segunda-feira, 21 de setembro de 2009

FELIZES OS MISERICORDIOSOS

“Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt.5:7).

A misericórdia dispõe, em si, dois outros conceitos: compaixão e perdão.

Compaixão
significa sofrimento compartilhado. O termo ‘paixão’ significa sofrimento, enquanto o prefixo ‘com’ indica um estado contíguo. Portanto, ter compaixão significa estar unido no sofrimento. Deus é rico em misericórdia, por isso não nos abandona, nem mesmo no vale da sombra e da morte.

O perdão
é a não imputação da pena. A Bíblia diz que Deus não se lembra de nossos pecados. Embora seja impossível que Deus possa ter algum tipo de esquecimento, essa é uma expressão poética que nos assegura o fato de que Deus não imputa sobre nós o pecado que perdoou.

A cruz foi a mais perfeita expressão de misericórdia.

Na cruz, Cristo perdoou o mundo. Foi nela que Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). Ainda que a ignorância não possa salvar ninguém, pelo contrário, ela é a razão por qual muitos morrem espiritualmente, Cristo encontrou, na própria ignorância do homem, uma razão para perdoá-lo. Ele buscou compreender o que levou aquela gente a realizar aquele ato tão injustificável. Com isso Jesus caminhou no sentido oposto ao que muitos de seus “seguidores” de hoje caminham, pois enquanto Cristo busca o menor motivo para perdoar-nos junto ao Pai, seus “seguidores” buscam sempre o que condenar no próximo.

Na cruz, Deus solidarizou-se, em Jesus, no sofrimento da condenação, tomando o lugar de condenado.

Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Filipenses 2:5-8).

Ser misericordioso é esvaziar-se de si de modo a ser capaz de descer até o lamaçal a fim de estender a mão para quem já não tem forcas para de lá sair. Não nos cabe julgar que tal sujeito esteja onde está porque mereça tal castigo. Misericordiosos não condenam, pelo contrário, sofrem junto. Cristo não só desceu a condição humana, como se fez o pior dentre os homens assumindo a condição de maldito pregado ao madeiro, a fim de nos conduzir ao caminho de seu reino.

“Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt.5:7).

Enquanto todas as outras bem-aventuranças são fruto do alcance do Espírito a nós, a misericórdia é a única bem-aventurança de alcance do homem a Deus, pois seu alcance não se dá em direção ao alto, mas sim em direção às mazelas e aos sofrimentos da humanidade. Uma vez que Cristo tenha se identificado com os miseráveis, é encontrando a esses, sofrendo com esses, perdoando esses e ajudando esses que encontraremos Cristo. A religiosidade tem nos proposto encontrar Deus nas alturas, tal qual fizeram os homens ao construir a Torre de Babel. Descobriram eles que Deus é inalcançável em altura, e a igreja de hoje ainda não descobriu que está cometendo o mesmo erro!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A PALAVRA PROFÉTICA

Virou moda falar a palavra profética. Entretanto, a moda que se fala nada tem a ver com o que de fato é profecia. Estão confundindo ‘profecia’ com ‘teologia da confissão positiva’.

Tenho observado que nos vários seguimentos religiosos onde o termo tem sido usado, a tal palavra profética é utilizada tão somente como afirmação do que se deseja. Isto é, afirma-se o que se deseja e atribui-se a afirmação a uma obrigação de Deus em realizá-la.

O pequeno detalhe de que se esquecem é que, em toda Escritura Sagrada, jamais uma profecia foi gerada pelo profeta. Todas as profecias são geradas pelo Espírito de Deus e o profeta é apenas seu porta-voz. Não nos é outorgado, ao menos nas Escrituras, qualquer autoridade para falar o que desejamos declarando ser essa a palavra da profecia do Espírito. Toda nossa autoridade consiste em anunciar a profecia já revelada nas Escrituras.

Nenhum profeta jamais declarou algo proveniente de seus desejos como se fosse palavra do Espírito. O próprio apóstolo Paulo teve zeloso cuidado em não cometer tal ultraje, quando falou seu desejo ou opinião disse: “digo eu, não o Senhor” (1 Coríntios 7:12).

A palavra profética é gerada do Espírito Santo e transmitida pelos profetas. Por isso, não há uma só profecia que diga: “eu declaro”, ou “eu determino”, ou “eu profetizo”. A verdadeira profecia diz: “Assim diz o Senhor”.

E, afinal, o que o Senhor diz? Haveria alguma revelação a mais que Ele queira dizer que não tenha dito nas Escrituras? A menos que o Apóstolo Paulo tenha se enganado redondamente, não há mais o que Deus queira revelar. Disse Paulo: "Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema" (Gálatas 1:8).

É realmente impressionante como muitos desejam conhecer mais a Deus sem querer conhecer mais as Escrituras. Dizem querer experiências com Deus sem querer conhecer o que Deus já nos deu para experimentarmos, a saber, sua Palavra. Querem conhecer a Cristo sem conhecer a Palavra, que é Cristo. Enquanto os Romanos trocaram o relacionamento com Cristo, da Palavra para a hóstia, os pentecostais trocaram o relacionamento, da hóstia para as “experiências”, o empirismo.

Através do empirismo, muitos querem descobrir o que Deus não revelou, ao tempo em que rejeitam o que está revelado. Quando não entendem o que a Bíblia diz, ou quando o que ela diz contraria o que crêem, dizem que isso não pertence ao homem saber, que está oculto em Deus. Ora, quanta incoerência! Se Deus escreveu nas Escrituras Sagradas, está revelado! Ao invés de dizerem que não pertence ao homem saber, deveriam ter a humildade de querer aprender. Afinal, se o Espírito não revelar o que está escrito, porque revelaria o que não está? E se não pertence ao homem saber o que está escrito, porque Deus escreveu? Não é estupidez querer entender o que não está revelado nas Escrituras (e isto sim ao Senhor pertence) e negligenciar o que está revelado?

A função do Espírito Santo não é nos ensinar o que não foi revelado, não é nos fazer adivinhar, e sim nos lembrar e ensinar todas as coisas que Jesus falou (João 14:26).

Assim, a Palavra profética consiste em anunciar o Reino de Deus e a sua justiça. Hora promovendo a virtude, hora denunciando o mal.

Palavra profética não é declarar jargões positivistas. Não foi assim que procederam os profetas e os apóstolos. Muitos sofreram martírio, exatamente, por causa das injustiças e heresias que denunciaram. Logo, ser profeta, hoje, é anunciar a profecia revelada nas Escrituras, é levar amor de Deus aos carentes através das boas obras, é anunciar o Reino de Deus, que “é justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Romanos 14:17). Mas não é só isso, a Palavra Profética é aquela que se levanta contra as injustiças sociais, o mau uso dos recursos naturais, o abuso da boa fé popular, o legalismo religioso, a corrupção, as heresias e coisas semelhantes a essas.

Infelizmente a verdadeira palavra profética não interessa aos “grandes profetas”, líderes religiosos, cada vez mais envolvidos em conchavos políticos e cegos pela sede de poder. Para esses, quanto menos conhecimento (Bíblico ou científico) o povo tiver, mais fácil será dominá-lo, e isso é o que lhes importa. E assim, prosseguem com seu empirismo e charlatenismo, fazendo-se semi-deuses, enganando a massa burra, construindo seus impérios “acima das estrelas de Deus” (Isaías 14:13).

Meu amigo, não se deixe enganar, já dizia Jesus, “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim” (João 5:39).

“porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mateus 24:24).

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A MANSIDÃO

“Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra” (Mt.5:5).

Os meios que Deus utiliza para atingir os seus fins não são os mesmos, nem são semelhantes aos utilizados pelos homens. Enquanto o caminho do homem o leva a uma possessão caracterizada pela violência, o caminho de Deus o leva à herança, que é fruto da mansidão.

Dizer
que os mansos herdarão a terra em pleno auge do império romano, foi algo deveras subversivo! Fico imaginando o nó que deu no cabeção daqueles que o ouviam. De acordo com o entendimento humano isso seria absolutamente ridículo! Na verdade, até para os homens modernos isso não faz sentido. Afinal, vivemos num mundo onde prevalece a lei da selva, em que predomina o mais forte.

Num tempo em que os violentos romanos dominavam a terra por meio de sua força militar, era muito difícil compreender como a terra seria herdada pelos mansos.

Num tempo em que os países procuram o poder das armas nucleares para garantir sua supremacia, não parece fazer muito sentido considerar a mansidão como meio de defender seu país, quanto menos herdar a terra.

Para qualquer serumano, o mais lógico é que aquele que possua maior força domine, subjugue e exerça autoridade. Tais padrões não se estabelecem apenas pela violência física, mas também pela violência mental. Assim a força da violência não só é exercida pelos estadistas como também, e talvez mais ainda, pelos líderes religiosos, políticos e patrões.

“Mas Jesus lhes disse: Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve. Pois qual é maior: quem está à mesa ou quem serve? Porventura, não é quem está à mesa? Pois, no meio de vós, eu sou como quem serve
(Lucas 22:25-27).

Certamente o mundo seria bem melhor se todos seguissem o exemplo de Cristo em fazer-se servo; se os líderes religiosos fossem servos do povo ao invés de servirem-se dos mesmos; se os políticos trabalhassem para o povo ao invés de oprimi-lo.

A violência física firma o poder do mais forte pelos vieses do medo, da opressão e do autoritarismo. Frequentemente as pessoas confundem autoridade com autoritarismo e a fim de consolidar seu domínio lançam mão deste tipo de violência, muito comum dentro dos lares. Enganosamente, a violência tem sido largamente usada, pelos covardes e estúpidos (a ética não me permite adjetivos mais expressivos), como maneira de educar os filhos e sujeitar a mulher.

Muito parecida à violência física é a violência mental. E dela se utilizam, principalmente, líderes religiosos sem escrúpulos que dominam o povo comum por meio dos mesmos artifícios da violência física, a saber, o medo, a opressão e o autoritarismo.

Os religiosos necessitam de uma doutrina escabrosa, cheia de condenações, demônios e castigos a fim de que amedrontados, os fiéis opressos não ousem desobedece-los. Não longe disto deve caminhar o autoritarismo, que não é autoridade, pois autoridade é conquistada, ao passo que o autoritarismo é imposto. Nada é mais típico das autoridades religiosas, que em sua grande maioria se nega a ser questionada, se acha absoluta e qualquer um que se atrever a contesta-la é logo taxado de rebelde, herege e réu de um crime sem perdão, a menos que se retrate e nunca mais ouse contestar o infalível sacrossanto líder espiritual (ou deveria dizer carnal).

A violência gera rancor. São muitos os casos de filhos profundamente amargurados em função da violência sofrida pelos pais. O mesmo ocorre com mulheres que sofreram a violência de seus maridos

A violência gera desconfiança, tanto por parte do agredido quanto do agressor. Ninguém confia em quem é violento, pois nunca sabe qual será sua reação a qualquer ação. Nem o agressor pode confiar no agredido, pois este sabe que o agredido se sujeita ao agressor tão somente por causa do medo, mas tão logo tenha uma oportunidade, tudo fará para livrar-se de seu agressor.

A violência gera traição. Quem busca o domínio por meio da violência, dominará até que alguém mais forte o domine. Não raras vezes este novo dominador se levanta dentre os anteriormente dominados.

É por essas razões que engana a si mesmo quem pensa possuir algo por meio da violência. Este pode apenas dominar, mas jamais possuirá. Dominará o corpo, mas jamais possuirá a alma. Dominará os atos, mas jamais possuirá o coração. Dominará a terra, mas jamais a herdará.

“Assim diz o SENHOR: Executai o direito e a justiça e livrai o oprimido das mãos do opressor; não oprimais ao estrangeiro, nem ao órfão, nem à viúva; não façais violência, nem derrameis sangue inocente neste lugar”
(Jeremias 22:3).

“Mas os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz (Salmos 37:11).