“Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt.5:7).
A misericórdia dispõe, em si, dois outros conceitos: compaixão e perdão.
Compaixão significa sofrimento compartilhado. O termo ‘paixão’ significa sofrimento, enquanto o prefixo ‘com’ indica um estado contíguo. Portanto, ter compaixão significa estar unido no sofrimento. Deus é rico em misericórdia, por isso não nos abandona, nem mesmo no vale da sombra e da morte.
O perdão é a não imputação da pena. A Bíblia diz que Deus não se lembra de nossos pecados. Embora seja impossível que Deus possa ter algum tipo de esquecimento, essa é uma expressão poética que nos assegura o fato de que Deus não imputa sobre nós o pecado que perdoou.
A cruz foi a mais perfeita expressão de misericórdia.
Na cruz, Cristo perdoou o mundo. Foi nela que Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). Ainda que a ignorância não possa salvar ninguém, pelo contrário, ela é a razão por qual muitos morrem espiritualmente, Cristo encontrou, na própria ignorância do homem, uma razão para perdoá-lo. Ele buscou compreender o que levou aquela gente a realizar aquele ato tão injustificável. Com isso Jesus caminhou no sentido oposto ao que muitos de seus “seguidores” de hoje caminham, pois enquanto Cristo busca o menor motivo para perdoar-nos junto ao Pai, seus “seguidores” buscam sempre o que condenar no próximo.
Na cruz, Deus solidarizou-se, em Jesus, no sofrimento da condenação, tomando o lugar de condenado.
“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Filipenses 2:5-8).
Ser misericordioso é esvaziar-se de si de modo a ser capaz de descer até o lamaçal a fim de estender a mão para quem já não tem forcas para de lá sair. Não nos cabe julgar que tal sujeito esteja onde está porque mereça tal castigo. Misericordiosos não condenam, pelo contrário, sofrem junto. Cristo não só desceu a condição humana, como se fez o pior dentre os homens assumindo a condição de maldito pregado ao madeiro, a fim de nos conduzir ao caminho de seu reino.
“Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt.5:7).
Enquanto todas as outras bem-aventuranças são fruto do alcance do Espírito a nós, a misericórdia é a única bem-aventurança de alcance do homem a Deus, pois seu alcance não se dá em direção ao alto, mas sim em direção às mazelas e aos sofrimentos da humanidade. Uma vez que Cristo tenha se identificado com os miseráveis, é encontrando a esses, sofrendo com esses, perdoando esses e ajudando esses que encontraremos Cristo. A religiosidade tem nos proposto encontrar Deus nas alturas, tal qual fizeram os homens ao construir a Torre de Babel. Descobriram eles que Deus é inalcançável em altura, e a igreja de hoje ainda não descobriu que está cometendo o mesmo erro!
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