bíblia, nosso trabalho, no Senhor não é em vão (I Coríntios 15:58). Portanto, só crê e vive na expectativa do fim do mundo aqueles que trabalham para isso. Eu, no entanto, creio e trabalho para que o mundo seja restaurado.

Não há sentido em escrever livros, educar as crianças, trabalhar por um futuro melhor ou ter qualquer tipo de esperança, e crer que tudo está prestes a se acabar.

Alguma coisa está muito errada! Creio que os homens estão sendo vítimas de uma grande conspiração, oriunda de sua própria concupiscência.

É no mínimo intrigante ver líderes religiosos usarem do discurso de que o fim do mundo está próximo, sensacionalizando qualquer acontecimento cataclísmico para “comprovar” o iminente fim, com intuito de sensibilizar seus ouvintes a se “converterem” logo, já que amanhã pode ser tarde. Depois, esses mesmos líderes usam outro argumento para induzirem seus ouvintes a realizarem doações expressivas a fim de se construir um maravilhoso templo, um “palácio para Deus”. Ora, se o fim está próximo, porque gastar dinheiro construindo palácios? Para quem eles trabalham?

A verdade é que esses disparates têm proporcionado uma geração de homens e mulheres que caminham sob a bandeira do cristianismo, mas na direção contrária de Cristo. Tornaram-se egocêntricos, mesquinhos e amantes de si mesmo. Vêem Cristo como um serviçal sempre disposto a servir aos seus mais fúteis prazeres. Idealizaram um Cristo conforme seus anseios, que longe está de ser o Cristo real, Mestre, Senhor e Rei.

A mesquinhez daqueles que buscam um Cristo ideal é claramente delineada na forma de relacionamento que estes têm com o seu Cristo, o Cristo que idealizaram. Estes ao invés de terem tido um encontro com o Mestre que apregoou e viveu uma vida simples, abnegada e altruísta, encontraram um falso Cristo, que mais se parece com o gênio da lâmpada, que está disposto a realizar-lhes todos os seus desejos.

Nesse tipo de relacionamento o sentido de vida abundante prometida pelo Mestre tem um único direcionamento, o EU. Ninguém, dentre estes, pede a Deus a descoberta da cura para o câncer, da aids, a restauração da camada de ozônio, pois tudo o que deseja é apenas ver a si mesmo curado.

Neste tipo de fé, ser luz para o mundo é tão somente ser iluminado. Pois pra mente medíocre, o mundo gira em torno dela e a pessoa fecha-se como se fosse o mundo em si.

Pra quem crê no seu próprio Cristo idealizado, ao invés de crer no verdadeiro Filho de Deus, uma vida melhor se resume em viver isolado das mazelas sociais, sem que essa o incomode, nem influencie seu bem estar. Para este, cair mil a sua direita e dez mil a esquerda é o que há de mais glorioso, conquanto ele não seja atingido. Estes são incapazes de se alegrarem na alegria alheia, bem como impossibilitados de chorarem com os que choram.

Isso tudo é fruto da pregação de líderes religiosos sem escrúpulos, que fizeram de Cristo um negócio, incitando seus ouvintes a mesma ganância pela qual são dominados.

Se algum fim está próximo, o fim é este. Este é o fim do qual Cristo veio anunciar: O fim de um mundo perverso e pervertido, a fim de que seja transformado em um novo mundo, nova criatura, segundo os princípios daquele que o criou.

Aqueles que vivem a expectativa de um cataclismo universal fatal, não só propagam o fim do mundo, mas também promovem o fim da espiritualidade dinâmica, da esperança, do amor ao próximo, do altruismo, da compaixão. Pois nada disso tem razão de ser, quando tudo o que se espera é o pior.

Então porque aqueles que não crêem no futuro buscam a Deus? Simples, eles crêem que nada pode ser feito em benefício da humanidade, mas que pode ser feito em benefício particular. Eles têm certeza de que não há tempo para melhorar o mundo, mas a convicção de que não há mais tempo muda quando se trata dos interesses particulares. Mas o terrível engano se dá no fato de que na busca desenfreada por seus interesses pessoais, acabam promovendo seu próprio fim. Afinal, assim disse o Mestre: “Quem quiser preservar a sua vida perdê-la-á; e quem a perder de fato a salvará” (Lucas 17:33).

Não é difícil perceber que o mesmo espírito que move a ganância dos homens de negócio, também move e rege os ditames e o proceder dos homens que lideram o mercado da fé, bem como aqueles que os seguem. Vê-se aí um mundo em que nada é de graça, um mundo em que toda ação tem um fundo de interesse pessoal, um mundo em que o capetalismo (sic) impera. Embora as circunstâncias indiciem que esse mundo se fortalece a cada dia, tenho fé e esperança de que esse mundo terá um fim.

Foi para destruir este mundo de sistemas corruptos que Cristo se fez homem e elegeu homens para serem cristos nessa batalha. É contra esse mundo que os homens devem proferir o fim e não contra a criação de Deus. Pois “a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Romanos 8:21).

Estou certo de que a transformação deste mundo começa em nosso interior, através de uma reeducação espiritual, da consciência e do cuidado ambiental, da retomada dos valores cristãos, da morte do egocentrismo e da ressurreição para uma nova vida em Cristo.

Eu sei que esse é um caminho árduo, que mais fácil seria dizer que o mundo está se acabando e cada um que tome cuidado de sua própria salvação. Anunciar destruição é muito mais fácil e chega a ser covardia, pois destruir é fácil, difícil é construir, organizar, coordenar. Entretanto, Jesus não nos confiou tarefa fácil, mas sim nos enviou como ovelhas entre lobos (Lucas 10:3). Não nos chamou para trilhar o caminho largo, mas sim o caminho estreito que leva à porta estreita (Mateus 7:13). Ele não nos chamou para anunciar a destruição, mas sim as boas novas da redenção e nos confiou o ministério da reconciliação entre Deus e o mundo. A única destruição a qual Cristo veio realizar é destruição do destruidor (I João 3:8). Ou seja, somos chamados a proclamar o fim do fim do mundo.

“ Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação” (2 Coríntios 5:19).



Julio Zamparetti Fernandes
Texto extraído do texto original (não revisado) de meu novo livro, Espiritualidade Dinâmica, que será lançado em breve.