segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

LEI OU LUZ?

Baseado em João 1.1-18 e Gálatas 3.23-25,4.4-7

Enfim, passou o Natal! Passou? Possivelmente! Infelizmente!

Depois de um período de preparativos dos presentes, da ceia e de um espírito geralmente hipócrita de filantropia que só aparece nesse tempo como se pobre só tivesse fome uma vez ao ano, a vida continua como sempre foi.

Os baladeiros alienados já traçam os planos para mais uma festa de virada de ano e um ano cheio de festas, outros pensam nas férias e cada um pensa em si deixando pra trás o Natal e todo espírito filantrópico que tão penosamente o envolveu. Diga-se de passagem, a filantropia do período natalino é, na verdade, não mais que uma forma de expurgarmos o incômodo que a pobreza e a miséria nos provocam em tempos de tanto consumismo. Talvez por isso Jesus, que foi tão pobre, esteja a cada ano que passa mais fora de moda para um mundo tão consumista e uma igreja tão cheia de “prosperidade”.

Mas enfim, o Natal passou e as festas que virão não terão nenhuma conotação religiosa, pelo que poderemos nos esbaldar sem que o sofrimento alheio nos atormente. Ano novo, carnaval, verão, sol, praia, muita festa e a vida “como o diabo gosta”.

E não dá pra esquecer dos mais religiosos, que depois desse período de amor e reflexão natalina, voltarão ao habitual legalismo, usando da mesma Escritura que ensina o amor para agora condenar o infrator.

Sabe o que é pior? Para a maioria das pessoas (e dizendo isso sou otimista) Jesus não fez diferença em seu advento. Pois sendo Cristo a luz, eles permanecem na lei. Até mesmo as atitudes filantrópicas do período natalino se tornaram leis, pois não são frutos de um espírito que clama Aba Pai, pois se assim fosse, frutificariam o ano todo, amariam a todo tempo e jamais condenariam quem carece de simples atenção e sincera amizade. Assim, estes apenas trocaram a Lei de Moisés por uma nova e estranha lei a qual, por pura ignorância, atribuíram ao evangelho de Jesus, mesmo que esta nova lei contrarie o que o próprio Jesus falou.

Uma igreja que joga pedras nos homossexuais, impõe proibições e obrigações, não tolera diferenças religiosas, não respeita a cultura nativa, discrimina os pobres e se preocupa tanto com as aparências, está vivendo sob a luz de Cristo, ou apenas mudou de lei?

Infelizmente o estudo apologético de nossos dias tornou-se um mero artifício sob o qual caminha a religiosidade meramente proselitista, que mais se preocupa em mostrar estar certa do que corrigir seus próprios erros; o poder das Escrituras foi restringido a exortação dos ouvintes, mas não a correção do palestrante; é largamente usada para retirada do cisco no olho alheio, mas impotente à trave do próprio olho. Neste ínterim, religiosos e alienados baladeiros, por mais diferentes que sejam, erram igualmente, e nem de longe se parecem com Cristo.

Se Cristo de fato nasceu em nós, e se de fato vivenciamos um verdadeiro Natal, é de se esperar que alguma coisa em nós mude. Não porque temos sobre nós novas obrigações e proibições, mas porque em nós brotou a luz do Espírito de Cristo que clama Aba Pai - Paizinho Querido -. Quem assim o chama em seu coração, quer bem a todos os filhos deste mesmo Pai; se irmana aos homens, à terra e ao cosmos; não necessita de leis, pois já tem a luz; faz a Sua vontade não por que O teme, mas porque O ama.

Sob a luz de Cristo, um feliz ano novo para todos, sem exclusões.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O EQUILÍBRIO

Nada é mais difícil de compreender, na caminhada espiritual, do que o equilíbrio. Isso porque o equilíbrio consiste da simetria de movimentos opostos, ou diferentes. A verdade é que não somos habituados a conviver com as diferenças. Normalmente queremos impor nosso ritmo, nossos hábitos, nosso gosto, nosso estilo de vida sobre aqueles que nos acompanham em nossa caminhada. Comumente excluímos aqueles que agem diferente da gente sem nos percebermos que, excluindo-os, estamos comprometendo o equilíbrio do corpo todo.

Sem diferença não há equilíbrio. Os braços são iguais, porém movimentam-se em sentidos opostos, seja para caminhar, abraçar ou pegar um objeto. Assim, compreendemos que mesmo sendo diferentes, fazemos parte de um mesmo corpo; que mesmo trabalhando em sentidos opostos, cooperamos para um mesmo fim.

Um advogado e um promotor desempenham papéis diferentes, trabalham em sentidos opostos, buscam interesses diferentes, mas juntos cooperam para um bem comum: a verdade dos fatos. Imagine um julgamento conduzido unicamente pela via de acusação, ou então, um julgamento em que o processo seja montado inteiramente de mecanismos de defesa. Que justiça poderia se esperar disso?

Essa é a razão pela qual o mundo cambaleia e as religiões manquejam. Os mecanismos de exclusão e isolamento provocam uma ferida em nossa sociedade, um apartait em nossa religiosidade.

O problema é que nosso senso de justiça e equilíbrio estão centrados em nosso ego, e queremos que todas as demais coisas girem em torno de nós. Nos esquecemos que o posto de Sol da Justiça já fora ocupado e pertence a Cristo. Neste sistema Cristo-solar sempre teremos astros semelhantes que estarão em órbitas diferentes, mas que são igualmente regidos pelo mesmo Astro-Rei. Portanto, na esfera espiritual, havemos de entender que ser regido por Cristo não significa exercer a mesma religiosidade, nem mesmo pensar uníssono, entre diferentes ou semelhantes cristãos.

De que outra forma seríamos exercitados em amor fraternal? A unidade do cristianismo verdadeiro e autêntico não se baseia nas semelhanças, mas sim no amor. Afinal, o amor encobre (não remove) multidão de diferenças, ou erros.

O sucesso de nossos relacionamentos não consiste em sermos parecidos. Os casamentos mais bem sucedidos não são aqueles em que os cônjuges mais se parecem um com o outro, seja intelectual, moral ou fisicamente. Nem são aqueles que removem as diferenças anulando-se ou anulando o outro. Os relacionamentos mais bem sucedidos são aqueles em que as diferenças (que, acreditem, sempre existem e persistem) submergem ante o amor.

Quero, neste livro, fazer um desafio semelhante ao que fiz em ‘O Cristianismo que os Cristãos Rejeitam’: Que tal alicerçar nossos relacionamentos no amor, e respeitarmos as diferenças? Que tal amar o hinduísta, o budista, o umbandista, o católico, o evangélico, o espírita, o ateu ou qualquer outro que não professe nossa mesma fé, mesmo sabendo que ele jamais a professará? Ou será que estamos destinados a morrer condicionando os relacionamentos à falsa sensação de que serão bem sucedidos quando estabelecidos entre iguais? Por acaso teria Cristo, amado somente os seus seguidores? Não amou, Deus, o mundo inteiro quando enviou Jesus?

Sob a bandeira de reis e reinos muitos conquistadores subjugaram nações, dominaram povos, aniquilaram inocentes, destruíram cidades, queimaram vilarejos, arrasaram civilizações, conquistaram mundos, enfraqueceram fortes e escravizaram fracos.

Hoje, sob a bandeira religiosa, os homens querem conquistar o mundo, dominar o povo, crescer em número, construir seu próprio reino, reinventar a igreja.

Esquecem-se que a igreja tem dois mil anos de caminho alternado entre erros e acertos que constitui um amplo aprendizado numa história que não se pode apagar. No que erraram, erramos nós. No que sofreram, sofremos nós. A sua história é nossa história. A sua glória, é nossa glória.

Já erramos muito ao longo da história. Nossas conquistas não melhoraram o mundo, nossas cruzadas não cristianizaram ninguém, nossas campanhas não estabeleceram o Reino de Deus. Isso porque nos esquecemos que o Reino de Deus não é homogêneo, não é composto de uma única tribo, não fala uma única língua, não é formado unicamente de patrícios, não tem uma única cultura, não privilegia alguns, não faz distinção de cor, raça, etnia, nem mesmo credo.

O mundo não precisa ser conquistado. O mundo precisa ser transformado. E a transformação só pode ser gerada pelo amor, ou seja, quando soubermos amar sem distinção, compreendendo que as diferenças proporcionam o equilíbrio necessário para se caminhar, então nossa luz resplandecerá e todos chegarão ao entendimento da graça e compreenderão o senhorio de Cristo.

Quando Cristo orou para que fôssemos aperfeiçoados na unidade, a fim de que o mundo o conhecesse e conhecesse seu amor (João 17:23), não se referia a sermos todos iguais. Referia-se a sermos um só corpo, composto de membros diferentes que agem em movimentos diferentes, mas que não se agridem, nem se matam, não se isolam, nem excluem. Ao contrario, caminham juntos, se condoem e se ajudam. Dessa forma, e só dessa forma, manifestaremos o Reino de Deus em sua multiforme graça e todos provarão do seu terno e eterno amor.


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Texto extraído de meu livro: ESPIRITUALIDADE DINÂMICA

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

ONDE TEMOS ERRADO?

Baseado em Isaías 35:1-10 e Mateus 11.2-11

Quando tratamos de escatologia (estudo das últimas coisas) sempre somos remetidos, ao menos tentados, a pensar em coisas que estão por vir e que estão fora de nossa realidade. A expressão “últimos dias” tem levado muitos a excluir do conceito escatológico os dias atuais, bem como os dias passados.

Nesse ínterim, muitas profecias referentes à primeira vinda de Cristo são conotadas, erroneamente, à sua segunda vinda, contando-se que toda transformação a ser executada nessa terra se dará por conta pessoal de Cristo, que virá, supõe-se, trazendo transformação instantânea de todo mal em benesse. O problema disso é que, com esse pensamento, a igreja se exime da responsabilidade de promover a salvação deste mundo, função que lhe é claramente atribuída pelas Escrituras Sagradas e especialmente por ninguém menos que o próprio Senhor Jesus. Muito se fala em salvação individual e o que as igrejas, em sua maioria, tem feito é “guiar” os fiéis aos crivos que lhe garantam um pedaço do céu e, claro, regalias na terra.

Com isso, a religiosidade mesquinha de nossos dias tem conduzido as pessoas a cada vez mais se preocuparem unicamente com seus próprios problemas, esquecendo-se dos problemas sociais, ambientais e culturais, isolando-se de tudo que de fato iluminaria a terra. Quando as igrejas manifestam alguma preocupação do tipo, o fazem pensando em impor sua cultura. Trata-se, na verdade, de um ato muito mais proselitista do que caridoso, pois o que fazem, fazem sem acreditar que o mundo possa ser transformado, senão por uma intervenção extraordinária, milagrosa e pessoal de Cristo, em razão de sua volta.

O que, de forma geral, tem se esquecido, ou não se quer crer, é que as transformações propostas nas páginas sagradas não dizem respeito a um futuro distante, mas sim a um passado presente; que os últimos dias descritos na Bíblia reportam-se à última aliança de Deus com os homens; e que tal aliança já se deu há dois mil anos, por meio de Cristo. Esta aliança é última porque é eterna e é a partir dela que todas as coisas são transformadas.

Deus não realizará a obra que destinou os homens a fazê-la. O tempo profetizado por Isaías, de dias sem choro, sem dor, em que cegos veriam, mudos falariam e coxos saltariam não diz respeito a uma nova aliança por vir, mas a nova aliança que veio. Quando Jesus mandou dizer a João Batista que os cegos enxergavam, os mudos falavam e até os mortos ressuscitavam, Jesus trouxe ao seu tempo presente a promessa que Isaías fizera ao futuro. Portanto, Cristo fez o futuro presente.

Para nós, não nos cabe crer que o futuro nos reserva o melhor, mas que o melhor está oculto no presente a espreita de que o revelemos. Se ainda choramos e sofremos em meio a maldade humana, possivelmente ainda não descobrimos o poder da mensagem de Cristo. Talvez tenhamos andado em direção errada, tão preocupados com os dogmas, as exegeses e as regras de hermenêutica; brigando, discutindo e criando cismas em função das concepções escatológicas, eclesiológicas e cristológicas, enquanto tudo o que Jesus ensinou foi amar. Que fruto haverá das orações por paz no mundo se nem entre os que oram existe paz? Atrevo-me a dizer que se soubéssemos amar não precisaríamos da Bíblia. Em contraponto, a mesma Bíblia que compila a maior história de amor que a humanidade pode ter conhecimento, é motivo de discórdia e desamor entre os que a divulgam. Alguma coisa está muito errada!

Segundo Isaías, no “caminho de santidade”, ímpios não entrariam, mas até tolos trilhariam por ele sem errar. Como então tantos teólogos, mestres, lideres religiosos e nós que somos tão sabidos temos errado tanto?

Se eu lhe parecer tolo, já nem me importo. Mas pela primeira vez em minha vida reescreverei a frase de Martinho Lutero que até aqui tanto defendi e a utilizei em palestras, estudos e homilias.

Frase original: "Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida, como para o que há de vir."

Frase reescrita: Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom do amor, que me da instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida, como para o que há de vir. Pois sem amor, que serventia tem as Escrituras Sagradas e todo conhecimento que ao homem possa ser dado?

Se eu estiver pecando nesse meu critério, que assim seja, pois prefiro pecar por amor, a “acertar” sem amar. “Porque o amor cobre multidão de pecados” (I Pedro 4.8b).

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

SACRIFÍCIO VIVO

“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Romanos 12:1).

Os Sacrifícios de sangue remontam as mais antigas civilizações. Muito antes dos hebreus, civilizações antigas sacrificavam animais e até crianças com a intenção de aplacar a ira dos deuses.

Quando as coisas não iam bem, a colheita era fraca, a caça escassa, a chuva era pouca, os terremotos intensos, a guerra iminente, ou por ocasiões de pestes e moléstia, sacrificavam aos deuses a fim de obter misericórdia e ajuda.

Era comum ter rituais, animais e deuses específicos para os sacrifícios, conforme o tipo de mal a ser vencido. O sacrifício de crianças era a maior oferta possível a se dar a um deus. Reservado, portanto, aos deuses mais poderosos diante dos problemas mais sérios. Se o sacrifício de uma criança ou de uma moça virgem (por causa da pureza) não aplacasse a ira dos deuses e o tormento não cessasse, não haveria mais o que fazer, não havia oferta mais agradável aos deuses.

Assim, o costume adentrou à civilização fenícia, primos distantes dos hebreus, e mais tarde até os hebreus cometeram o mesmo sacrilégio (vd. Jeremias 7:31).

Não fica difícil entender porque Abraão não relutou ao pedido que Deus lhe fez para que sacrificasse seu filho Isaque. Afinal, essa prática era comum e recente no histórico de sua linhagem. Não obstante, era um orgulho para um pai entregar seu filho ou filha para ser sacrificado aos deuses. Quanto maior seria, o orgulho, sacrificar ao Deus Eterno!

Não quero desmerecer Abraão, mas qual pai em são juízo, nos dias de hoje, faria o mesmo? Eu, que não posso ser hipócrita, confesso: jamais faria isso! No entanto, se eu vivesse naquela época, certamente o faria com o maior orgulho! Afinal, para a época, ser escolhido para tal honra era sinal de pureza e dignidade.

Não se pode interpretar a Bíblia sem avaliar o contexto histórico, social e cultural da época em que foi escrita.

Sei que muitos não gostarão desta maneira de encarar o sacrifício de Abraão, afinal, este é o texto predileto de muitos líderes religiosos para induzirem suas pobres ovelhas a “sacrificarem” na salva ou gazofilácio o “seu Isaque”, isto é, a cédula de maior valor que estiver na carteira ou o bem que mais ama, seja sua casa ou carro.

O fato é que Deus jamais quis qualquer sacrifício. O pedido feito a Abraão não serviu para Deus saber que Abraão o amava, pois Deus já sabia disto antes mesmo que o próprio Abraão o soubesse. Na verdade, o episódio serviu para mostrar a Abraão que Deus sabia de seu amor e isso era tudo que Deus queria dele. Amor sim, sacrifício não. Deus não se agrada de sacrifícios e como prova disto proveu um cordeiro, prefigurando Jesus, o cordeiro de Deus, que faria o sacrifício único e perfeito de uma vez por todas afim de cessar o sacrifício.

Quanto a Moisés, Deus jamais ordenou algum sacrifício. O que Moisés fez foi regulamentar aquilo que já existia. Para aquele povo, só os sacrifícios poderiam favorecê-los diante de Deus. Era assim que criam. Era-lhes necessário ser feito um sacrifício maior do que o que eles podiam fazer, para que compreendessem o favor de Deus.

Então, Moisés destituiu os sacrifícios humanos e instituiu sacrifícios que prefigurassem Cristo, o Filho de Deus. Cada sacrifício de cordeiro, ou novilho, ou pomba tornou-se uma manifestação de fé de que o Filho de Deus seria sacrificado em favor dos homens para expiar os pecados e satisfazer a justiça divina. Desde então, o povo que cria na vinda do Messias não mais sacrificaria seus filhos, pois nenhum homem teria um filho que fosse mais puro que o Filho de Deus para ser sacrificado.

Como previa o profeta Daniel, Jesus faria cessar o sacrifício. Foi Ele último sacrifício de sangue oferecido a Deus. Nenhum outro corpo seria oferecido a Deus com morte, mas somente com vida. Não haveria mais sacrifícios mortos, mas somente sacrifícios vivos. O auge do culto a Deus não seria mais a morte, mas sim a vida e o raciocínio, constituindo um culto racional.

Há, ainda hoje, um sério resquício “primitivo” que nos faz pensar que só se alcança o favor de Deus por meio de sacrifícios. Pensa-se que Deus só manifesta do seu amor a quem merece, esquecendo-se que o amor de Deus é incondicional e quem não o merece é quem mais precisa. Pensa-se que se pode comprar o favor de Deus com “ofertas de sacrifício” como se fosse possível oferecer a Deus algo que Ele não seja dono. Pensa-se em dar o melhor sacrifício, como se o melhor já não tivesse sido ofertado na cruz do Calvário.

Jejuns, campanhas, velas, procissões, têm sido usados como meio de auto-aflição e devoção para comover o coração de Deus e mover as suas mãos. Como se Deus se agradasse disso! Como se o sacrifício de Jesus fosse insuficiente!

O que Deus espera de nós é um sacrifício vivo, racional, de quem compreende a mensagem de Cristo e faz dela seu viver.

“Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo? Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desabrigados, e, se vires o nu, o cubras, e não te escondas do teu semelhante?” (Isaias 58:6-7 - NTLH).

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Mensagem extraída do livro 'O Cristianismo que os Cristãos rejeitam' de autoria do mesmo autor deste blog.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

NATAL, PRA QUEM?

Iniciamos mais um período do advento e uma reflexão se faz necessária: sendo o advento um período de preparação para o Natal, que Natal estamos preparando?

Os pais começam a pensar na Ceia de Natal e a festas de ano novo, as crianças pensam nos presentes, o comércio pensa nos lucros, os empregados no décimo terceiro salário, algumas famílias começam a se preparar para as viagens e outras já começaram a limpeza da casa na praia. Enfim, o roteiro começa em Dezembro e só terá fim após o carnaval, quando tudo, ao que se supõe, volta ao normal.

Seja em período normal ou festivo, a verdade é que os planos de nobres e plebeus estão centrados no bem estar pessoal. Paz, saúde e prosperidade é tudo o que se espera, ficando de lado a partilha, a solidariedade e amor ao próximo. O brilho que estampa a tela da TV esconde a realidade dos pobres e miseráveis, a luz que irradia dos fogos de artifício nos faz pensar que está tudo bem, que todos são felizes, e o espírito do qual somos envolvidos anestesia a nossa mente fazendo-nos esquecer o que é o Natal.

Nesses dias o mundo parece um imenso salão onde se monta uma grandiosa festa de aniversário na qual o aniversariante não é convidado. Tudo porque, como em qualquer outra festa, ninguém quer pensar em quem sofre. Afinal, se pressupõe que as festas sirvam justamente para fazer esquecer os problemas. Eis aí o verdadeiro problema! Natal sem a inclusão do pobre, do preso, do que não tem o que comer e vestir, nem lugar para dormir, é um Natal que exclui Jesus Cristo, o aniversariante, e portanto, não é Natal.

Diferente de outras festas, o verdadeiro Natal traz reflexão. Daí a importância do período litúrgico que estamos vivendo. Para quem tem fartura, o Natal é a festa do encontro com Cristo que vem na pessoa do faminto, enquanto para quem tem fome, o Natal é a festa do encontro com Cristo que vem na Boa Nova das mãos que se estendem para lhe ajudar.

Observando isso e vivendo assim todos dias, não somente descobriremos a felicidade do Natal ao findar do ano, mas felizes seremos por toda vida.

Para um feliz natal, faça boas reflexões durante o período do advento e boas ações durante o ano todo.

Ora vem Senhor Jesus!

sábado, 27 de novembro de 2010

A PAZ QUE SÓ CRISTO DÁ

Por José Fernandes

Minuto de Reflexão

“Referi-vos essas coisas para que tenhais a paz em mim. No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16,33).

A fé não é certeza humana, segura. Ela nunca elimina completamente a dúvida, a obscuridade. É posta continuamente em discussão e à prova. Depois das palavras de Jesus, os apóstolos achavam que doravante todos os seus problemas estariam superados. Tudo agora é claro a seus olhos. Em seu entusiasmo há algo de infantil e humano: o orgulho de seguirem um homem extraordinário que tudo sabe. É interessante que há momentos que não queremos mais continuar, desanimamos por completo, queremos desistir e deixar que o desespero siga seu caminho destruidor. E, se olharmos minuciosamente, isso acontece com ricos que são tentados a se desesperar diante de diversas situações. Já ouvi gente com muito dinheiro dizer: não sou feliz, minha vida não tem sentido, não tenho um minuto de paz, não posso andar sossegado, tenho que sair sempre escoltado, andar em carro blindado. Isso é vida?

As pessoas vivem momentos como a esposa que abandona o marido, o filho que sai de casa, o marido que abandona a esposa, a menina que decepciona seus pais. É o emprego que não vem, a solução do problema que não acontece, os sonhos que se vão, algumas esperanças acabam e todas as aspirações acabam se desfazendo dentro de nós. Mas é exatamente na sua glória que Jesus pode nos amar e realmente ama a cada um de nós, de tal maneira que somos mais nós mesmos. Isso acontece quando nos damos a Ele recebendo sua paz eterna, quando depositamos todos os dilemas e frustrações da vida na sua presença, porque nele, por ele, nunca nos sentiremos sozinhos, mas teremos graça sobre graça. Teremos a graça no meio da tribulação, da dor e em qualquer dificuldade da vida.

Temos a paz de Cristo, paz que nos ajuda a viver pela graça dele e, assim, vencer o mundo em todos os momentos da vida. O fato de termos esta promessa da paz de Cristo nos ajuda a não nos preocupar com a falta da certeza a respeito da própria vida. Pela graça, temos a condição de vencer o mundo em todos os sentidos. Vivemos em paz sabendo que tal é a vida das pessoas de Deus, que Jesus pôde nos garantir quando foi conduzido à cruz do calvário por nós. Esta paz nos ampara por meio daquele que disse que nenhum fio de cabelo da nossa cabeça pereceria sem ser vontade dele. E ele diz: “os próprios cabelos de vossa cabeça foram todos contados”.

Pense nisso. Tenha uma ótima semana e... Fique com Deus!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O BURRICO E O REI

Quem pode negar que o Mestre sempre está certo? Foi Ele quem disse a Pedro para pescar um peixe e dentro do peixe haveria uma moeda para que eles pagassem seus tributos; Pedro assim o fez, pescou um peixe e lá estava a moeda predita. Noutra feita, disse para seus discípulos prepararem a páscoa, e para isso deveriam seguir um homem que estaria carregando um cântaro; tudo aconteceu exatamente como o Mestre havia dito. Também a Pedro disse: “Três vezes me negarás, antes que o galo cante”. “De maneira alguma, Senhor” – respondeu Pedro – “jamais te negarei”. Ao cantar do galo, para infelicidade de Pedro, Cristo havia acertado de novo.

Muitas vezes é difícil para nós entendermos os ensinamentos de Cristo, pois nem sempre nos parece ter lógica! Você sabe: “é dando que se recebe”, “quem perde a vida... esse a ganha”, “quem quer ser grande seja o menor” e assim vai. O duro é que por mais que relutemos, no fim sempre acabamos tendo que admitir: O Mestre estava certo!

“Vão até o povoado ali adiante. Logo que vocês entrarem lá, encontrarão preso um jumentinho que ainda não foi montado. Desamarrem o animal e o tragam aqui. Se alguém perguntar por que vocês estão fazendo isso, digam que o Mestre precisa dele” (Lucas 19:30-31 NTLH).

O Mestre sempre está certo! Lá estava o dito burrico! Mas tinha dono. Claro que o Mestre sabia disso, por isso, já alertara aos discípulos para quando fossem interrogados, respondessem que o Mestre precisava do jumentinho. Depois que essa predição também se cumpriu, nenhuma outra pergunta se fez. Mesmo sem entender nada, os donos do burrico (zero Km) se aquietaram.

Logo adiante, podemos ler, nas Escrituras, o Mestre entrando triunfalmente em Jerusalém, como Rei, assentado no jumento. E diziam todos: “Bendito é o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas maiores alturas!” (Lucas 19.38 RA).

Difícil mesmo é nos desapegarmos dos burricos de nossa vida. Aprisionamo-nos aos bens materiais, casas, carros, como se isso fosse o que há de melhor nesta vida. Apegamo-nos às nossas filosofias, teologias e razões para nos firmarmos acima daqueles a quem, embora discordemos, deveríamos ter ao nosso lado, caminhando juntos no amor de Cristo que supera todas as diferenças. Que teologia é essa que tem criado diversas barreiras entre nós e nos impede de amarmos uns aos outros? Não caminha essa teologia no rumo oposto ao que o próprio Cristo ensinou?

Rezamos para que venha a nós o Reino do Pai Nosso que está no céu, mas negamo-nos a nos desapegarmos de nossos burricos. Pois nos parece mais certo provar que estamos certos do que agirmos de forma certa. Teses são elaboradas sobre o amor de Deus, mas pouco ou nada sabemos sobre como amar com o amor divino. É como ficarmos discutindo o porquê dos outros passarem fome enquanto estamos fartos, sem nos darmos conta de que eles padecem, exatamente, por que nós discutimos enquanto deveríamos estar repartindo.

Deixe o burrico pra lá. Aquiete-se diante do que você não consegue entender, deixe pra lá o que te adoece e consome tua paz, arrisque-se em amar, surpreenda-se em se doar, confie em Deus e deixe-O cuidar de tudo. Só assim veremos o Rei entrar pelas portas de nossa vida, de nossa comunidade, de nossa família e nossas amizades, dando sentido à nossa existência e nos fazendo usufruir o que há de melhor nessa vida: o sorriso inocente, o abraço fraterno, o elogio sincero, o choro sem fingimento, coisas simples da vida, que só tem quem sabe desapegar-se da própria vida, para receber a vida que a Vida tem para dar.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

QUEM NÃO TEM PECADO...

Tenho defendido, há algum tempo, que os homossexuais sejam incluídos ao convívio social e eclesial, sendo amados e aceitos exatamente como são. Sei que minha postura poderá gerar repulsa por parte dos mais moralistas, que acham que os homossexuais só podem ser aceitos mediante uma “mudança de hábito”. Entretanto, quero lembrar-lhes que o chamado de Cristo é universal e diz: “venha como estás”.

Não! De forma alguma quero fazer apologia à promiscuidade. Já antecipo isso, porque sempre que o assunto é homossexualidade, logo o tema é relacionado à vida promíscua, como se os termos fossem sinônimos, ou como se heterossexuais não pudessem ser depravados e os homossexuais fossem sempre promíscuos.

O fato é que não se pode exigir de quem queira se achegar a Cristo, nada que o próprio Cristo não tenha exigido. E a verdade é que Ele nada exige de ninguém senão o amor; amor incondicional. Entenda-se que é o contato com o amor de Cristo que nos muda, e não a nossa mudança que contata o amor Cristo.

Se alguma mudança haverá de acontecer, isso será por obra do Espírito Santo, e não por imposição humana. Ainda assim, se a tal mudança não ocorrer, é bem certo que o mesmo Espírito esteja operando com maior intensidade, a fim de nos ensinar a amar incondicionalmente. Pois, ao que parece, é necessária uma força muito maior do Espírito Santo para quebrar nosso preconceito, do que a força necessária para mudar a orientação sexual de alguém. Portanto, antes de ter fé de que Jesus possa transformar o homossexual, é preciso ter muito mais fé para aprendermos a amar como Cristo amou. Enquanto isso, os mais carentes de mudança somos nós, não eles. Pois nosso preconceito e ação excludente são muito mais nocivos que o homossexualismo.

Não quero com isso fazer vista grossa a ponto de dizer que o relacionamento homoafetivo não é pecado. Vejo essa questão sob o mesmo prisma que vejo o divórcio. Ambos são frutos de nossa natureza pecaminosa. Mas quem disse que para alguém se aproximar de Cristo não pode ser pecador? E quem tem o direito de impedir que alguém se aproxime dAquele que de todos se aproximou? Ora, se pecadores não podem se aproximar de Cristo, nem comungar entre seus irmãos, então ninguém pode fazê-lo. Mas se a graça de Deus basta, todos podem se achegar a Ele, pois Deus pode até se negar de remover o espinho na carne, mas jamais nega a sua graça a quem clamar misericórdia.

Nosso problema é fazer diferenciação entre pecado e pecado, como se esse fosse menos ou mais pecaminoso que aquele. É importante que entendamos que pecado é pecado indiferentemente da ocasião. Por isso ninguém é melhor que ninguém. Diferentes são, tão somente, as consequências, que por sinal, são muito piores quando se trata de pedofilia, estupro, adultério, assédio sexual, pornografia, promiscuidade, prostituição, corrupção, desvio de verbas, uso da máquina pública, exclusão social, repressão política, venda de votos, racismo, comércio da fé, exploração religiosa, promessas em nome de Deus, sonegação fiscal, enriquecimento ilícito, pirataria, descaso ambiental, desperdício de água e degradação dos recursos naturais. A menos que esteja relacionado a algum destes pecados, a homossexualidade não traz consequências maiores que qualquer um destes traz.

Mas então porque as igrejas sabem, tão bem, incluir no seu convívio, políticos corruptos, empresários exploradores, comerciantes desonestos, pregadores dinheiristas, tarados, vendedores de produtos piratas, sonegadores, mentirosos grandes ou pequenos, comilões, sovinas, etc? O que faz essa casta ser muito mais aceitável que os homossexuais, dentre os quais há muita gente honesta, discreta, fiel e amável? Na verdade as igrejas aceitam e incluem todo e qualquer pecador, até mesmo o homossexual, desde que seu pecado não se torne visível. Sabe acolher a menina desvirginada com vida sexual ativa com muitos parceiros, desde que ninguém saiba e que não fique grávida; sabe acolher o marido covarde que agride sua mulher, conquanto ela não o denuncie; também sabe acolher o sonegador, desde que seu dízimo seja “uma bênção”. Não tenho dúvida, este é um tempo de igrejas hipócritas, mais pecadoras do que aqueles a quem elas condenam.

Que Deus nos ajude! Não sou dono da verdade, portanto, posso estar errado. Se for o caso, fiquem a vontade, e quem não tem pecado apedreje a quem quiser.

Sei que o assunto é complexo e não tenho pretensão de, neste espaço, concluir esse pensamento, nem formular uma posição concreta. Mas deixo o tema aberto, para conversarmos, comentarmos e refletirmos juntos sobre o assunto. A casa é sua.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

SABER AMAR, SABER VIVER

Por José Fernandes

Minuto de Reflexão

“Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo 15,12).

Saudade dos velhos tempos. Quem já passou dos trinta, como é o meu caso, deve lembrar-se com saudade de três ou quatro décadas atrás, recordar e perceber como os tempos mudaram. A família comia junto, sentavam-se a mesa, faziam a oração juntos e juntos tomavam a refeição, mesmo que fosse simples tudo era com união e muito amor. O pai voltava do trabalho, mesmo cansado, tirava o tempo para conversar com a família. Todos tinham o hábito de se reunirem para botar as fofocas em dia. Nos finais de semana os pais iam com as crianças para a igreja, comiam e desfrutavam o dia todo em comunhão com ela. Na semana, havia os cultos domésticos e ainda tempo para conversar. Os g rupos se reuniam, a Igreja vivia unida nas ações e respirava a comunhão de uma maneira muito eficaz.

Agora, com a realidade da cidade, tudo ganhou um sistema novo e os espaços diminuíram. Os campos industriais aumentam, a vizinhança dá espaço não para gente e, sim, para as máquinas. Os vizinhos não se falam mais, se ignoram. Cada um começa a lutar pelos seus ideais. O tempo de estar junto começa a ficar pequeno e escasso. O pai precisa buscar uma oportunidade melhor, começa a estudar e a se desenvolver melhor por causa da concorrência. A comunidade da rua passa a não existir mais. Moram no mesmo bairro, mesma rua, mesmo edifício, mesmo andar e ninguém conhece ninguém. Quando se programa uma reunião de família, entre dez convidadas aparece duas ou três, isso quando a anfitriã não fica sozinha e o que é pior, muitas vezes incompleta.

A solidão ocupa o espaço do coração das pessoas, a depressão começa a chegar porque a espo sa perde o seu marido para a empresa. Os filhos entram em crise porque são educados e acompanhados pelas babás eletrônicas que invadem as salas das nossas casas. A comunidade tem agora um negócio chamado competição.

Mesmo diante de todas essas situações, o Senhor quer que compartilhemos o discipulado do amor entre nós. Temos que nos amar como Jesus nos amou. Não podemos nos unir pelos ideais do presente século que são: consumo, projeção pessoal e individualismo total. A nossa meta é amar o outro e se dar por ele como Cristo fez por nós.

Pense nisso. Tenha uma ótima semana e... Fique com Deus!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

PARA QUE VALE A TUA FÉ?

“Vós dizeis: Inútil é servir a Deus; que nos aproveitou termos cuidado em guardar os seus preceitos e em andar de luto diante do SENHOR dos Exércitos? Ora, pois, nós reputamos por felizes os soberbos; também os que cometem impiedade prosperam, sim, eles tentam ao SENHOR e escapam” (Malaquias 3.14-15).

Fico me perguntando: como pode um ímpio prosperar mais que um justo? Para ser honesto, nunca vi isso acontecer! Pois é impossível um ímpio estar à frente do justo, uma vez que eles não trilham o mesmo caminho.

Vamos tentar entender. Sabe aquele alemão, oito vezes campeão da fórmula 1? Pois é! Pasmem, mas eu garanto, ele jamais me venceu no kart, e duvido que um dia me vença, ainda que ele vença todas as corridas em que participar. Pois eu, certamente, nunca competirei com ele.

O que quero dizer é que do mesmo modo como não corro nas mesmas pistas onde compete Schumacher, também o justo jamais anda no mesmo caminho do ímpio. Ou seja, não há parâmetro para fazer qualquer comparação entre um e outro. Afinal, o que para um é um tesouro, para outro não passa de excremento.

A única forma de um justo ver o ímpio a sua frente é trilhar o mesmo caminho dele. Era exatamente isso que aconteceu a Israel, que, pelo que vemos no versículo acima citado, em vez de focar as coisas eternas, limitou-se a olhar as coisas passageiras. Nessa hora, o povo de Israel viu os ímpios sendo muito mais prósperos.

Qualquer semelhança não é mera coincidência. Essa imagem de Israel é o retrato da igreja de hoje. Uma igreja que não tem seus olhos em Cristo, nem seu coração nos bens eternos, e por isso, constantemente, empenha toda sua fé em desejos egocêntricos, fúteis e passageiros. Uma igreja que se diz cristã, mas abandonou o caminho de Cristo, porque um Cristo pobre, que anda com os humildes, come com pecadores, abraça os leprosos e ainda se doa sem nada querer em troca, ninguém quer seguir, mesmo que seja este o caminho da eternidade e de um mundo melhor!

A moda agora é o caminho largo, “só vitória”, “vai dar tudo certo”, “não mais choro”, “não mais sofrimento”, “ser o primo pobre nunca mais”, “ser de Jesus é ter carro novo”, “casa nova” e “quem não tiver que faça uso de sua fé”. Quanto engano!

Se esse é o caminho que a tua fé almeja, nem te preocupes se vais ou não vais alcançar o que procuras. Já estás no caminho errado, mesmo! Com dinheiro ou na miséria, serás o mesmo miserável.

Porém se teu caminho é Cristo e nEle buscas os valores eternos, mesmo que sejas rico ou pobre, serás sempre bem sucedido, alcançaste caráter, dignidade, podes andar de cabeça erguida e dizer: “Conheço a Deus e sou dele conhecido e amado”. Só os verdadeiros filhos de Deus têm essa prosperidade!

E aos loucos que fazem das coisas passageiras o seu tesouro, aguardem. Pois dos ornamentos, pedras preciosas e ricas dádivas que juntarem não levarão nada, e “não ficará pedra sobre pedra”.

E tu? Onde está o teu tesouro? Que caminho tens percorrido? Para que vale a tua fé?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

DEIXE PRA LÁ

Por Carlos Moreira


Se não deu certo, seja por que razão for, deixe pra lá...

Se você passou dos quarenta, não conseguiu o que queria, lamenta-se pelo que não viveu, sofre pelo que ainda há por vir, deixe pra lá...

Se você faliu, perdeu dinheiro num negócio, ficou desempregado ou construiu algo que não deu certo, deixe pra lá...

Se você se apaixonou por alguém, entregou-se de coração, se sonhou, fez planos, alimentou expectativas, e nada se concretizou, deixe pra lá...

Se você foi desprezado, ou desacreditado, se foi humilhado ou mesmo substituído sem explicação ou justificativas, deixe pra lá...

Se te julgaram medíocre, ou se você foi taxado abaixo da média, se as portas se fecharam ou se foi vítima de preconceitos, deixe pra lá...

Se você sentiu-se traído, se foi enganado, se já teve a experiência de ser passado para trás ou se os que se sentavam a sua mesa te abandonaram, deixe pra lá...

Se você sonhou com coisas impossíveis, se fez planos irrealizáveis, se constatou que é só um rosto na multidão, que apenas habita a vala dos comuns, deixe pra lá...

Se você empreendeu algo, se gastou sangue, suor, lágrimas, se foi parte essencial para colocar uma coisa de pé e, depois de tudo, foi esquecido, desprezado, posto ao lado, deixe pra lá...

Se você se esforçou, se estudou, se trabalhou duro ou mesmo foi ao extremo de suas forças e, ainda assim, não conseguiu o que queria, deixe pra lá...

Se num determinado momento lhe faltarem amigos, lhe faltarem motivos, lhe sobrarem perigos, fique tranqüilo, respire fundo e deixe pra lá...

Se seu chão desapareceu, suas convicções se dissolveram, suas certezas ruíram, seu racionalismo falhou e seu pragmatismo lhe abandonou na hora “H”, deixe está, deixe pra lá...

Se você se deu, mas não foi desejado, se amou, mas não foi amado, se serviu, mas não foi lembrado, se caiu, e não foi ajudado, se gemeu, mas não foi consolado, deixe pra lá...

Se o que você é te incomoda, se o que foi te apavora e se o que poderá vir a ser te frustra, deixe pra lá...

Se a fé te faltou, se o milagre falhou, se a igreja decepcionou ou o sacerdote se equivocou, não te admires, isto é muito normal, deixe pra lá...

Não se torne cético e também não seja cínico, não se encha de confiança, mas nunca perca a esperança, não abandone aquilo que persegue – insista, e nem se dê por vencido ao cair – não desista, creia duvidando, ame desconfiando, vá aos extremos, contradiga-se, decepcione-se, deprima-se, seja gente, siga em frente, assuma seus erros, seja grande, aborreça-se de vez em quando, chore um pouco, ria do absurdo, aprenda com seus erros, dê significado a suas derrotas, mas, quando tudo isto te for impossível de fazer, dou-te um excelente conselho,

Deixe pra lá...


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Fonte: http://www.hermesfernandes.com/2010/11/deixe-pra-la.html

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A MAIOR OFERTA II

Por José Fernandes

Minuto de Reflexão

“Então Jesus chamou os discípulos e disse-lhes: «Eu vos garanto: esta viúva pobre depositou mais do que todos os outros que deitaram moedas no Tesouro. (Mc 12,43)”.

Entre as inúmeras motivações que encontramos nos dias de hoje para o seguimento de Jesus, uma delas é a busca de privilégios. Isso não é uma coisa nova. Basta, para nós, a memória dos filhos de Zebedeu, que queriam sentar-se à direita e à esquerda de Jesus na sua glória. De fato, a religião pode tornar-se fonte de privilégios para muitas pessoas, principalmente numa sociedade religiosa e hierarquizada como a nossa. Não é essa a vontade de Jesus para os seus seguidores, pois Jesus não quis privilégios nem mesmo para si próprio. Ele quer de nós a disponibilidade e a entrega de vida, a exemplo da viúva que, com a única moeda que não seria valorizada por ninguém, deu o maior exemplo de total entrega.

É salutar prestar bem atenção a este episódio. Há tantos que não ousam fazer ou dar qualquer coisa, por medo da insignificância de sua contribuição, de seu dom. Deus, porém, não julga com aferição externa, mas olha o íntimo do doador. Jesus opõe-se vigorosamente à hipocrisia, ao cálculo, à injustiça, à vaidade, ao orgulho, e exalta a sinceridade, a generosidade, a justiça, a pobreza, o desinteresse, a humildade, o desprendimento. Uma pobre viúva, dá duas moedinhas, e dá mais do que todos, porque dá tudo o que tem, dá de si mesma. Custa muito dar mesmo pouco, quando esse pouco é tudo o que se tem, e o que custa tem valor. Dar o supérfluo, o que sobra, o que não faz falta, o que não tira nossas comodidades e prazeres, que valor verdadeiramente humano pode ter?

Pense nisso. Tenha um ótimo final de semana e... Fique com Deus!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

SANTA TRADIÇÃO E ESCRITURA SAGRADA

“Assim, pois, irmãos, permanecei firmes e guardai as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa” (2 Tessalonicenses 2:15).

A tensão criada em torno das Escrituras e a Tradição, embora descabida, é notória. De um lado aqueles que defendem que todo aprendizado teológico deve ser proveniente somente “da Palavra”. De outro lado aqueles que, firmados na tradição, não demonstram preocupação alguma em fundamentar sua fé nas Escrituras.

Mais uma vez, em busca da verdade, mencionamos o ditado latino: virtus in médio (a virtude está no meio).

No tempo do apóstolo Paulo, a igreja tinha três fontes de revelação: a Escritura (até então formada apenas pelo Antigo Testamento), as cartas (dentre as quais, mais tarde, veio a formar-se o Novo Testamento) e a tradição oral (conhecimento transmitido no convívio). Foi por meio da Santa Tradição Apostólica que, no concílio de Nicéia, no século IV, os livros do Novo Testamento foram definidos como os temos hoje.

Considerando isso, aqueles que ignoram o valor da tradição, colocam em dúvida a própria Escritura, pois se quem institui não tem valor, que valor terá o instituído? Em outras palavras, como podemos confiar que os livros bíblicos são inspirados pelo Espírito Santo se Deus não houvesse, pelo mesmo Espírito, inspirado aqueles que pela tradição definiram quais livros são inspirados? Logo, não se pode negar o valor da tradição que atestou a veracidade das Escrituras.

Por sua vez, a Tradição não pode contradizer as Escrituras, pois contradizê-la seria contradizer a si mesmo. A Tradição não pode dizer algo contra a Escritura a qual atestou ser inspirada por Deus. Assim, toda tradição que contradiz a Escritura, por mais bela que se demonstre, não é santa, nem é apostólica; é apenas tradição humana e pecaminosa. Esta sim, devemos combatê-la, tal qual o próprio Cristo Fez.

Portanto, negar a Santa Tradição Apostólica é contradizer a Escritura Sagrada, já que a própria Escritura atesta o valor da Tradição. Da mesma forma, negar a Escritura Sagrada é contradizer a Santa Tradição, uma vez que por esta o cânon sagrado foi definido.

A Escritura Sagrada é Revelação de Deus ao homem, mas não se pode negar que Deus é maior que a própria Escritura. Assim entendemos que a Bíblia não comportaria toda revelação de Deus, nem o relato de tudo o que Deus fez. Disso a própria Bíblia afirma que não haveria lugar no mundo que comportasse livros para relatar todos os seus feitos (vd. João 21.25). É, portanto, lícito crer que Deus nos fala e se faz ser conhecido de diversas outras maneiras. Um exemplo disso é dado pelo Apóstolo Paulo quando ele afirma que foi dada a todas as pessoas da terra a revelação total de Deus por meio da criação (vd. Romanos 12.20). Nesse ponto, também podemos nos valer de Calvino, quando disse que toda verdade procede de Deus, ainda que saia da boca de um ateu.

O critério para reconhecer uma tradição Santa e Apostólica se dá em primeiro lugar em não contradizer as Escrituras, por razões já mencionadas. Em segundo lugar, ter a centralidade em Cristo. Portanto, assim como a Escritura Sagrada, de Gênesis a Apocalipse, revela Cristo, também a Tradição, de forma didática, deve sempre revelar a pessoa do Senhor Jesus.

Não foi por acaso que São Paulo se preocupou com a guarda da Tradição. A verdade é que a Escritura pode ser aprendida com estudo e leitura particular. Já a Tradição Apostólica só é possível aprender no convívio com o povo de Deus. Pois ela trata, exatamente, da forma como colocamos a Escritura em prática.

A Escritura nos ensina que devemos cultuar unicamente ao único e verdadeiro Deus; pela Tradição aprendemos a nos organizar para cultuar da melhor forma. A Escritura nos ensina a amar o próximo; a Tradição nos dá diretrizes para manifestarmos esse amor como igreja de Cristo. A Escritura nos ensina a honrar pai, mãe e todos a quem devemos honra; a Tradição tem, nesse aspecto, a importante função de manter viva a memória e o serviço daqueles que nos precederam, a fim de que suas boas obras sejam, para nós, exemplos motivadores em nosso caminhada e alicerces na construção do Reino de Deus.

Toda religiosidade constitui uma tradição. Mesmo entre aqueles que a negam. Cabe-nos então, tão somente, escolhermos a tradição a ser seguida. Minha oração é que o Senhor nos aproxime da Santa Tradição Apostólica, e nos livre dos lobos em peles de ovelhas, com suas tradições humanas que visam alicerçar seus próprios impérios religiosos. Que cumpramos a ordem da Escritura Sagrada que assim diz: “Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente e não segundo a tradição que de nós recebestes” (2 Ts 3:6).

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O EVANGELHO UMBIGOCÊNTRICO

Por Hermes C. Fernandes


Pior que um Evangelho sem Cruz, é um Evangelho onde a Cruz é reinterpretada e acomodada às demandas de uma espiritualidade umbigocêntrica.

O Evangelho da Auto-estima insiste em afirmar que a Cruz de Cristo revela nosso real valor. Se não tivéssemos valor, por que Cristo Se disporia a pagar tão caro por nós?

Pode até parecer fazer sentido tal argumentação, mas carece totalmente de embasamento bíblico.

Quando um Juiz estabelece uma fiança altíssima para soltar alguém, isso revela o valor do criminoso ou a gravidade do seu crime?

A Cruz revela o nosso absoluto estado de miséria espiritual. O Salmista diz que nossa redenção era caríssima, e todos os nossos recursos se esgotariam antes.

Não se trata de afirmar nosso valor, como se Cristo estivesse pagando por algo que Lhe fosse muito caro. Trata-se, antes, do pagamento pelos nossos pecados.

Se houvesse algum motivo em nós mesmos, algum valor intrínseco pelo qual Cristo Se dispusesse a pagar, então já não seria por Graça, mas por mérito. Ora, se valêssemos a pena, Deus não teria feito mais do que Sua obrigação.

A Graça só se explica pelo fato de não valermos absolutamente nada. Nas palavras de Paulo, tornamo-nos inúteis. Do ponto de vista humano, a graça seria um enorme desperdício.

Oh maravilhosa graça! Deus pagou pelos meus pecados, e com isso, em vez de estabelecer meu valor, estabeleceu Seu amor. Deus decidiu amar o que não merecia ser amado. Deus decidiu perdoar e salvar o que sequer merecia Sua atenção.

A graça só se justifica pelo fato de Deus ser amor, e estar disposto a amar gente miserável, pecadora, desprovida de qualquer mérito próprio.

Diante da realidade da Cruz em contraste com sua natureza pecaminosa, Paulo não bradou"Valioso homem que sou!", mas em vez disso, declarou "Miserável homem que sou!"

O Evangelho da Auto-estima desmerece a graça e enaltece o homem. Na verdade é um desevangelho, um ultraje ao espírito da graça, um escárnio ao sangue de Jesus.

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Fonte: http://www.hermesfernandes.com/

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A ALEGRIA DE DEUS

Por José Fernandes
Minuto de Reflexão

“Assim, eu vos digo, haverá alegria entre os anjos de Deus por um pecador que se converte”.(2Tm 4,17a)

A alegria é um sentimento marcante em todos os seres. Entre os humanos contagia, vibra, faz viver, condiciona ao bem-estar, cria boas expectativas, faz bem à saúde. Deus, como grande doador dessa graça, se revela com este sentimento. É um Deus alegre. Sua alegria revelada quando um pecador se converte, se arrepende. Coração compungido e contrito não é desprezado por Ele. Tem sua aceitação e, com espontânea vibração, contagia os anjos do céu.

Infelizmente, muitos não querem colaborar e preferem ver um Deus triste. É claro que Ele não se alegra com as maldades, com as guerras, com a ignorância, com a ingratidão. Estas aberrações destroem a raça humana. Sua tristeza não é sinônima de apatia e afastamento do caso. Ele reage com sabedoria e investe pesado, oferecendo algo novo: a conversão. Através da sua Igreja e do seu Espírito, Deus se faz presente no mundo. Ele se revela, inspira, motiva, transforma, converte, ama e perdoa. O motor parado, enferrujado e imprestável agora está funcionando. Isto engrandece e faz vibrar de alegria.

Deus abre-se em graça e se revela um ser alegre e feliz. Nada é forçado com o fim de trazer de volta o pecador, porém, quando isso acontece, a alegria de Deus e dos anjos é proclamada com grande júbilo. Vemos, claramente, a alegria descrita na parábola do filho pródigo. O pai não foi à procura do filho, não foi atrás dele para trazê-lo de volta, porém quando isso aconteceu, quando o filho resolveu voltar a seu pai foi recebido com grande festividade. Deus não perdoa o pecado, mas está sempre pronto a perdoar o pecador arrependido. Sua bondade é tão infinita que não existe pecado, grande ou pequeno, não existe tipo de pecador que não seja digno de sua misericórdia.

Baseado nesta graça divina, podemos causar “festas contínuas” nos céus. Nossa atitude pode ser temperada com o amor, tolerância, dedicação. Fomos convertidos e, nesta nova direção, temos um novo Pai, um Deus alegre, um real motivo para viver nossa fé.

Pense nisso. Tenha uma ótima semana e... Fique com Deus!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

CRISTO versus CRISTO

Há uma disparidade notória entre o Cristo apresentado pelos modernos pregadores da TV (e também da maioria das igrejas evangélicas) e o Cristo que lemos nas Sagradas Escrituras.

Enquanto os pregadores da TV convidam os telespectadores a ficarem ricos por meio da fé, o Cristo relatado nas páginas Sagradas convida seus ouvintes ao total desapego dos bens materiais antes mesmo de segui-lo.

O Jesus apresentado na TV valoriza o rico, o bem-sucedido, e estabelece o valor de suas posses como métrica da fé. Isto é, quanto mais posses a pessoa tiver, significa que mais fé ela tem. Ao passo que a pobreza denota, igualmente, a falta de fé por parte do pobre.

Em contraponto, o Jesus que a Bíblia relata valorizava o pobre, a viúva, o órfão, e afirmou que destes é o Reino dos Céus. Esta não só era a premissa de Cristo, mas também de todo Espírito das Escrituras. Assim já dizia o profeta, quatrocentos anos antes de Cristo: “Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas” (Isaias 1.16,17).

A pobreza e a miséria não denotam a falta de fé dos pobres e miseráveis. Absolutamente! Denotam sim a falta de uma vida pautada no amor e os valores cristãos, por parte dos mais abastados.

Esse espírito modernista que invadiu as igrejas tem conduzido os fiéis a um caminho oposto ao proposto por Cristo. O caminho que Cristo propôs não foi outro senão Ele próprio, do qual não há maior exemplo de humildade simplicidade, desapego material, doação e abnegação. Que semelhança haveria deste com aquele que é meio de enriquecimento? Nenhuma, definitivamente, nenhuma!

Cabe-nos, então, perguntarmos a nós mesmos: Qual é o espírito que, de fato, tem nos influenciado? Eis uma questão que as palavras não podem responder, mas as atitudes falam por si. Podemos observar, do episódio em que Cristo se encontra com Zaqueu (Lucas 19), que a simples presença de Cristo na casa do pecador rico, fez com que Zaqueu decidisse, sem que Cristo lhe ordenasse qualquer coisa, doar metade de seus bens aos pobres e restituir quadruplicadamente a quem ele houvesse roubado. Esta é a ação que o Espírito de Cristo promove entre os que O recebem em sua morada.

Era este mesmo Espírito que norteava a vida dos cristão relatados no livro dos Atos dos Apóstolos. Todos tinham tudo em comum, viviam num espírito de partilha e solidariedade, e ninguém tinha falta de nada.

Por outro lado, vemos, hoje, um bando de gente mesquinha e avarenta, que por sua avareza cai nas mais astutas armadilhas de pregadores sem escrúpulos, que se aproveitam da avareza e ignorância alheia para construírem seus reinos e satisfazerem suas ambições pessoais. Longe do espírito de partilha e solidariedade dos cristãos do primeiro século, esses são motivados tão somente pelo desejo de adquirir riquezas e capitalizar bens, sem qualquer compromisso com a ética moral cristã. Quando alguém, ao seu lado, sofre apertos financeiros, o espírito que o dirige não é outro senão o de acusação, pelo qual afirma sem menor compaixão: se tivesse fé como eu, não estaria nessa situação.

O Cristo que essa gente prega, crê e adora, não é o mesmo Cristo das Escrituras; é outro Cristo, um falso Cristo, o anti-Cristo. Quem o adora é idólatra; não adora a Deus, adora a besta.

Contudo, numa coisa concordo com eles: Riqueza é dom de Deus. Mas logo vem a discordância, já que São Pedro, em sua primeira epístola, instrui os cristãos a servirem uns aos outros com os dons recebidos de Deus (veja I Pedro 4.10). Tal qual Jesus, que jamais usou seu poder para benefício próprio, também nós devemos ser despenseiros dos dons divinos, descobrindo, com efeito, que melhor é dar do que receber. Consideremos tudo isso sem jamais esquecermos que por tudo que nos é dado, também seremos cobrados.

“Se quiserdes e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra”, assim disse Deus, por meio do profeta Isaias (1.19). Talvez nosso problema não seja o querer, nem o ouvir, mas sim o entender qual é a melhor comida desta terra. Só para lembrar: “Bem-aventurado os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos” (Mateus 5:6).

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O ENTUSIASMO DE EVANGELIZAR

Por José Fernandes
Minuto de Reflexão

“Mas o Senhor ficou comigo e encheu-me de força, a fim de que pudesse anunciar toda a mensagem, e ela chegasse aos ouvidos de todas as nações”.(2Tm 4,17a)

Gosto de pessoas entusiasmadas. São dispostas, interessantes, sempre prontas a buscar coisas novas, estão sempre de bom humor e são ótimas companheiras de trabalho, de recreação, de lazer. Não sei como foi o seu dia, como você acordou, se está bem de saúde ou está doente, se está com problemas financeiros, com raiva de alguém, se está precisando pedir perdão, se está precisando perdoar alguém. Mas, independente de tudo isso, precisamos encontrar forças diárias para continuar entusiasmados pela vida. Felizmente encontramos na Palavra de Deus, no Evangelho, forcas mais do que suficientes para viver uma vida com o coração transbordando de alegria.

O apóstolo Paulo é uma dessas pessoas entusiasmadas, cheia de otimismo ânimo de fazer a vontade de Deus. Deus sabe o que faz e sabia perfeitamente que ele era o cara certo, o cara ideal capaz de levar adiante a sua palavra, espalhando-a pelos países vizinhos e porque não dizer pelo mundo inteiro. Justamente ele que era o perseguidor de cristãos transformou-se no maior pregador da palavra de Deus, o maior seguidor de Jesus. É um exemplo claro de como a palavra de Deus transforma as pessoas e as entusiasma a continuar uma obra de tamanha importância. Não havia prisão, doença ou mesmo tempestades capazes de impedir Paulo de anunciar a mensagem. No versículo acima, ele mesmo diz ao jovem Timóteo de onde vem toda esta força: “O senhor ficou comigo e encheu-me de força, a fim de que pudesse anunciar toda mensagem.

Necessitamos de modelo maior do que este? São muitas as vezes que ao acordarmos pela manhã precisamos de forças pra viver mais um dia. E então nos damos conta de que a nossa força vem do Senhor. O nosso entusiasmo vem do evangelho, ou seja, da boa noticia de que Jesus nos liberta de todos os nossos pecados. Nossa vida é outra. É vida nova. Paulo fala disso quando diz “nova criatura’. As coisas se fizeram novas e todo cristão hoje pode desfrutar desta nova vida anunciada no Novo Testamento.

Precisamos, porém, entender que essa missão incumbida a Paulo não foi dada somente a ele, mas a todos os cristãos. Hoje mais do que nunca, temos o dever de levar este evangelho a outros, para que também eles sejam chamados e atraídos ao Cristo de Deus. Temos hoje as maravilhas da avançada tecnologia: internet, celular e tantos outros meios como os quais os apóstolos jamais sonharam e temos também o dever de fazer uso de tudo isto para o bem e para o anúncio da salvação.

Infelizmente muitos cristãos, convenientemente, querem deixar esta tarefa por conta de padres e pastores e se esquecem que Deus conferiu dons a todos os cristãos, para que todos pudessem colaborar no anúncio salvador do Evangelho. O que, de prático, podemos fazer no dia de hoje para anunciar o amor de Deus a alguém? Quem sabe um telefonema, enviar um e-mail, ouvir alguém desabafar, oferecer uma flor, dedicar uma prece, fazer uma leitura bíblica? Com certeza podemos e devemos anunciar Cristo hoje. Vamos fazê-lo?

Pense nisso. Tenha uma ótima semana e... Fique com Deus!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A MAIOR OFERTA

“Em verdade vos digo que esta viúva pobre depositou no gazofilácio mais do que o fizeram todos os ofertantes. Porque todos eles ofertaram do que lhes sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo quanto possuía, todo o seu sustento” (Marcos 12.43b,44).

Nossas contribuições financeiras, dízimos e ofertas, não são meras doações de dinheiro, mas doação de nossa vida. Pois o dinheiro que, nós trabalhadores, temos, advém da vida que dispensamos ao trabalho. Portanto, o salário é a forma como essa vida retorna para nós.

Jesus distinguiu, no versículo acima citado, dois grupos de pessoas: aqueles que dedicam a Deus o que sobra de suas vidas e aqueles que dedicam toda sua vida.

Os que dedicam a sobra de sua vida são aqueles que ocupam a centralidade de sua existência. Para esses o primeiro lugar é sempre ocupado pelo próprio ego. Vivem como se o mundo girasse em torno si. A razão dos outros existirem é para lhes servirem, e sua religiosidade tem o único intuito de constranger Deus a ser seu servo. Contudo, quando tudo está bem e nenhuma ambição lhes provoca o interesse religioso, ir à igreja passa a ser uma mera possibilidade para algum momento em que não se tenha mais nada a fazer. Para piorar a situação, essa gente sempre tem o que fazer: assistir TV, por exemplo. Afinal, “à igreja, posso ir no domingo que vem”.

Os que dedicam toda sua vida a Deus, não se restringem apenas ao tempo destinado para ir à igreja, mas todo seu tempo e todos os seus afazeres refletem ações de graças. Esses, seja no emprego, na escola, nas ruas, nas festas, no recôndito familiar ou na roda de amigos, em tudo o que fazem manifestam a graça de Deus. Pois se rezam, se oram, se comem, se cantam (mesmo músicas populares), se dançam, se trabalham, brincam ou descansam, tudo o fazem para a glória de Deus. Enquanto o primeiro grupo acha que o religari se restringe ao mísero tempo vivido (ou seria perdido?) dentro de um templo, o segundo grupo sabe que é impossível se separar dAquele que é onipresente, e por isso, na igreja, no trabalho, ou no laser, oram sem cessar.

Interessante é que aqueles que mais gozam da presença de Deus em todos os lugares, são, geralmente, os que mais valorizam o encontro com Ele na congregação dos justos, onde as Palavras sagradas e a santa Eucaristia são ministradas; pois assim encontraram, nos altares de Deus, moradia para si, e nestes altares dedicam sua vida.

Mas o que leva o ser humano a dedicar, integralmente, sua vida a Deus? Afinal, não adianta se forçar a ser religioso, nem se obrigar a ir à igreja. Se isso não ocorre espontaneamente, o sujeito estará se forçando, tão somente, a ser um hipócrita. O prazer de servir a Deus começa na compreensão, dada pelo próprio Espírito de Deus, a respeito de três verdades:

1- A centralidade de Cristo. Aquele que te conhece melhor que você mesmo, saberá, como ninguém, conduzir tua vida. Ter Cristo por centro é deixar de ter os interesses pessoais acima dos interesses coletivos; é deixar de pensar no que me favorece para desejar o favor comum a todos; é trocar o bem particular pelo bem comum. A verdade é que, em contra ponto à centralidade do eu, essa troca de pensamento e atitude, onde Cristo é o centro da vida, produz um bem estar inegavelmente amplo. Porque ninguém está bem de fato, quando ninguém está bem ao lado.

2- A consciência do poder transformador da presença de Cristo em sua Palavra e Sacramento. O pão que partimos, na Eucaristia, é o pão que de Cristo partiu e, tendo dado aos seus discípulos, chegou até nós. A Palavra que pregamos saiu dos próprios lábios de Jesus e, repassada por séculos, chegou até nossos ouvidos e coração. O mesmo Cristo que instituiu os sacramentos, o Mesmo Espírito que inspirou sua Palavra, está em nosso meio vivificando e atestando entre nós, o mesmo poder transformador operado no passado.

3- A consciência do nosso valor no Reino de Deus. Enquanto o mundo nos avalia pelo que podemos fazer, Cristo nos avalia pelo que Ele pode fazer em nós. Pois de nada vale a capacidade pessoal se o que dermos a Deus não passar de sobras. Quando compreendemos isso, deixamos de nos estribar em nossa própria força e passamos a nos entregar a Ele integralmente, deixando que Ele nos use, certos de que essa é a forma pelo qual os centavos de uma humilde viúva torna-se a oferta maior.

Quem compreende isso, encontra naturalmente o prazer de servir a Deus; descobre em Seus altares a motivação de servir ao próximo; percebe em Seu amor a razão de viver em comunhão; vê em Seu sacrifício o exemplo a ser seguido, entregando a Ele todo seu viver. Este, com toda certeza, seja rico ou pobre, culto ou inculto, terá dado a Deus a maior oferta.

sábado, 23 de outubro de 2010

A TRAVE QUE NÃO VEMOS

Por José Fernandes
MINUTO DE REFLEXÃO

“Por que observas o cisco no olho do teu irmão e não reparas na trave que está no teu próprio olho?”.(Mt 7,3)

Volta e meia o Brasil passa por momentos de sobressalto com notícias veiculadas pela mídia. Um jornalista brasileiro, que investiga agressão a crianças, diz numa reportagem da Folha de São Paulo, não me lembro exatamente a data, que 20% das crianças neste país são agredidas pelos pais ou por terceiros. Tragédias geradas pela violência dentro do ambiente familiar horrorizam a todos. É a violência de pais contra seus próprios filhos, e vice-versa; de babás que agridem crianças e idosos; homem que bate em sua mulher, irmão que agride irmão e assim por diante. Quando assistimos indignados a esses crimes, imediatamente criticamos e apontamos os culpados. Tornamo-nos juízes da vida dos outros sem os ouvir nem saber se as provas são verdadeiras ou não. Enquanto estamos ligados e julgando um único caso, nos damos conta de que atitudes como estas são freqüentes em todos os lugares.

É muito comum nos preocuparmos com o que acontece na vida das outras pessoas e esquecermos que também somos imperfeitos, cheios de pecado, e que cometemos grandes e violentos erros. Temos uma tendência a falar da vida dos outros, nos considerando os melhores, porque os outros não são como nós somos. Jesus chama a nossa atenção para estas questões. “Por que olhas o cisco no olho do teu irmão e não vês a trave no teu próprio olho?”. Cisco e trave: qual é o maior? O mestre Jesus quer mostrar aqui que somos iguais ou mais pecadores do que os outros. Que devemos olhar para o que fazemos e não para o que os outros fazem ou deixam de fazer. É uma atitude de respeito às pessoas e de humildade diante de Deus.

Eis mais um exercício de vivência cristã. E é muitas vezes dentro da própria Igreja que exercitamos mais. Os cristãos correm o risco de pensar que são melhores do que os outros e que o direito de julgar as pessoas condenando-as pelos seus erros. Muitas vezes, como na história do início, condenamos antes mesmo de um veredicto. Vamos olhar para as nossas ações, vamos fazer um profundo exame de consciência procurando interpretar tudo da melhor maneira possível.

Pense nisso. Tenha um ótimo final de semana e... Fique com Deus!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A LUZ QUE PRECEDE O SOL

No capítulo 32 de Gênesis, Jacó luta com um anjo que lhe fere a coxa. O versículo 24 afirma tratar-se de um homem, enquanto os versículos 28 e 30 afirmam ter se tratado de uma luta com o próprio Deus. Nisso não há qualquer discordância, mas sim uma complementação, pois se trata de uma teofania, isto é, uma manifestação de Deus em forma de homem.

Para trazermos à luz um entendimento melhor do texto, necessitamos fazer uso do conhecimento da tradição judaica, que afirma que o anjo relatado nesse texto é o Arcanjo Uriel. Seu nome significa Luz de Deus.

Ao final da luta, depois de deslocar a junta da coxa de Jacó, o anjo lhe disse: “Deixa-me ir, pois já rompeu o dia”. Mas que relação haveria entre o Arcanjo Uriel e o romper do dia, para que o anjo precisasse ir embora? De acordo com a tradição judaica, Uriel era o anjo responsável pelo nascer do Sol, razão pela qual o Sol veio a nascer, segundo o relato bíblico, somente depois que o anjo partiu.

A relação entre a luz de Deus e o Sol tem seu princípio já no relato da criação, no primeiro capítulo de Gênesis, quando a luz é criada bem antes do Sol.

Lembre-se de que não estamos tratando de ciência, pois cientificamente nada disso parece ter sentido. Estamos, sim, falando de espiritualidade. Dentro desse contexto, podemos deduzir que a Luz de Deus precede o Sol, que é uma figura de Cristo. Assim, compreendemos que mesmo sem conhecermos a Cristo, somos dEle conhecidos; mesmo num mundo em trevas, Deus sempre zelou pelos seus escolhidos; ao povo que caminhava na noite, Deus enviou uma coluna de fogo para aquecê-lo e iluminá-lo; mesmo antes de qualquer um de nós experimentarmos a acolhida no aprisco de Cristo, Deus já nos cuidava e nos atraia ainda que não o víssemos, nem o sentíssemos.

Jesus, em Lucas 18, mostra-nos a importância de nossa perseverança e constância na oração. Contrapondo a um juiz iníquo que só julga a causa de certa viúva por se incomodar com seus constantes pedidos, Cristo argumenta que Deus, que é justo, jamais se atrasa, mesmo que algumas vezes possa nos parecer tardio.

A verdade é que muitas vezes condicionamos a luz divina (Graça) ao nascimento do Sol (manifestação visível da graça). E nos é difícil compreendermos que mesmo em meio à noite Sua luz nos conduz; que mesmo que estejamos no vale da sombra da morte, Ele está presente com sua vara e cajado a nos consolar; mesmo antes de lhe pedirmos qualquer coisa, Ele sabe bem o que precisamos e está de braços estendidos prontos a nos abençoar, dando-nos o melhor, ainda que não saibamos pedir o que é bom.

Alguns abandonam a fé por acharem que Deus está demorando em lhes atender, outros, do mesmo modo, abandonam o caminho ao conquistar o que desejavam de Deus. Em qualquer desses casos, perdem o melhor.

Deus nunca tarda, nem jamais falha. Nós é que tardamos e falhamos, com nossa ansiedade e desejo de resolver tudo ao nosso modo, estribando-nos em nossos juízos injustos.

Confiemos em Deus, estribemo-nos em seu juízo, estejamos plenamente certos de que aquele que começou boa obra em nós há de completá-la até que seja dia perfeito (Filipenses 1:6, provérbio 4:18).

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O ESPINHO NA CARNE

Por José Fernandes
Minuto de Reflexão

“Portanto, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo”.(2Cor 12,9b)

Todo ser humano gostaria de ser perfeito e saudável. Muitos passam uma vida inteira sem que fiquem doentes. A doença nos enfraquece e quando não estamos nos sentindo bem fisicamente o nosso espírito também sente. Por isso sabemos que quando o corpo está bem, o espírito também está. Mas Sabemos que as nossas enfermidades nem se comparam com as de outras pessoas que sofrem e não conseguem a cura. O apóstolo Paulo fala de “um espinho na carne”. Não sabemos bem qual era a sua doença, mas ele fala que isto o incomodava e ele pediu três vezes a Deus que afastasse este espinho (2Cor 12,8) e a resposta de Deus foi: “A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza”.

Paulo liga uma visão extraordinária com um espinho que irrita. Deus abençoa o apóstolo com uma visão, com uma inteligência fora do comum, mas ao mesmo tempo coloca um contraponto nesta relação para mantê-lo humilde. Isto acontece conosco também. Muitas vezes nos sentimos tão abençoados por Deus, tão animados, tão felizes, orgulhosos muitas vezes, pelas bênçãos e, de repente, Ele coloca um contraponto na nossa vida. Talvez porque muitas vezes pensamos que somos os tais, somos superiores por causa desta relação. Achamos-nos privilegiados por sermos filhos de Deus e Ele nos põe de novo em nosso lugar. É nas dificuldades, nos conflitos, nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, nos turbilhões da vida, no profundo desgosto que buscamos força para superar todos os problemas.

Precisamos ler os sinais de Deus em nossa vida. Sabemos que somos abençoados por Ele, mas é necessário que continuemos autênticos, sem este ar de superioridade que corremos o risco de apresentar. Se tivermos problemas, sabemos que estes não serão maiores do que a nossa capacidade de resolvê-los, porque temos em Cristo a força necessária para superar todas as nossas dificuldades.

Pense nisso. Tenha um ótimo final de semana e... Fique com Deus!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A PADROEIRA E OS DESAPADRONADOS

Eram aproximadamente seis horas da manhã quando fui acordado por estouros de foguete que partiram da casa de um de meus vizinhos que duvido veementemente que o infeliz já tenha ido a alguma missa nesse horário. Aliás, é bem possível que ele só compareça à igreja por ocasião de casamentos e funerais. Me pergunto, então: o que faz um sujeito se fazer tão “fervoroso” no dia da padroeira?

Como estudioso do assunto, reservo-me o direito de responder a essa indagação. A falta de conhecimento é o que leva as pessoas a essa fé estranha ao cristianismo autêntico.

Desconhecem o sentido da palavra ‘padroeiro’. Embora a igreja romana tenha atribuído seu significado aos santos escolhidos para intercessores de uma comunidade, classe operária, grupo étnico ou religioso, o sentido etimológico nada tem a ver com isso. Etimologicamente, a palavra ‘padroeiro’ (conjunção de padro(m) = padrão, mais eiro = fazedor) significa fazedor de padrão, assim como ‘padeiro’ significa fazedor de pão.

Conhecer a padroeira é fácil, mas onde estão os apadronados?

Teoricamente, Nossa Senhora Aparecida é uma das representações da Virgem Maria, mãe de Jesus. Isso faz de Maria o padrão, modelo de vida, para o Brasil. Honestamente, posso dizer que conheço muito bem Maria por tudo que li em livros sobre ela e a cultura judaica. Por isso eu disse que é fácil conhecer Maria, mas é impossível reconhecer o padrão dela no modo de vida dos brasileiros em geral. Tudo o que é possível ser identificado na fé mariana popular brasileira é uma Maria erroneamente idealizada, desassociada da cruz e de Cristo.

Maria foi modelo de mãe, filha, mulher, serva, exemplo de obediência, santidade, fidelidade a Deus, amor a Jesus, e seu desejo era que todos ouvissem e seguissem o Mestre. Entretanto, a fé mariana popular simplesmente ignora a verdadeira Maria e ofusca a imagem de Cristo. Basta assistir na TV, ou verificar na cidade onde você mora, as aberrações que se faz em nome da fé, para perceber que Maria jamais se encaixaria nesse padrão de religiosidade, quanto mais Jesus!

Desculpem, meus amigos, mas, na realidade, Maria jamais foi padroeira desse Brasil. Os fazedores de padrão do Brasil são o carnaval e o sincretismo religioso. O resultado disso é um povo de vida desregrada nos âmbitos social, sexual, religioso, político, sentimental, familiar, trabalhista, onde tudo que vale é se dar bem sem mudar de vida.

Nesse ínterim, Maria, a verdadeira santa, foi excluída da própria religiosidade que carrega seu nome, e substituída por outra maria, a "padroeira", muito mais rentável, sincrética e que não exige esforço moral algum para seguir seu padrão, basta lhe pagar as promessas e tudo fica certo. E a vida... continua como ela é: bebedeiras, traições, falcatruas, prostituição, carnaval e bundas à mostra. E vai me dizer que não é este o padrão brasileiro?

Se Maria é padroeira do Brasil, cabe-me dizer que a padroeira não tem apadronados. Pois a vida que se vive aqui está longe de se parecer com o modelo de Maria.

Enquanto isso, a Igreja Católica fecha os olhos e abraça os lucros. É o padrão... é o padrão.

Depois de refletir isso, lavei a alma e quero agradecer ao meu vizinho.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

GRATIDÃO E FIDELIDADE

Baseado em Rute 1.1-19 e Lucas 17.11-19

Quando Rute ficou viúva, foi rompido o elo que a prendia a sua sogra. Isso ficou claro, quando Noemi, a sogra, disse: Vai para junto de teu povo e volta para os teus deuses, pois já não tenho filhos, nem marido, e ainda que engravidasse hoje, você não poderia esperar para casar com ele. Minha outra nora já partiu, vá você também. Rute, por sua vez, respondeu: O teu Deus é meu Deus, e teu povo meu será, onde viveres viverei eu, e onde fores sepultada também eu repousarei.

Rute não deixou Noemi por duas razões simples. A primeira delas era a gratidão. Rute lhe era grata pelo filho que sua sogra havia gerado e, certamente, por toda a amizade que havia cultivado. A segunda razão era a fidelidade ao Deus Eterno a quem aprendeu a servir. Temos aqui dois princípios que deveriam ser muito mais evidentes em nossas vidas: gratidão e fidelidade, empenhadas a Deus e ao próximo.

Numa geração de “fiéis”, onde a maioria está preocupada tão somente consigo, fazendo do egocentrismo a razão de sua religiosidade, fica cada vez mais difícil encontrar quem esteja disposto a viver em fidelidade e gratidão. Trocar de religião ou de cônjuge já se tornou quase tão normal quanto trocar de roupa. É claro que o dever da igreja é acolher os prosélitos e também os que contraíram novas núpcias, mas, é melhor que as trocas permaneçam somente no campo do vestuário.

Lembro-me de quando era pequeno, e meu pai dizia que um homem pode fazer mil coisas certas, mas bastaria um erro para que os mil acertos fossem esquecidos. Na verdade, ao coração ingrato, não é necessário erro algum, pois os ingratos põem defeitos em cada um dos acertos. A maior prova disso é o próprio Senhor Jesus, que tendo cometido erro algum, ainda assim não escapou de alvo da maior ingratidão.

Mesmo tendo, Rute, perdido o elo que a ligava à Noemi, permaneceu com ela até o fim de sua vida. Todavia, hoje em dia, muita gente fica ao nosso lado somente o tempo em que precisam da gente; permanecem na igreja somente enquanto isso lhe parecer útil. A grande lição de Rute é que não devemos estar ao lado de alguém pelo que dela possamos nos beneficiar, mas sim pelo que possamos a ela ajudar; não devemos buscar a igreja pelo que dela possamos ganhar, mas sim pelo que a ela possamos ser úteis. Parece até antagônico, mas os que se aplicam no serviço a Deus e ao próximo são os mesmos que vivem em gratidão e fidelidade aos que lhe cercam. Os ingratos são sempre os que nunca se dispõem a servir.

Enquanto Rute nos traz o exemplo fidedigno de gratidão a Noemi, temos nos nove, dentre os dez, leprozos curados por Cristo, um enfático exemplo de ingratidão. Temos, nestes dois exemplos, mais uma prova de que aqueles que nada fazem pelo seu benfeitor serão, possivelmente, os mais ingratos, ao passo que aqueles que nada devem, pelo contrário, prestam serviço e socorro ao próximo e ao Reino, são os mesmos que sempre demonstrarão maior gratidão.

Infelizmente, essa nossa reflexão não mudará o pensamento dos outros. Mas podemos refletir melhor sobre: qual lado estamos? Quanto, de cada lado, cultivamos em nossa vida? Quantas vezes somos nós os ingratos?

No mais, só nos resta recebermos as ingratidões, tal como Cristo as recebeu. E de alguma forma, sob a graça de Deus, sermos gratos e pagarmos o mal com o bem.

Que Deus nos de força.