“Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra” (Mt.5:5).
Os meios que Deus utiliza para atingir os seus fins não são os mesmos, nem são semelhantes aos utilizados pelos homens. Enquanto o caminho do homem o leva a uma possessão caracterizada pela violência, o caminho de Deus o leva à herança, que é fruto da mansidão.
Dizer que os mansos herdarão a terra em pleno auge do império romano, foi algo deveras subversivo! Fico imaginando o nó que deu no cabeção daqueles que o ouviam. De acordo com o entendimento humano isso seria absolutamente ridículo! Na verdade, até para os homens modernos isso não faz sentido. Afinal, vivemos num mundo onde prevalece a lei da selva, em que predomina o mais forte.
Num tempo em que os violentos romanos dominavam a terra por meio de sua força militar, era muito difícil compreender como a terra seria herdada pelos mansos.
Num tempo em que os países procuram o poder das armas nucleares para garantir sua supremacia, não parece fazer muito sentido considerar a mansidão como meio de defender seu país, quanto menos herdar a terra.
Para qualquer serumano, o mais lógico é que aquele que possua maior força domine, subjugue e exerça autoridade. Tais padrões não se estabelecem apenas pela violência física, mas também pela violência mental. Assim a força da violência não só é exercida pelos estadistas como também, e talvez mais ainda, pelos líderes religiosos, políticos e patrões.
“Mas Jesus lhes disse: Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve. Pois qual é maior: quem está à mesa ou quem serve? Porventura, não é quem está à mesa? Pois, no meio de vós, eu sou como quem serve” (Lucas 22:25-27).
Certamente o mundo seria bem melhor se todos seguissem o exemplo de Cristo em fazer-se servo; se os líderes religiosos fossem servos do povo ao invés de servirem-se dos mesmos; se os políticos trabalhassem para o povo ao invés de oprimi-lo.
A violência física firma o poder do mais forte pelos vieses do medo, da opressão e do autoritarismo. Frequentemente as pessoas confundem autoridade com autoritarismo e a fim de consolidar seu domínio lançam mão deste tipo de violência, muito comum dentro dos lares. Enganosamente, a violência tem sido largamente usada, pelos covardes e estúpidos (a ética não me permite adjetivos mais expressivos), como maneira de educar os filhos e sujeitar a mulher.
Muito parecida à violência física é a violência mental. E dela se utilizam, principalmente, líderes religiosos sem escrúpulos que dominam o povo comum por meio dos mesmos artifícios da violência física, a saber, o medo, a opressão e o autoritarismo.
Os religiosos necessitam de uma doutrina escabrosa, cheia de condenações, demônios e castigos a fim de que amedrontados, os fiéis opressos não ousem desobedece-los. Não longe disto deve caminhar o autoritarismo, que não é autoridade, pois autoridade é conquistada, ao passo que o autoritarismo é imposto. Nada é mais típico das autoridades religiosas, que em sua grande maioria se nega a ser questionada, se acha absoluta e qualquer um que se atrever a contesta-la é logo taxado de rebelde, herege e réu de um crime sem perdão, a menos que se retrate e nunca mais ouse contestar o infalível sacrossanto líder espiritual (ou deveria dizer carnal).
A violência gera rancor. São muitos os casos de filhos profundamente amargurados em função da violência sofrida pelos pais. O mesmo ocorre com mulheres que sofreram a violência de seus maridos
A violência gera desconfiança, tanto por parte do agredido quanto do agressor. Ninguém confia em quem é violento, pois nunca sabe qual será sua reação a qualquer ação. Nem o agressor pode confiar no agredido, pois este sabe que o agredido se sujeita ao agressor tão somente por causa do medo, mas tão logo tenha uma oportunidade, tudo fará para livrar-se de seu agressor.
A violência gera traição. Quem busca o domínio por meio da violência, dominará até que alguém mais forte o domine. Não raras vezes este novo dominador se levanta dentre os anteriormente dominados.
É por essas razões que engana a si mesmo quem pensa possuir algo por meio da violência. Este pode apenas dominar, mas jamais possuirá. Dominará o corpo, mas jamais possuirá a alma. Dominará os atos, mas jamais possuirá o coração. Dominará a terra, mas jamais a herdará.
“Assim diz o SENHOR: Executai o direito e a justiça e livrai o oprimido das mãos do opressor; não oprimais ao estrangeiro, nem ao órfão, nem à viúva; não façais violência, nem derrameis sangue inocente neste lugar” (Jeremias 22:3).
“Mas os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz” (Salmos 37:11).
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