segunda-feira, 16 de julho de 2012

DEUS NÃO TEM NADA A VER COM RELIGIÃO


Por Julio Zamparetti

É isso mesmo. A cada dia que passa estou mais convencido de que Deus não tem nada a ver com esse negócio de religião. A religião é invenção humana. Desde que o homem passou a ter alguma noção de que a vida pudesse ser algo mais do que essa simples existência, começou a formular ações que lhe provesse algum proveito no pós-morte. E záz... Surgiu a tal religião.

É por isso que todas as religiões vivem e sobrevivem em função da morte. Este é religioso porque quer reencarnar melhor, aquele segue aquela religião porque anseia uma recompensa eterna, o outro não abandona sua igreja porque tem medo de ir pro inferno, enquanto também há os que se tornam fiéis porque esperam, ao menos, ficar menos tempo no purgatório. Tire o medo do inferno e as ameaças do diabo e as religiões começam a ruir.

Não foi apenas no relato de Gênesis que a Torre de Babel foi construída. As religiões também são babilônicas. Vivem para alcançar a Deus, ou vivem para fazer de seu líder um deus, colocando-o no cume da torre. Tire as promessas de fama e prosperidade e as torres vem ao chão.

Você pode até achar que fama e prosperidade são motivos justos para se buscar uma religião. Na verdade, é exatamente por isso que a maioria das pessoas a busca. Mas se sua religiosidade serve apenas para ligar você aos seus próprios desejos, você continua só, não se religou a ninguém, muito menos a Deus.

O verdadeiro cristianismo é anti-religioso. Enquanto a religião nos propõe alcançarmos o céu, Cristo foi enfático ao afirmar que isso é impossível ao homem. Para que o homem seja salvo não lhe cabe alcançar o céu, mas pelo céu se deixar ser alcançado. Enquanto a religiosidade nos convoca a atos e rituais que nos favoreçam na morte, Cristo nos convoca a atos que em vida favoreçam o próximo.

"Reconcilia-te com teu adversário enquanto estão juntos no caminho", disse Jesus. É esse tempo de vida, de caminhada nesta terra, que nos cabe promover o Reino de Deus, pois o Reino do Pai não é próprio da  morte, mas da vida. Contrariando todo princípio religioso, Jesus manda interromper o ritual do sacrífício, pois sacrifício algum tem valor, se não sabemos viver primeiro o ministério da reconciliação, a espiritualidade da vida, que nos religa ao sofredor, ao faminto, ao necessitado, preso, ou marginalizado e até mesmo aos inimigos.

É bom termos consciência de que a religiosidade vertical é uma falácia, salvo no sentido Deus/homem. No sentido homem/Deus a religação só é possível quando buscamos Deus no próximo. Não há outra forma pela qual Deus deixe ser alcançado. Os ritos e sacramentos religiosos não podem nos levar a Deus. Segundo os próprios catecismos, eles são meios, e não fins, de graça. Meios pelos quais Deus vem a nós, a fim de que alcançados e fortalecidos por Ele, O alcancemos horizontalmente, isto é, na pessoa de quem está junto no caminho. Nesse aspecto, sim, teremos um verdadeiro religare. Não por acaso disse São Tiago: "A verdadeira religião pura e sem mácula é essa: que cuideis dos órfãos e das viúvas em suas necessidades, e cuideis de si mesmo para não se corromper com o mundo".

Então, ok. Existe, sim, um verdadeiro religare, uma verdadeira religião... Mas ela não é construída com tijolos. Ela simplesmente acontece nas ruas, orfanatos, hospitais, presídios, asilos, ou qualquer outro lugar onde alguém se dispõe a ajudar outro alguém.