segunda-feira, 13 de junho de 2011

O PENTECOSTALISMO E O REDUCIONISMO DE PENTECOSTES

Por Julio Zamparetti

Alguém por aí conhece alguma igreja pentecostal? Mostrem-me, por favor. Porque até agora não vi uma sequer.

As igrejas que ostentam o título de pentecostal assim se nominam por afirmarem viver os mesmos fenômenos relatados em Atos cap. 2, por ocasião do dia de pentecostes. Todavia, não há em igreja alguma, uma única manifestação de um único sinal semelhante àqueles ocorridos no memorável dia em que o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos.

O primeiro sinal foi de um som, como de um vento impetuoso, que vinha do céu. O som era tão intenso e real que fora ouvido pelos populares da redondeza, atraindo-os até o cenáculo, onde estavam os discípulos. O som descia do céu para o lugar onde eles estavam, nada tinha a ver com os berreiros que são travados, hoje, para que o som chegue ao céu.

Apareceu entre os discípulos línguas como que de fogo. Eles não imaginaram isso. O que apareceu foi visto até por aqueles que estavam de fora, assistindo, atônitos, como expectadores que tentavam entender o que viam.

Cheios do Espírito Santo, os discípulos passaram a falar em outras (mas não estranhas) línguas. O que falavam era perfeitamente entendido pelos estrangeiros ali presentes.

Em línguas estrangeiras, eles falavam das grandezas de Deus, não se gloriavam em seus feitos, não chamavam a atenção para si, não tencionavam mostrarem-se poderosos, como faz a maioria dos pregadores pentecostais de hoje. Os que tencionaram isso não foram os discípulos, mas sim os construtores da Torre de Babel.

Enquanto no dia de pentecostes o céu veio aos discípulos, no relato dos babilônicos, eram eles quem tentavam alcançar o céu. Enquanto os discípulos falavam das maravilhas de Deus, os babilônicos queriam tornar seus próprios nomes grandes. Julgue você mesmo, entre os pregadores de hoje, quem são os que falam das maravilhas de Deus e quem são os que fazem ser enaltecidos os seus próprios nomes.

Mas antes de fazer esse julgamento, considere isso: um grande problema das igrejas de hoje é atribuir aos sinais o conceito de maravilha. O som de vento impetuoso, as línguas de fogo, o falar em outras línguas, as curas, a expulsão de demônios e a invulnerabilidade ante a ingestão de venenos, ou picadas de cobras, são apenas sinais. Vale ressaltar que Cristo advertiu que falsos cristos também operariam essas mesmas coisas, muito embora os falsos cristos de hoje estão longe de realizar tanta coisa. Diferentemente, maravilha de Deus, ou milagre, concerne à salvação e o perdão dos pecados, coisas que só Deus pode obrar. É por isso que as Escrituras atestam que os sinais operados pelos apóstolos tinham o propósito de testificar que a Palavra pregada por eles era verdadeira, maravilhosa, milagrosa. Portanto, não confunda os sinais com as maravilhas de Deus. Pois o grande milagre de Deus é sua Palavra encarnada, Jesus, o Verbo de Deus, que é poderoso para transformar a vida de todo aquele que crê.

Aqueles sinais, ocorridos no dia de pentecostes e relatados em Atos 2, não são mais vistos em igreja alguma, hoje em dia. Embora muitas busquem exaustivamente provocar a sua reincidência, isso nunca aconteceu. No máximo, vêem-se algumas manifestações provenientes de construção humana. Entretanto, para os verdadeiros crentes, isso não faz falta, pois o Evangelho que pregamos não carece mais de sinais. Ele já foi plenamente assinado pelos sinais manifestos através do ministério dos santos apóstolos. Quem, hoje, pede sinais, certamente não crê nos sinais que já foram dados.

Jesus curou um coxo como sinal de que tinha poder de perdoar. Os discípulos operaram sinais como testemunho de que sua pregação era verdadeira. Se você duvida de que Jesus tenha poder de perdoar pecados e de que a pregação dos apóstolos é verdadeira, talvez pior coisa lhe seja receber qualquer novo sinal, pois possivelmente receberá, junto com o novo sinal, um novo e nocivo “evangelho” construído pelo idealismo humano.

Não é por acaso que Jesus falou que muitos, no dia do julgamento, chegarão diante de Deus apresentando como suas obras a realização de vários desses sinais, então Deus lhes dirá para que se afastem, pois são desconhecidos dEle. Esse possivelmente será o retrato da igreja que busca sinais em lugar das maravilhas as quais chamamos de salvação, perdão e vida eterna.

Para concluir, quero dizer que creio que Jesus cura e que ocasionalmente o Espírito Santo levanta a quem quiser para usá-lo da forma como quiser. Mas não encontro nas Escrituras qualquer respaldo para essa bagunça chamada neo-pentecostalismo. Insinuar que isso tenha alguma coisa a ver com aquele grande marco do cristianismo relatado em Atos cap. 2 é no mínimo um desrespeito para com a obra do Espírito Santo, um reducionismo de pentecostes.

Portanto, busquemos com zelo os melhores dons: Amor, liberdade e comunicação. Assunto para outra mensagem. Até Mais!

terça-feira, 7 de junho de 2011

UMA NOITE DE MALTRAPILHO

Voltando de Recife, meu vôo atrasou, então perdi o último ônibus que havia, naquela noite, para que eu viajasse de Florianópolis para Tubarão, onde moro. Eu tinha certeza que Deus providenciaria um meio de não passar a noite naquela rodoviária, mas Deus providenciou-me, sim, uma experiência inesquecivel: uma noite de maltrapilho, junto aos andarilhos. O primeiro ônibus só partiria às 08:15 da manhã seguinte. O que se passou em minha alma, expressei lá mesmo, escrevendo o que se segue:

Nem sempre a gente tem quem faça pela gente aquilo a gente faria por outro. E a gente acaba isolado, abandonado, exilado numa mesa de bar, num banco de rodoviária, num copo de cerveja, nas mãos do acaso, sem eira nem beira.

Onde estão os amigos? Onde está a fé? Onde está a esperança? Onde estão os sonhos? Onde estão as pipas? Onde estão as crianças? Ao menos aquela que existia dentro de mim?

De repente tudo mudou, o sol não brilhou, a luz não raiou, meu amor não me esperou, a janela fechou, a mandinga falhou, mais nada sobrou, a esperança cansou, a fé desacreditou, a pipa rasgou.
E eu que pensava ser alguém e imaginava entre nobres, surpreendi-me entre maltrapilhos, compartilhando o mesmo teto, os mesmos acentos e o mesmo sono mal dormido.

Já não sei se choro ou se rio, se agradeço ou amaldiçôo. É um sentimento flex, uma emoção mix que me invade formando em minha mente um pensamento híbrido.

Mas os híbridos não geram híbridos. Portanto essa é uma experiência única. Talvez devesse experiencia-la mais vezes. Talvez todos devessem experimentá-la: um dia de andarilho, um dia de maltrapilho, um dia de miséria e caos, um dia encarcerado, algemado, dolorido, esmagado, humilhado.

Depois disso jamais olharei do mesmo jeito, preconceituoso e soberbo, para o pobre e sofredor. Também já não verei minha vida da mesma forma. Uma noite de frio, sem teto, sem cama, sem lar, sem carinho, sem os filhos e sem o colo da mulher que se ama, inexoravelmente realça o valor de um dia quente, uma manhã de primavera, do abraço dos filhos, do amor da mulher amada.

Hoje estou aqui, logo estarei em casa. Mas, estes pobres, tudo o que têm são estes bancos, o frio, a companhia dos pombos e esta impressionante habilidade de dormir de qualquer jeito! O que planejam? O que sonham? Com o que se preocupam? Seja lá o que for, planejarão, sonharão e se preocuparão quando o sol nascer. Viverão um dia de cada vez, pois bem sabem que “basta a cada dia o seu próprio mal”. Acho que é por isso que nesse exato momento eu escrevo e eles dormem... E como dormem!

Dormem como eu não durmo mesmo em meio a todo conforto! Talvez o que me conforta mesmo é pensar e escrever. E assim expurgo meus demônios, exorcizo meus traumas, anestesio minha alma e tomo coragem para enfrentar o amanhã.

E por falar em amanhã...

Ah! Deixe para amanhã.

Obs.: Olho para o termômetro interno da rodoviária e ele marca 22ºC. é a mesma temperatura que regulei o ar condicionado na noite anterior. E penso: no fim somos todos iguais.

Julio Zamparetti
Rodoviária de Florianópolis, 03 de junho de 2011

quarta-feira, 1 de junho de 2011

ORAÇÃO E SILÊNCIO

O que dizer a Deus na oração? Alguns dizem não saber o que dizer e por isso não oram. Mas oração, mais do que falar com Deus, é também ouvi-lo, e isso requer intimidade. A intimidade nos proporciona a liberdade de falar, ao amigo íntimo, todas as angústias, ansiedades, pecados, fraquezas, decepções, desamores e desafetos. A verdade é que sempre temos algo novo para compartilhar com nosso amigo íntimo. Mas essa mesma intimidade provoca abertura para que possamos ouvir, do amigo, palavras doces ou duras, de incentivo ou de repreensão, porque um amigo verdadeiro e verdadeiramente íntimo não fala ao amigo apenas o que esse deseja ouvir, mas também lhe falará o que precisa ouvir.

Todavia, a oração ainda é mais do que falar e ouvir, é também silêncio, total e absoluto. E quando, nessa hora, pensamos estar mergulhados na solidão, Deus se revela a nós da maneira mais ampla que possamos suportar. O silêncio é capaz de nos fazer transcender a intimidade fraternal, para nos lançar numa espécie de intimidade conjugal com o criador do universo. Nesse instante, as palavras tornam-se dispensáveis, afinal, elas seriam incapazes de expressar essa experiência...
...
...
...
“No silêncio Tu estás”



Julio Zamparetti
Recife, 31 de maio de 2011