terça-feira, 30 de março de 2010

A VIRGEM MARIA, JERUSALÉM, E O TESOURO

À virgem foi anunciada a concepção do Filho de Deus. Mesmo sem compreender como isso se daria e arriscando sua reputação, ela se dispôs como verdadeira serva de Deus e aceitou todas as conseqüências que tal decisão acarretou sobre si. Assim, se alegrou no nascimento do salvador, se orgulhou no menino que crescia em sabedoria e graça, confiou no futuro promissor do jovem galileu, sonhou com o Reino anunciado nas palavras do Mestre. Mas como a vida não é só bonança, sofreu pelo sofrimento de seu filho, sem o deixar só em momento algum de sua via sacra; chorou aos pés da cruz, sem desacreditar que o crucificado era o Rei e a cruz seu trono. E para quem viveu tão ardorosa via, quão mais prazeroso é o jubilo da ressurreição!

Dias antes daquele suplício, entrava Cristo em Jerusalém. Em brados de alegria, gritava aquela gente: “Bendito o que vem em Nome do Senhor”. Concebiam também, eles, o mesmo Cristo que Maria havia concebido. Todavia, Cristo... ah, esse não teria deles a mesma fidelidade recebida dela. Alguns dias depois, as mesmas vozes que cantavam “hosana ao Rei”, gritariam “crucifiquem-no”.

Hoje, uma geração que nega sua cruz, sua história e seus mártires; que pensa que cristianismo é conquista material, riquezas e poderes; que não se dispõe a reinar com Cristo na cruz, que não sabe o valor da cruz, nem o poder do crucificado, não pode, de forma alguma, entender o valor da ressurreição, nem se regozijar de verdade em sua glória.

Diante de tão grande degradação espiritual, não é de se admirar que até os que se dizem cristãos não percebam quão precioso tesouro é a páscoa e todas as demais graças cristãs entesouradas em nossa liturgia. Muitos realizam em suas igrejas todo tipo de festas, algumas de conotações judaicas, outras oriundas de mero apelo comercial, enquanto o tesouro cristão é renegado ao esquecimento, a ponto que, em algumas igrejas, falar de quaresma, páscoa ou advento, é coisa do capeta! Pobres criaturas... Estão trocando Cristo por Barrabás!

A Igreja de Cristo é como uma arca do tesouro. Tal qual Jerusalém e Maria que com alegria conceberam o filho de Deus em seu interior. Entretanto, tal qual Jerusalém, essa mesma igreja, não poucas vezes, rejeita seu tesouro trocando-o pelos barrabases dos modismos, oba-obas, barganhas e evangelhos em liquidações. Até quando?!

Tal qual Maria, sejamos nós a arca que contém o mais precioso tesouro e o revela ao mundo sem dele se envergonhar, anunciando-o a tempo e fora de tempo, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, na cruz e na ressurreição. Pois só quem participa de sua morte, se alegrará em sua vida.

“Porque, se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição” (Romanos 6.5).

Que a páscoa nos seja muito feliz.

sexta-feira, 26 de março de 2010

ALGUÉM PARA AMAR

Por MADRE TERESA DE CALCUTÁ

Senhor,

Quando eu tiver fome,
dai-me alguém que necessite de comida.

Quando tiver sede,
dai-me alguém que precise de água.

Quando sentir frio,
dai-me alguém que necessite de calor.

Quando tiver um aborrecimento,
dai-me alguém que necessite de consolo.

Quando minha cruz parecer pesada,
deixe-me compartilhar a cruz do outro.

Quando me achar pobre,
ponde a meu lado alguém necessitado.

Quanto não tiver tempo,
dai-me alguém que precise de alguns dos meus minutos.

Quando sofrer humilhação,
dai-me ocasião para elogiar alguém.

Quando estiver desanimada,
dai-me alguém para lhe dar novo ânimo.

Quando sentir a necessidade da compreensão dos outros,
dai-me alguém que necessite da minha.

Quando sentir necessidade de que cuidem de mim,
dai-me alguém que eu tenha de atender.

Quando pensar em mim mesma,
voltai minha atenção para outra pessoa.

Tornai-nos dignos, Senhor, de servir nossos irmãos
que vivem e morrem pobres e com fome, no mundo de hoje.

Dai-lhes, através das nossas mãos, o pão de cada dia
e dai-lhes, graças ao nosso amor compassivo, a paz e a alegria.

sábado, 13 de março de 2010

AS RELIGIÕES E SEUS CONFLITOS

Inegavelmente, a religião exerce influência fundamental na construção das relações entre indivíduos e povos. Esse fato pode ser constatado em todas as épocas da história da humanidade. Ela que foi constituída para unir os indivíduos em torno da paz e comunhão, tem sido corriqueiramente alvo de grandes e pequenos conflitos. Em meio a este conturbado cenário urge a necessidade de nos dispormos a suplantar os obstáculos das diferenças dogmáticas em prol daquilo que é o teor de uma verdadeira mensagem religiosa, desafiando-nos a comungar o que de mais valioso pode haver na religião, constrangendo-nos a pregar e viver a paz e o amor.

Altruísmo, alguém sabe o que quer dizer? A resposta seria mais fácil se a pergunta fosse a respeito de metas pessoais, prazer, satisfação, realização, sonhos, projeto de vida. Mas, altruísmo... altruísmo, realmente está em desuso e, conforme os princípios de Darwin, enfadada a extinção. Tudo porque, quando crianças, os homens acreditam que o universo gira em torno deles. Os pais são seus, a casa, as ruas, a terra e as estrelas são todos seus e feitos para si. Crescem, amadurecem, envelhecem, mas não aprendem. Não aprendem que a vida não tem um fim em si mesma; que o sentido de viver é servir.

Muitos são, hoje, os seguimentos religiosos existentes no Brasil e no mundo. Tão grande quanto o número de religiões são os seus conflitos, frutos da intolerância, da falta de caridade, do fundamentalismo e de interesse econômicos.


INTOLERÂNCIA


Indivíduos não foram feitos para as religiões, as religiões é que foram feitas para os indivíduos, para ampará-los, conforta-los e acolhe-los sem discriminação. Para a verdadeira religião, não importa amar apenas os sãos, mas principalmente os enfermos, excluídos e discriminados que a ela venham ou mesmo deixem de vir.


FALTA DE CARIDADE

A grande contradição deste tema se dá, justamente, ao tratarmos da falta de caridade entre aqueles que subsistem através da propagação da caridade. Ou seja, dependem do discurso da caridade para a sua subsistência, porém efetivamente não a buscam na convivência. A caridade é o amor que leva alguém a realizar boas obras sem esperar absolutamente nada em troca. Quando tratamos de caridade estamos falando de um amor verdadeiro, ativo ainda que não correspondido. Todas as religiões subsistem-se dessa mensagem. Vive-la, não seria a solução para todos os conflitos?


FUNDAMENTALISMO


O Fundamentalismo religioso está presente em todas as religiões. Seus dogmas estão, para seus adeptos, acima de qualquer ciência, lógica, bom censo e até mesmo acima da própria vida humana. Apesar de que quando nos referimos ao fundamentalismo logo pensamos em grupos extremistas, o fundamentalismo não se restringe a esses. Muitas seitas religiosas ou mesmo indivíduos, cada qual em sua devida dimensão, também vivem o fundamentalismo quando discriminam outro indivíduo ou grupo por não crerem ou pensarem conforme seus fundamentos.


INTERESSES ECONÔMICOS


Outro fator de conflito em que a religião está ataviada é a questão econômica. Existe muita coisa em jogo quando o assunto é a economia religiosa. Nele está envolvido toda uma questão de força política e poderio econômico do qual ninguém se dispõe a abrir mão. Assuntos de cunho relativo à fé são discutidos e dirigidos sob o prisma político-monetário, maquiavelicamente, onde o que realmente interessa é a manutenção do poder. É em nome desse poder que alianças são feitas ou desfeitas e o amigo de hoje torna-se inimigo, amanhã.


CONCLUSÃO


O caminho da construção da paz se dá na comunhão do fundamento essencial de uma religião que realmente religa, o amor. Isso compreende o respeito à individualidade, às diferenças religiosas e culturais e à liberdade de expressão. Compreende também em se ter a vida e o ser humano acima dos dogmas fundamentalistas. Compreende a disposição de fazer o bem sem olhar a quem, nem olhar o quanto isso possa gerar ônus ou bônus para si, de forma altruísta. E por falar nisso, altruísmo, alguém sabe o que quer dizer? Quando aprendermos, teremos sempre uma feliz páscoa.