segunda-feira, 22 de novembro de 2010

QUEM NÃO TEM PECADO...

Tenho defendido, há algum tempo, que os homossexuais sejam incluídos ao convívio social e eclesial, sendo amados e aceitos exatamente como são. Sei que minha postura poderá gerar repulsa por parte dos mais moralistas, que acham que os homossexuais só podem ser aceitos mediante uma “mudança de hábito”. Entretanto, quero lembrar-lhes que o chamado de Cristo é universal e diz: “venha como estás”.

Não! De forma alguma quero fazer apologia à promiscuidade. Já antecipo isso, porque sempre que o assunto é homossexualidade, logo o tema é relacionado à vida promíscua, como se os termos fossem sinônimos, ou como se heterossexuais não pudessem ser depravados e os homossexuais fossem sempre promíscuos.

O fato é que não se pode exigir de quem queira se achegar a Cristo, nada que o próprio Cristo não tenha exigido. E a verdade é que Ele nada exige de ninguém senão o amor; amor incondicional. Entenda-se que é o contato com o amor de Cristo que nos muda, e não a nossa mudança que contata o amor Cristo.

Se alguma mudança haverá de acontecer, isso será por obra do Espírito Santo, e não por imposição humana. Ainda assim, se a tal mudança não ocorrer, é bem certo que o mesmo Espírito esteja operando com maior intensidade, a fim de nos ensinar a amar incondicionalmente. Pois, ao que parece, é necessária uma força muito maior do Espírito Santo para quebrar nosso preconceito, do que a força necessária para mudar a orientação sexual de alguém. Portanto, antes de ter fé de que Jesus possa transformar o homossexual, é preciso ter muito mais fé para aprendermos a amar como Cristo amou. Enquanto isso, os mais carentes de mudança somos nós, não eles. Pois nosso preconceito e ação excludente são muito mais nocivos que o homossexualismo.

Não quero com isso fazer vista grossa a ponto de dizer que o relacionamento homoafetivo não é pecado. Vejo essa questão sob o mesmo prisma que vejo o divórcio. Ambos são frutos de nossa natureza pecaminosa. Mas quem disse que para alguém se aproximar de Cristo não pode ser pecador? E quem tem o direito de impedir que alguém se aproxime dAquele que de todos se aproximou? Ora, se pecadores não podem se aproximar de Cristo, nem comungar entre seus irmãos, então ninguém pode fazê-lo. Mas se a graça de Deus basta, todos podem se achegar a Ele, pois Deus pode até se negar de remover o espinho na carne, mas jamais nega a sua graça a quem clamar misericórdia.

Nosso problema é fazer diferenciação entre pecado e pecado, como se esse fosse menos ou mais pecaminoso que aquele. É importante que entendamos que pecado é pecado indiferentemente da ocasião. Por isso ninguém é melhor que ninguém. Diferentes são, tão somente, as consequências, que por sinal, são muito piores quando se trata de pedofilia, estupro, adultério, assédio sexual, pornografia, promiscuidade, prostituição, corrupção, desvio de verbas, uso da máquina pública, exclusão social, repressão política, venda de votos, racismo, comércio da fé, exploração religiosa, promessas em nome de Deus, sonegação fiscal, enriquecimento ilícito, pirataria, descaso ambiental, desperdício de água e degradação dos recursos naturais. A menos que esteja relacionado a algum destes pecados, a homossexualidade não traz consequências maiores que qualquer um destes traz.

Mas então porque as igrejas sabem, tão bem, incluir no seu convívio, políticos corruptos, empresários exploradores, comerciantes desonestos, pregadores dinheiristas, tarados, vendedores de produtos piratas, sonegadores, mentirosos grandes ou pequenos, comilões, sovinas, etc? O que faz essa casta ser muito mais aceitável que os homossexuais, dentre os quais há muita gente honesta, discreta, fiel e amável? Na verdade as igrejas aceitam e incluem todo e qualquer pecador, até mesmo o homossexual, desde que seu pecado não se torne visível. Sabe acolher a menina desvirginada com vida sexual ativa com muitos parceiros, desde que ninguém saiba e que não fique grávida; sabe acolher o marido covarde que agride sua mulher, conquanto ela não o denuncie; também sabe acolher o sonegador, desde que seu dízimo seja “uma bênção”. Não tenho dúvida, este é um tempo de igrejas hipócritas, mais pecadoras do que aqueles a quem elas condenam.

Que Deus nos ajude! Não sou dono da verdade, portanto, posso estar errado. Se for o caso, fiquem a vontade, e quem não tem pecado apedreje a quem quiser.

Sei que o assunto é complexo e não tenho pretensão de, neste espaço, concluir esse pensamento, nem formular uma posição concreta. Mas deixo o tema aberto, para conversarmos, comentarmos e refletirmos juntos sobre o assunto. A casa é sua.

Um comentário:

  1. Muito bom este texto... é raro encontrar essa lucidez em qualquer pregador hoje em dia. Não sou cristão mas já defendi esse mesmo ponto de vista para um cristão amigo meu: O que é mais importante? Amar ao próximo ou regular sua conduta? O excesso discriminatório... essa paranóia anti-homossexual só denuncia a fraqueza de convicção de certos militantes religiosos...

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