Por Julio Zamparetti
Quando Pedro disse que Jesus era o
Cristo, deu a Jesus a sua dimensão cósmica. Enquanto todos o comparavam a
profetas e líderes, Pedro o reconheceu como o Cristo, o Filho de Deus. Essa
dimensão crística de Jesus está muito além da dimensão existencial do Jesus
histórico, pois o Cristo é pré-existente. Ao afirmar que Jesus era o Cristo,
estava dizendo que ele era muito maior que sua breve história terrena; que não
era mera matéria, mas se tratava de um ser divino.
O Cristo já estava na criação de
todas as coisas, no verbo, vento, sobre as águas; estava presente nos profetas,
em Moisés, Maomé, Buda, Gandhi e outros; está presente em nós, no amor que
partilhamos, na caridade que praticamos.
Pensar em Cristo somente no âmbito do
Jesus histórico é tolher da fé o que de melhor a fé pode alcançar; é querer limitar
a abrangência do Reino de Deus aos limiares da religião cristã. Doutra sorte, confessar
que Jesus é o Cristo significa dizer que Cristo não cabe dentro do
cristianismo. Na verdade o que temos, hoje, por cristianismo deveria se chamar
jesuismo, porque se baseia unicamente no Jesus histórico - sua carne e sangue -
e não no Cristo cósmico ou univérsico - seu Espírito e Verdade. O cristianismo
quando baseado no Espírito e Verdade se desprende de suas teias dogmáticas e
passa a considerar todo aprendizado, amor e caridade vividos por todas as
pessoas de bem, sejam elas professantes ou não de qualquer religião. O cristão
que vive nessa perspectiva não se ocupa com acusações, apologias ou condenações às religiões ou pessoas que creem de outro modo. Pelo contrário, procura
aprender, amar e conviver em harmonia com o diferente.
Eu não acredito que Deus pudesse
entregar toda revelação de si a apenas uma religião. Não. Ele não seria tão
pequeno. Definitivamente, ele revelou um pouco, apenas um pouquinho, de si em
cada religião, cultura, povo, tribo e pessoa, para que possamos conhece-lo
mais, quando soubermos aprender uns com os outros.
A resposta de Pedro lhe rendeu dois bônus:
a edificação da igreja e as chaves do Reino dos céus. Igreja vem do termo ‘eklesius’
que significa ‘chamados para fora’, bem diferente do que temos por igreja nos
dias de hoje que, ao contrário, nos ‘chama para dentro’ de seu sistema e nos
fecha para o mundo. Reconhecer o Cristo é receber sobre si a edificação do ser
chamado para fora, libertar-se dos sistemas, ser livre, ser eterno, ser muito
mais que este corpo mortal. Para esses mesmos, também lhes são dadas as chaves
do Reino que lhes permitem promover a justiça onde só há injustiça, o amor onde
só há guerra, a alegria onde só há tristeza, possibilidades onde só há
limitações e a paz de espírito onde só há conflito.
Quem reconhece o Cristo cósmico e
nele crê torna-se semelhante a ele. Já não está mais limitado ao corpo, à condição
física, ao mundo material; ele é maior que isso tudo; é capaz de se superar diante
de qualquer dificuldade, não desiste jamais de seus sonhos, não para a beira do
caminho; tudo pode, tudo crê, tudo espera; descobriu Deus e a força de seu
amor.
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