sábado, 20 de dezembro de 2014

EU E RUBEM ALVES

Por Julio Zamparetti

Eu não posso negar o quanto gosto de ler Rubem Alves. Acredito ter muita coisa em comum com ele, sobretudo a forma de encarar Deus. Embora eu não seja digno de comparar-me a tamanho gênio, o fato é que tivemos uma formação protestante, escrevemos alguns livros, como eu, ele era diabético, de maneira semelhante nos desiludimos com a religião, ele se tornou psicoterapeuta e eu um padre anglicano. Por mais estranho que possa parecer, considero possível que nossa maior semelhança esteja neste último quesito. Acontece que nossa desilusão com a religião nos levou a um caminho que acredito ser mais próximo de Deus, especificamente aquele Deus do qual a religião se desligou.

Quando o Santo Apóstolo Paulo anunciava um Deus desconhecido ao povo de Atenas, parecia fazer uma antítese da pregação da religião que o procedeu. Digo isso porque a religião sempre anuncia um deus totalmente conhecido, descrito e delineado. Os catecismos religiosos respondem a tudo, explicam Deus, revelam sua vontade, dizem quem vai pro céu, quem vai pro inferno, como se vestir, o que comer, quando não comer, o que não fazer, o que agrada a Deus e o que o desagrada. É bem verdade que nem o próprio Apóstolo Paulo resistiu à tentação de também dizer quem seria barrado na porta do céu. Mas tudo bem! Quem nunca caiu em tentação? Todavia eu insisto que certo estava Cristo quando disse que as prostitutas (de quem Paulo disse que não entrariam no Reino do Céu) precederiam, no céu, aos religiosos (de quem Paulo poupou em seu julgamento). Isso me leva a crer que ninguém sabe bulhufas alguma sobre quem são os condôminos celestes, se é que estes existem.

Por isso anuncio um Deus que desconheço. Assim, eu padre, me assemelho a Rubem psicoterapeuta. Psicoterapeutas não têm as respostas. Se as tiver, serão falsas. A função do psicoterapeuta é ajudar seu cliente a encontrar suas respostas dentro de si. Essas sim serão verdadeiras, ainda que contrárias ao que o próprio terapeuta esperava. Eu sei que padres são religiosos e que a religião, ao contrário da psicoterapia, tem respostas pra tudo. Mas acima de tudo, um padre tem um compromisso com Cristo, que, por sua vez, nunca dava as respostas. Ele usava e abusava do processo maiêutico, fazendo com que seus interlocutores acabassem por responder a própria pergunta. Não foram poucas as vezes em que Jesus respondeu uma pergunta com outra pergunta! Ao contrário da religião, Ele fazia as pessoas pensarem.

Comumente as pessoas vêm, a mim, contar seus problemas esperando que eu lhes diga o que fazer. Eu não tenho as respostas! Se as tiver, serão falsas. Minha tarefa como conselheiro espiritual é ajudar a pessoa a encontrar a paz e o equilíbrio para saber avaliar com clareza a situação e olharem para dentro de si a fim de que isso possa contribuir no processo da busca da sua própria resposta, pois esta seguramente será a resposta certa, ainda que contrarie a resposta que eu presumia.

Infelizmente nossa gente ainda prefere as respostas falsas. São mais fáceis, estão prontas, é só comprar, e estão em promoção. É a geração da terceirização terceirizando o pensamento. Bem sabem disso os vendilhões da fé que se aproveitam disso para lotar suas igrejas e engordar suas contas bancárias. Com uma resposta simples para todos os complexos problemas da vida, eles iludem as multidões dos que são incapazes de exercitar a faculdade, dada por Deus, do livre pensamento.

Voltando ao assunto da semelhança do pensamento que tenho sobre Deus com o pensamento de Rubem Alves, chama-me a atenção o fato de que só há pouco tempo conheci seus escritos, enquanto seus pensamentos já os conheço há muito tempo. Acho que pensamentos são energias que produzimos e (como no universo nada se perde, tudo se transforma) são capazes de integrar ambientes, modificar situações, e muitas vezes reverberar no espaço até encontrar um cabeção onde pousar. Por isso tenho uma leve desconfiança de que sintonizei a frequência dos pensamentos de Rubem Alves, fazendo com que os conhecesse antes mesmos de poder lê-los. Mas isso não acontece por acaso. O que acontece é que, enquanto na física os opostos se atraem, na metafísica os que se atraem são os semelhantes. Então, se você quer sintonizar coisas boas, comece pensando e praticando coisas boas... Viu? Já atraiu esse texto! Tomara que isso seja bom!

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