sexta-feira, 28 de agosto de 2015

O ETERNO DEUS MUTÁVEL

Por Julio Zamparetti

Falar sobre Deus é difícil. Se eu pudesse fazê-lo, Deus não seria Deus, uma vez que Deus para ser Deus tem que estar acima de tudo. Se Ele é quem está acima, nada pode ser falado sobre Ele. A única coisa que posso dizer de Deus, di-lo-ei sob Ele, porque estando bem abaixo posso apenas contar o que minha visão espiritual nublada, abaixo, distante e limitada pode ver a respeito dEle, se é que o pode ver.

Muita gente fala sobre Deus. No entanto, se fala sobre Ele, não é dEle que se fala, mas sim de um deus pequeno abaixo. O que se pode falar  de Deus é o que sob Ele se pode entender dEle. Isso, acreditem-me, já é muita coisa. Só os iluminados ou malucos podem estar sob Ele de maneira a entender alguma coisa dEle. Se você não é iluminado ou maluco, parabéns, você deve ser são! Pena que os sãos não precisam de Deus e nem foi para esses que Deus se manifestou na pessoa de Jesus.

Acho que todos somos meio malucos, meio iluminados, oscilante entre os dois, ou, talvez, maluco e iluminado seja a mesma coisa. O fato é que somos mutantes, estamos sempre mudando, e isso acontece pelo simples fato de estarmos vivos. A mutação é a principal característica de um ser vivo.

E Deus é vivo? Obviamente sim. Mas há quem diga o contrário, e não estou falando de Nietzsche, me refiro a todos que afirmam que Deus é imutável. Afinal, o que não muda não tem vida, e por mais beleza que possa ter, é como flor de plástico.

O Deus sob o qual eu tento vislumbrá-lo muda todos os dias porque em nenhum dia eu sou o mesmo. Ele que é o mesmo ontem hoje e eternamente continua revogando seus “decretos irrevogáveis” por amor de um pecador arrependido; continua voltando atrás com relação ao castigo que anunciou, para atender o clamor sincero de um povo devoto; continua mudando a direção do mover de seu Espírito sem qualquer prescrição, tal como afirmou o Cristo.

Quem não muda mesmo é a igreja morta, que mortificou seus ensinamentos com dogmas e leis as quais jugou infalíveis e inquestionáveis. Como poderiam essas leis e dogmas serem “verdades imutáveis” se procedessem de um Deus mutável? E como a igreja dominaria o povo se não detivesse as “verdades imutáveis”?  Assim, para dominar o mundo, a igreja matou seu deus.

Depois de matar o seu deus, a igreja condenou aqueles que, segundo ela, eram maus. E mandou para a fogueira vários dos que eram semelhantes a Deus e, por serem semelhantes a Deus, pensavam livremente e eram capazes de mudar o pensamento, a si próprio, o mundo e a história. Hoje, apagaram-se as tochas, mas continuam sendo acesas as fogueiras moralistas dos pregadores que arbitram contra os homossexuais, as religiões africanas ou orientais, as benzedeiras, os sensitivos e qualquer pessoa que mesmo sendo do bem não esteja sob o domínio eclesiástico.

Lembro-me de um texto bíblico em que o profeta advertiu o povo de Israel de que Deus mudaria sua escolha a respeito de quem seria para sempre o seu povo. Dizem que Deus cumpriu a mudança há dois mil anos... Eu penso que Deus mudou muito mais vezes! Porque Ele vive.