Por Julio Zamparetti
Quando
vi um pequeno desenho em que cinco pessoas representando as cinco grandes
religiões do mundo estavam de mãos dadas e sobre elas uma frase que dizia que “a
missão das religiões deveria ser te unir ao divino e não te separar do teu
irmão”, comecei a refletir sobre o que nos impede de sermos assim.
O
problema não está, simplesmente, no fato de que a missão das religiões seja promover
a união com o divino. Isso é o que todas propõem. O problema está justamente no
fato de que as pessoas pensam que sua religiosidade faz isso e que só ela faz
isso. Dessa forma, tem-se por certo de que a fidelidade a Deus constitui, necessariamente,
uma inimizade com o mundo e os deste mundo, infiéis, ou fiéis de outra religião.
Pensa-se que a amizade e tolerância com a religião alheia é um ato de
infidelidade ao Deus verdadeiro, além de ser uma conivência à danação da alma
daquele que pratica outra religiosidade. Portanto, para esse tipo de religioso,
a intolerância religiosa não é apenas um ato de amor a Deus, mas também um ato
de amor ao próximo, já que a conversão dele o salvará das chamas eternas do
inferno. Ironicamente, o que se percebe disso é que nossa religiosidade promete
um céu depois, mas em função disso cria um verdadeiro inferno agora; almeja paz
no céu, fazendo guerra santa na terra; prega uma religação com deus a quem não
vê, mas separa os irmãos aos quais vê. E eu me pergunto: que crédito eu posso
dar a uma religião assim? Certamente há alguma coisa errada.
Essa
concepção de exclusividade salvífica da religião foi o que a caracterizou até
aqui e até aqui é o que lhe confere o atributo de confiabilidade. Santo
Agostinho (400 a.D.) já dizia equivocadamente: “fora da Igreja Católica não há
salvação”. E por mais que novas igrejas critiquem o santo e a igreja Católica,
fazem o mesmo apropriando-se da verdade como se só seus olhos a pudessem enxergá-la.
E para piorar, as pessoas em geral sempre dão mais credibilidade às igrejas que
assim se portam, pois esperam, de sua liderança, a garantia de que vão morar no
céu.
Então,
se a apropriação daquilo que é chamado de “verdadeira revelação” é uma
característica religiosa, proponho a desreligionização da religião. Pois não há
saída. Depois de tantos séculos de acusações de uns sobre os outros, concluo
que se todos estiverem certos, estarão todos errados; e se apenas um estiver
certo, voltamos à estaca zero, de onde já vimos que está tudo errado.
É
necessário, então, perdermos a maior característica da religiosidade e
deixarmos de pensar que somos donos da verdade. Jesus denunciou os fariseus por
se assentarem na cadeira de Moisés, não passarem pela porta e nem deixarem os
outros entrarem. Hoje os Cristãos se sentam na cadeira de Jesus e fazem a mesma
coisa que fizeram os judeus.
Ninguém
é dono da verdade e nenhuma verdade é absoluta. É necessário respeitar a forma
como o outro vê Deus. Só há um Deus, eu concordo. Mas as formas como esse único
Deus se revela são inúmeras. Javé, Krishna, Jesus, Buda, Alá ou Oxalá, são
apenas algumas das formas mais populares. Podemos acrescentar Iandejára e
Ianderum, os deuses que os índios Tupis-Guaranis e Guaranis, respectivamente,
já criam antes de qualquer catequização dos homens brancos.
Cada
tribo ou povo disperso no tempo e no espaço teve sua forma de interpretar a
revelação de Deus através da natureza, da consciência e da inspiração. Penso que
nenhuma revelação é superior à outra, mas são todas complementares. Todas as religiões são como garimpos cheios de
cascalhos e pedras preciosas. O importante é que retenhamos delas o que é bom,
e sejamos seres humanos melhores.
Isso
salva o mundo.
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