segunda-feira, 29 de junho de 2015

QUEM É O CRISTO

 Por Julio Zamparetti

Quando Pedro disse que Jesus era o Cristo, deu a Jesus a sua dimensão cósmica. Enquanto todos o comparavam a profetas e líderes, Pedro o reconheceu como o Cristo, o Filho de Deus. Essa dimensão crística de Jesus está muito além da dimensão existencial do Jesus histórico, pois o Cristo é pré-existente. Ao afirmar que Jesus era o Cristo, estava dizendo que ele era muito maior que sua breve história terrena; que não era mera matéria, mas se tratava de um ser divino.

O Cristo já estava na criação de todas as coisas, no verbo, vento, sobre as águas; estava presente nos profetas, em Moisés, Maomé, Buda, Gandhi e outros; está presente em nós, no amor que partilhamos, na caridade que praticamos.

Pensar em Cristo somente no âmbito do Jesus histórico é tolher da fé o que de melhor a fé pode alcançar; é querer limitar a abrangência do Reino de Deus aos limiares da religião cristã. Doutra sorte, confessar que Jesus é o Cristo significa dizer que Cristo não cabe dentro do cristianismo. Na verdade o que temos, hoje, por cristianismo deveria se chamar jesuismo, porque se baseia unicamente no Jesus histórico - sua carne e sangue - e não no Cristo cósmico ou univérsico - seu Espírito e Verdade. O cristianismo quando baseado no Espírito e Verdade se desprende de suas teias dogmáticas e passa a considerar todo aprendizado, amor e caridade vividos por todas as pessoas de bem, sejam elas professantes ou não de qualquer religião. O cristão que vive nessa perspectiva não se ocupa com acusações, apologias ou condenações às religiões ou pessoas que creem de outro modo. Pelo contrário, procura aprender, amar e conviver em harmonia com o diferente.

Eu não acredito que Deus pudesse entregar toda revelação de si a apenas uma religião. Não. Ele não seria tão pequeno. Definitivamente, ele revelou um pouco, apenas um pouquinho, de si em cada religião, cultura, povo, tribo e pessoa, para que possamos conhece-lo mais, quando soubermos aprender uns com os outros.

A resposta de Pedro lhe rendeu dois bônus: a edificação da igreja e as chaves do Reino dos céus. Igreja vem do termo ‘eklesius’ que significa ‘chamados para fora’, bem diferente do que temos por igreja nos dias de hoje que, ao contrário, nos ‘chama para dentro’ de seu sistema e nos fecha para o mundo. Reconhecer o Cristo é receber sobre si a edificação do ser chamado para fora, libertar-se dos sistemas, ser livre, ser eterno, ser muito mais que este corpo mortal. Para esses mesmos, também lhes são dadas as chaves do Reino que lhes permitem promover a justiça onde só há injustiça, o amor onde só há guerra, a alegria onde só há tristeza, possibilidades onde só há limitações e a paz de espírito onde só há conflito.

Quem reconhece o Cristo cósmico e nele crê torna-se semelhante a ele. Já não está mais limitado ao corpo, à condição física, ao mundo material; ele é maior que isso tudo; é capaz de se superar diante de qualquer dificuldade, não desiste jamais de seus sonhos, não para a beira do caminho; tudo pode, tudo crê, tudo espera; descobriu Deus e a força de seu amor.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

OS IMORTAIS

Por Julio Zamparetti

O Céu é um lugar real que fica localizado, mais ou menos, à altura do peito. Nele não habitam os mortos. Nele habitam os imortais imortalizados pelo amor e no amor.

Os imortais são aqueles que descobrem o caminho da felicidade acircunstancial. O seu espírito é capaz de se elevar mesmo quando sua carne definha; sua alma amadurece, mesmo quando o corpo adoece; seu coração é consolado enquanto seus membros são afligidos.

Os imortais caminham por onde não há trilha, não há setas, não há luz. Eles se guiam por aquilo que os olhos não veem, os ouvidos não ouvem, as narinas não cheiram, o paladar não sente, o tato não toca, o mortal não entende. Por isso os imortais são incompreendidos. E a despeito de toda ferida que esse mundo lhe cause, as aflições da matéria não lhe são como castigo, porque também sua consolação não é material.

Mas não quero que pensem que a consolação só é encontrada após a morte. Não! A consolação é encontrada sempre no Céu. Sim, esse Céu que se encontra dentro do peito; esse Céu que pulsa vida; esse Céu do qual o autor sagrado dizia: “vós já tendes chegado”.

É bem verdade que eu posso encontrar esse Céu... esse Deus... nas estrelas, nos astros, na imensidão. Mas de que me vale encontra-lo onde não posso alcança-lo? Todavia, posso alcança-lo, em meus irmãos que sofrem, que padecem e carecem de ajuda.


Habite o Céu dentro de mim para que eu o possa transmiti-lo. Seja o meu coração a vértice onde Céu e terra se convirjam permitindo-me vislumbrar de onde vim, quem sou, porque estou aqui, e pra onde vou. Seja eu livre do poder das circunstâncias e descubra a verdadeira felicidade, a paz e a consolação. E se não for pedir demais, um pouco de saúde pra esse corpo mortal. Amém.