terça-feira, 15 de março de 2011

CONTRA QUEM LUTAMOS (III) demônios feitos pela alma humana

Por Julio Zamparetti


Toda vez em que o Novo Testamento traz o termo “demônio”, o texto refere-se a doenças internas, nunca externas. Ou seja, refere-se às doenças psicológicas ou psicossomáticas, nunca às doenças físicas. Em resumo, aquilo que não se sabia o que era e de onde viera, qualificava-se como demônio. Por outro lado, quando Jesus curava um paralítico, Ele não estava mexendo na alma e sim no físico, esses casos não eram relatados como se houvesse expulsado demônio. Em tais casos Ele restaurava os nervos, ossos, tecidos, veias e artérias, enfim era um milagre físico, mesmo. Não há qualquer relação bíblica entre doenças físicas e demônios, isso porque os escritores dos evangelhos atribuíram aos demônios somente aquelas doenças que não entendiam, nem sabiam a causa.


No início dos anos oitenta meu pai começou a sofrer de ataques epiléticos. Naquela época (apesar de, relativamente, tão recente) os médicos nos disseram que não sabiam ao certo o que causava tais ataques, então, nós crentes, logo havíamos proferido o “diagnóstico”: Meu pai estava endemoninhado. O que nós não sabíamos, muito menos sabiam os evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João há quase dois mil anos atrás, ao relatarem sobre a cura do lunático (Mateus 17:18), é que aquilo que chamávamos de demônio, a medicina descobriu que é, a grosso termo, um curto circuito nos neurônios. Pobre de meu pai e tantas outras pessoas que, por conta de um problema neurológico, foram discriminadas como “possuídas por espíritos do inferno” e ainda tiveram que suportar os amigos de Jó fazerem os mais absurdos “diagnósticos” das causas de tal “possessão maligna”. E assim como a epilepsia, muitos outros males vão sendo desendemonizados à medida que se descobre a enfermidade e sua causa.


Flávio Joséfo, um historiador judeu que viveu no primeiro século, relata que o rei Salomão expulsava o demônio de uma pessoa pondo em seu nariz certa raiz que ao ser cheirada o demônio saía lançando a pessoa ao chão que levantava-se completamente calma e curada de tal mal1. Ele relata, inclusive, que tal pratica era usada ainda em seus dias, exatamente como fazia Salomão. O nome desta raiz eu não sei, mas o tipo de efeito que ela causava, sabemos bem. E se hoje cheirar raiz para se exorcizar é um programa de índio, muita gente das tribos urbanas busca o mesmo efeito cheirando, injetando, inalando, fumando, tomando calmantes, etc. Situação semelhante é relatada na Bíblia quando Saul, atormentado por um espírito maligno enviado de Deus, encontrava alívio no dedilhar da harpa de Davi. De fato poucas coisas da vida são tão exorcizantes quanto uma boa música suave.


Nesta obra identificaremos três grandes castas de demônios, até aqui, identificamos duas delas: uma feita por mãos humanas (ídolos), outra feita pela alma humana, da qual configuram-se os traumas, o ódio, o desejo de vingança, de morte, de prostituição e tantos outros males que por vezes alimentamos e fermentamos em nosso coração. Acredito que a esta última se referia, Jesus, ao dizer que esta casta demônios não sai senão com jejum e oração. Afinal, jejuar é dizer não à carne, abster-se da própria concupscência, aprendendo a dizer não aos desejos enganosos do coração, pois é do coração que procedem os maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias (Mt.15:19). Abstendo-nos do mal e entregando-nos a Cristo por meio de uma vida de oração nossos demônios são vencidos em nossa própria carne.


O mais interessante é que a maioria dos crentes busca atribuir aos demônios aquilo que o próprio Jesus atribuiu ao coração (alma) do homem. Com isso, quando alguém insiste em pôr a culpa de seus maus desígnios aos demônios, deveria primeiro, assumir ser ele mesmo o próprio demônio. Com certeza, esta é a pior casta de demônios que existe, porque assumir a culpa nunca foi o forte da humanidade. Do jardim do Édem até hoje, continuamos lançando nossa culpa sobre a serpente. Aliás, é necessário entendermos que assumir a nossa culpa, em caso de desejarmos a morte, é bem melhor que pôr a culpa no “exu caveira”, assumir a nossa culpa, em caso de cometermos adultério, é bem melhor que pôr a culpa na “pomba-gira”, enfim, assumir a nossa culpa, em caso de cometermos furtos, mentiras, bebedeiras, etc., é bem melhor que pôr a culpa nos “demônios”. Afinal, o que Cristo carregou na cruz foi a nossa culpa2. Se quisermos ter nossos pecados perdoados é necessário, em primeiro lugar, assumi-los.


______________________________________________________________________

1. Flávio Joséfo , História dos Hebreus. Trad. de Vicente Pedroso. Rio de Janeiro. CPAD, 1990. Pg. 200.

2. Isaías 53:4-6 – Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos”.

3 comentários:

  1. GRAÇA E PAZ Revdo Julio! Gosto imensamente de tudo que leio no seu Blog.Isso é verdade e tem afastado muita gente das igrejas.As pessoas não gostam de ser taxadas e apontadas por ser portador de determinadas doenças.Acupuntura tem tratamento para epilepticos entre outras enfermidades com agulhas e usa queimar uma erva chamada Artemísia (Moxabustão) que pode ser inalada ou depois de acesa esquentar levemente as agulhas para tratar vários tipos de doenças.
    As pessoas (crentes)deixam de usar este tipo de tratamento por dizer que isso é coisa do "demo".
    Acredito que tudo aquilo que vem para ajudar a humanidade vem de Deus.
    Continue escrevendo,não tenho muito tempo p respostar o que tenho lido,mas tem sido de grande prazer.

    ResponderExcluir
  2. Oi, Sandra! Obrigado por prestigiar este blog! Quanto ao seu comentário só tenho a dizer que infelizmente muitos pastores demonizam qualquer recurso e tratamento que não envolva uma oferta de sacrifício para a "obra de Deus".

    ResponderExcluir
  3. Parasbens pela Coragem , enquanto os " Profetas
    de Jeroboão " tomam Conta dos com Oferta de Sacri
    ficio , os sem " Grana " portadores de Bolsa Familia , Pobres , Mizeraveis , Sem Dizimos , So
    Têm os Profetas Natan dos Nossos Dias , Que Deus
    Lhe Abençõe

    ResponderExcluir