terça-feira, 2 de novembro de 2010

CRISTO versus CRISTO

Há uma disparidade notória entre o Cristo apresentado pelos modernos pregadores da TV (e também da maioria das igrejas evangélicas) e o Cristo que lemos nas Sagradas Escrituras.

Enquanto os pregadores da TV convidam os telespectadores a ficarem ricos por meio da fé, o Cristo relatado nas páginas Sagradas convida seus ouvintes ao total desapego dos bens materiais antes mesmo de segui-lo.

O Jesus apresentado na TV valoriza o rico, o bem-sucedido, e estabelece o valor de suas posses como métrica da fé. Isto é, quanto mais posses a pessoa tiver, significa que mais fé ela tem. Ao passo que a pobreza denota, igualmente, a falta de fé por parte do pobre.

Em contraponto, o Jesus que a Bíblia relata valorizava o pobre, a viúva, o órfão, e afirmou que destes é o Reino dos Céus. Esta não só era a premissa de Cristo, mas também de todo Espírito das Escrituras. Assim já dizia o profeta, quatrocentos anos antes de Cristo: “Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas” (Isaias 1.16,17).

A pobreza e a miséria não denotam a falta de fé dos pobres e miseráveis. Absolutamente! Denotam sim a falta de uma vida pautada no amor e os valores cristãos, por parte dos mais abastados.

Esse espírito modernista que invadiu as igrejas tem conduzido os fiéis a um caminho oposto ao proposto por Cristo. O caminho que Cristo propôs não foi outro senão Ele próprio, do qual não há maior exemplo de humildade simplicidade, desapego material, doação e abnegação. Que semelhança haveria deste com aquele que é meio de enriquecimento? Nenhuma, definitivamente, nenhuma!

Cabe-nos, então, perguntarmos a nós mesmos: Qual é o espírito que, de fato, tem nos influenciado? Eis uma questão que as palavras não podem responder, mas as atitudes falam por si. Podemos observar, do episódio em que Cristo se encontra com Zaqueu (Lucas 19), que a simples presença de Cristo na casa do pecador rico, fez com que Zaqueu decidisse, sem que Cristo lhe ordenasse qualquer coisa, doar metade de seus bens aos pobres e restituir quadruplicadamente a quem ele houvesse roubado. Esta é a ação que o Espírito de Cristo promove entre os que O recebem em sua morada.

Era este mesmo Espírito que norteava a vida dos cristão relatados no livro dos Atos dos Apóstolos. Todos tinham tudo em comum, viviam num espírito de partilha e solidariedade, e ninguém tinha falta de nada.

Por outro lado, vemos, hoje, um bando de gente mesquinha e avarenta, que por sua avareza cai nas mais astutas armadilhas de pregadores sem escrúpulos, que se aproveitam da avareza e ignorância alheia para construírem seus reinos e satisfazerem suas ambições pessoais. Longe do espírito de partilha e solidariedade dos cristãos do primeiro século, esses são motivados tão somente pelo desejo de adquirir riquezas e capitalizar bens, sem qualquer compromisso com a ética moral cristã. Quando alguém, ao seu lado, sofre apertos financeiros, o espírito que o dirige não é outro senão o de acusação, pelo qual afirma sem menor compaixão: se tivesse fé como eu, não estaria nessa situação.

O Cristo que essa gente prega, crê e adora, não é o mesmo Cristo das Escrituras; é outro Cristo, um falso Cristo, o anti-Cristo. Quem o adora é idólatra; não adora a Deus, adora a besta.

Contudo, numa coisa concordo com eles: Riqueza é dom de Deus. Mas logo vem a discordância, já que São Pedro, em sua primeira epístola, instrui os cristãos a servirem uns aos outros com os dons recebidos de Deus (veja I Pedro 4.10). Tal qual Jesus, que jamais usou seu poder para benefício próprio, também nós devemos ser despenseiros dos dons divinos, descobrindo, com efeito, que melhor é dar do que receber. Consideremos tudo isso sem jamais esquecermos que por tudo que nos é dado, também seremos cobrados.

“Se quiserdes e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra”, assim disse Deus, por meio do profeta Isaias (1.19). Talvez nosso problema não seja o querer, nem o ouvir, mas sim o entender qual é a melhor comida desta terra. Só para lembrar: “Bem-aventurado os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos” (Mateus 5:6).

Um comentário:

  1. Graças à tecnologia, todo mundo pode ter acesso a uma mensagem tão edificante, parabéns, Pr.

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