OS DEMÔNIOS
O termo demônio aparece exclusivamente no Novo Testamento. Isso graças à influência literária grega da época. Na Grécia, os demônios eram deuses de segunda categoria, filhos bastardos dos deuses que podiam ser bons ou maus. A eles eram atribuídos os traumas, as revoltas, as inspirações, os desejos e os desgostos da vida. Sócrates, por exemplo, atribuía toda inspiração do que falava a um demônio1. Para ele seus sofrimentos e desilusões o inspiravam a falar sem qualquer preocupação de agradar ou desagradar a quem fosse que o ouvisse. Afinal, é exatamente isso que nos faz refletir profundamente na busca por mudança e renovação.
Nenhuma reforma ou revolução teria acontecido na história se não houvesse, antes, um sentimento de revolta e insatisfação por parte dos reformadores ou revolucionários, nem eu estaria escrevendo este livro se não fosse a decepção quanto ao sistema político-religioso-teológico a que foi submetido o evangelho de Cristo por parte daqueles que em nome da fé pregam o evangelho do medo.
Você também, assim como eu, é levado a agir, pensar, falar ou escrever por sentimentos de indignação, sede de justiça, ou mesmo o conformismo e satisfação. Se Sócrates estivesse em nosso meio, com certeza diria que esses são demônios que nos inspiram. Isso porque em Atenas demônios não eram pintados com a mesma caricatura que os cristãos têm pintado ao longo dos séculos. Enquanto Sócrates atribuía sua sabedoria a um demônio (espécie de voz interior), Salomão atribuía a sabedoria às tristezas da alma2. Na verdade, nomes diferentes dados ao mesmo “boi”.
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1. Sócrates. Os Pensadores. Editora Nova Cultural. São Paulo, 2004. pg.25.
2. Eclesiastes 7:2-4 – “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração. Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração. O coração dos sábios está na casa do luto, mas o dos insensatos, na casa da alegria”.
Até a próxima terça...
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