quinta-feira, 9 de outubro de 2014

SOBRE HOMOSSEXUALIDADE

Por Julio Zamparetti

Se você descobrisse que seu filho é homossexual, amaria-o da mesma forma? Abençoaria a família que ele constituísse independentemente do modelo familiar? A despeito do que afirmam os fundamentalistas religiosos, acredito que Deus abençoa tal relacionamento. Afinal, uma coisa é o que a Bíblia diz, outra coisa é como a entendemos. É por isso que não temos pleno consenso em nossas interpretações. A única convicção teológica que tenho, hoje, é que o amor encobre multidão de erros, enquanto a falta dele aniquila qualquer chance de acerto. Assim não abro mão de amar indistintamente. Por isso amaria, aceitaria e abençoaria meu filho se fosse o caso, qual caso fosse.

Então o homossexualismo é abençoado por Deus? Duvido que Deus abençoe qualquer "ismo", seja ele qual for. Nem mesmo o cristianismo. Até porque nem Cristo é cristão. Os ‘ismos’ são doutrinas, conjuntos de ideias parciais organizadas para convencer alguém de uma “verdade” normalmente apresentada como absoluta. Destaco, portanto, que defendo o direito de pessoas viverem sua sexualidade seja homo ou hetero; mas de forma alguma defendo qualquer espécie de doutrinação, seja gaysista, machista, feminista, nazista, homofobista, evangelista, ou ceticista. Todas são formas de inculcar verdades particulares que tolhem o livre pensar alheio. E para não ser incoerente, não espero que Deus abençoe nem mesmo este meu antiismismo, pois uma antidoutrina não é mais que outra doutrina. Assim julgo ter apenas alguma chance de estar certo em alguma coisa, e se você quiser acreditar nisso, faça-o por sua conta e risco, se for livre para fazê-lo.

Mas por que o Apóstolo Paulo condenou os efeminados? Ora, se o texto estivesse realmente falando dos efeminados, no sentido da sexualidade, estaria isentando as lésbicas da mesma condenação. No entando, se o sentido real é o de ‘mole’ (tradução literal do grego ‘malakos’), pode estar se referindo a pessoas sem caráter, que se escondem atrás do fundamentalismo religioso e não têm firmeza para expressarem uma opinião livre e sincera, pessoas que não pensam por si, mas importam pensamentos de outros sem serem capazes de julgar qualquer “verdade” que lhes foi inculcada. Eu considero, e acredito que Deus também considere, que a falta de firmeza de caráter (malakos) é algo abominável e digno de condenação.

Lembre-se que amar é uma decisão, sexualidade não. Todas as teses que tentaram explicar a causa da homossexualidade foram derrubadas. Talvez isso tenha acontecido porque a homossexualidade não seja um mero efeito, mas simplesmente uma causa. Isso deveria ser especialmente entendido por quem acredita que não somos apenas corpo, mas corpo e espírito, pois se está comprovado que não há genes da homossexualidade, essa característica do ser deve estar no espírito, e não na carne. E sendo assim, eu até gostaria que a homossexualidade fosse apenas uma questão de influência demoníaca como creem alguns. Assim, “o problema” seria resolvido com um bom exorcismo ou banho de descarrego (rs). Mas ciente de que o não é esse o caso, fico com uma solução mais confiável, embora muito mais difícil: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei".

Então a homossexualidade vem de Deus? Eu não sei de onde mais poderia vir. É a própria Escritura quem diz que a carne vem do pó, que o espírito vem de Deus.

E quanto ao crescei e multiplicai, tantas vezes usado como argumento contra os relacionamentos homoafetivos, por conta da irreprodutibilidade, também deveria ser considerado em relação ao uso de anticoncepcionais. Ou será que seremos bíblicos apenas no que nos convém? Nesse aspecto acho biblicamente coerente o catecismo católico romano, que condena a prática homossexual e também a pílula e a camisinha. Coerente, mas impraticável, sejamos honestos. A prova dessa impraticabilidade é a concessão feita pelo próprio catecismo em relação aos métodos contraceptivos chamados de naturais. Mas estes não ferem também o mandamento que ordena a multiplicação? Mas se Deus desejar a concepção, a tabelinha não impedirá o desejo de Deus, dizem eles. Mas eu pergunto: que Deus é esse que depende da irregularidade de um método para realizar sua vontade? Por que o Deus que faz a virgem conceber não poderia realizar sua vontade a despeito de qualquer impedimento à concepção?


Engraçado é que qualquer ferramenta hermenêutica que você utilizar para justificar o uso de qualquer método contraceptivo, fortalecerá os argumentos que justificam a homoafetividade! Bem por isso, não me oponho nem a um, nem a outro. Acredito que sexo também foi feito para fazer-nos felizes. E se isso fere o fundamentalismo não estou preocupado. Sinto-me seguro na misericórdia de Deus, e disso não me faltam fundamentos. E se Deus é misericordioso, quem sou eu para contestar?