quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Profecia sobre um cristianismo a-religioso

Um dia há de chegar em que os homens novamente serão chamados a proferir a Palavra de Deus, de tal maneira que o mundo, sob sua influência, se transforme e se renove. Será uma linguagem nova, talvez completamente a-religiosa, mas será uma linguagem libertadora e redentora como a fala de Jesus.

Então os homens hão de se espantar com ela, mas mesmo assim serão dominados por seu poder.

Será a linguagem de uma nova justiça e verdade, a linguagem que anuncia a paz de Deus com os homens e a proximidade do seu reino.


Palavra profética escrita da prisão em 1944 por Dietrich Bonhoffer, teólogo protestante, condenado à morte por haver participado de um complô contra Hitler.


"Espantar-se-ão e tremerão por causa de todo o bem e por causa de toda a paz que lhe dou" (Jer.33:9).

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

ENTRE DOIS MUNDOS

Estendera o Eterno, de um a outro extremo, a sua potência creadora - desde os puros espíritos até à matéria bruta.

Desde a mais alta vida intelectual - até à mais profunda negação do intelecto.

Entretanto, não atingira ainda o Eterno o extremo limite de sua divina audácia...

Restava-lhe ainda o mais temerário e paradoxal de todos os atos - a união do espírito e da matéria.

Seria possível fundir em um único ser a luz dos puros espíritos - e a noite da matéria inerte?...

Reduzir a uma síntese essas duas antíteses?...

"E disse o Senhor: Façamos o homem - e fez Deus, da substância da terra, um corpo e inspirou-lhe na face o espírito vivente"...

E ergueu-se, no meio da natureza virgem, esse paradoxo ambulante, esse enigma anônimo, essa indefinível esfinge, semi-animal e semi-anjo - o homem...

Quando os espíritos celestes viram o homem, exultaram sobre a sua grandeza e choraram sobre a sua miséria......

Cristalizaram-se, na alma humana, essas centelhas de júbilo e essas lágrimas de dor - e formaram um mar imenso de doce amargura e inextinguível nostalgia...

Principiou, então, neste mundo visível, a luta entre a luz e as trevas - entre o bem e o mal...

A história da humanidade......

Têm os puros espíritos sua pátria - lá em cima......

Tem a matéria bruta sua sede - cá embaixo...

Mas onde está a pátria do espírito-matéria?...

Na terra? - protesta o espírito!

No céu? - protesta a matéria!

Entre o céu e a terra? - mas lá se erguem os braços duma cruz!

É por isto mesmo que o mais humano e mais divino dos homens expirou entre o céu e a terra - na sua pátria cruciforme...

"Não havia lugar para ele" - em outra parte...

E é por isso mesmo que os melhores dentre os homens são sempre crucificados...

Não os compreende a terra - nem os acolheu ainda o céu...

E assim, entre o céu e a terra, vive o homem esta vida dilacerada de angústias e paradoxos.

Sem pátria certa

Em perene exílio

Oscilando entre a matéria e o espírito

Lutando

Sofrendo

Amando

Até que a matéria volte à matéria

E o espírito ao Espírito

Sintetizando dois mundos

Em Deus.

(Texto extraído do livro "De Alma Para Alma";
Huberto Rohden; Editora Martin Clare)

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

CRISTO NÃO RELIGIOSO

Cristo não era religioso. Temos por dizer que ele era um sacerdote leigo. Jesus não fazia parte da tribo de Levita. Portanto, não era levita, mas sim descendente da tribo de Judá.

Talvez por isso não me espante o fato de tão poucas vezes os evangelhos relatarem ele no templo. Pelo contrário, Jesus encontrava-se quase sempre nas praias, nos montes, nas festas, nas ruas, nos poços, entre pescadores, marceneiros, lavradores, publicanos, pecadores, prostitutas, leprosos e excluídos em geral.

Tenho por certo que cristianismo não é religiosidade. Religiosidade é o conjunto de normas, rituais e compromissos exercidos dentro do templo. A religiosidade tem seu devido valor, mas cristianismo vai muito além disso. Cristianismo é o modo de vida baseado na vida de Cristo.

Uma vez que a vida de Cristo não se encerra numa conduta religiosa, também o cristianismo não pode confinar-se a religiosidade.

A Igreja precisa assumir sua função de cristianismo e sair das quatro paredes. Pois o mundo precisa da luz cristã sobre a política, os negócios, a música, teatro, TV, cinema e com a educação em todos os seus aspectos. A igreja precisa estar envolvida e comprometida com os pobres, os doentes, os excluídos, as minorias, amando-os, compreendendo-os, respeitando-os e valorizando-os ainda que suas ideologias e filosofias sejam antagônicas ao nosso parecer.

Podem, os cristãos, fazer diferente de Cristo?

domingo, 8 de fevereiro de 2009

A CRUZ

Recebi um recado, no mínimo, estranho de certo amigo do orkut. Não sei ao certo a razão que o levou a isso (talvez tenha olhado minhas fotos e visto a capa de meu livro O Cristianismo que os Cristãos Rejeitam). O fato é que ele assim escreveu: “amado o senhor não sabe que a cruz é sinal de maldição, não? leia Gl 5:13”.

Sinceramente, não sei de onde essa gente encontra tantas bobagens pra falar! Se dizem evangélicas, mas não estão nem um pouco preocupadas com o que diz o evangelho. Vivem apenas um esdrúxulo anti-catolicismo!

Reflitamos:

“Então, convocando a multidão e juntamente os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Marcos 8:34).

Se cruz fosse sinal de maldição, Jesus teria nos mandado carregar nossa própria maldição? Mas não foi o próprio Jesus quem a carregou? Teria, São Paulo, errado, quando afirmou: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar” (Gl.3:13)?

Ora, tendo Ele se feito maldição em meu lugar, a cruz deixou de simbolizar maldição para mim, fazendo-se sinal de graça. Por isso, quanto a mim, aproprio-me das palavras de São Paulo:

“Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo” (Gálatas 6:14).

“Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo” (Filipenses 3:18).

NÃO SEJA, VOCÊ, MAIS UM DESTES.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

EU GOSTO DOS QUE ARDEM

Chamaram-me a atenção os versos da música Senhas de Adriana Calcanhoto. Os versos finais dizem:

O que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Não, não gosto dos bons modos
Não gosto

Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem


Confesso, tiro o chapéu pra essa garota! Também não gosto do bom gosto. Afinal, quem definiu qual gosto é bom? E se esse gosto eu não gostar? E se esse modo não me agradar? Terei que gostá-lo somente porque alguém ou a maioria falou que é bom? Onde fica o valor da diversidade? Cadê o respeito a particularidade? O que fazer da originalidade?

Eu também gosto dos que não escondem sua fome nem reprimem sua vontade, acreditam no que desejam e se consomem por seus ideais, ainda que isso represente um sentimento solitário ou minoritário.

Caminhamos cada vez mais em direção a uma sociedade de mente passiva, sem senso crítico, um bando de Maria vai com as outras, que anda segundo os ditames da moda fútil, da política maquiavélica e da hipocrisia religiosa.

Estes querem nos engessar, nos etiquetar, nos rotular, moldar nossa aparência sufocando nossa essência. Em contraponto, eu desejo liberdade, originalidade, espontaneidade e autenticidade. Porque bom é fazer o que arde. Foi isso que Cristo quis. Ele não nos impôs sua vontade, antes nos conquistou a fim de que em nós ardesse o que é bom! Assim disse o Mestre:

"Eu vim para lançar fogo sobre a terra e bem quisera que já estivesse a arder" (Lucas 12:49).

Não precisamos nos sujeitar ao bom gosto. Precisamos sim arder de desejo pelo que é bom, pelo que é justo, pelos direitos das minorias, pela liberdade de ir e vir, pela liberdade de expressão, pelo direito de crer e ser. Ser um indivíduo inserido (não excluído) no coletivo. Não podemos ser, nem querer que outros sejam, um coletivo infundido num indivíduo.

Não me etiquetem, não me rotulem. Desculpem-me os maus modos, mas só falo o que me arde!