terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

ENTRE DOIS MUNDOS

Estendera o Eterno, de um a outro extremo, a sua potência creadora - desde os puros espíritos até à matéria bruta.

Desde a mais alta vida intelectual - até à mais profunda negação do intelecto.

Entretanto, não atingira ainda o Eterno o extremo limite de sua divina audácia...

Restava-lhe ainda o mais temerário e paradoxal de todos os atos - a união do espírito e da matéria.

Seria possível fundir em um único ser a luz dos puros espíritos - e a noite da matéria inerte?...

Reduzir a uma síntese essas duas antíteses?...

"E disse o Senhor: Façamos o homem - e fez Deus, da substância da terra, um corpo e inspirou-lhe na face o espírito vivente"...

E ergueu-se, no meio da natureza virgem, esse paradoxo ambulante, esse enigma anônimo, essa indefinível esfinge, semi-animal e semi-anjo - o homem...

Quando os espíritos celestes viram o homem, exultaram sobre a sua grandeza e choraram sobre a sua miséria......

Cristalizaram-se, na alma humana, essas centelhas de júbilo e essas lágrimas de dor - e formaram um mar imenso de doce amargura e inextinguível nostalgia...

Principiou, então, neste mundo visível, a luta entre a luz e as trevas - entre o bem e o mal...

A história da humanidade......

Têm os puros espíritos sua pátria - lá em cima......

Tem a matéria bruta sua sede - cá embaixo...

Mas onde está a pátria do espírito-matéria?...

Na terra? - protesta o espírito!

No céu? - protesta a matéria!

Entre o céu e a terra? - mas lá se erguem os braços duma cruz!

É por isto mesmo que o mais humano e mais divino dos homens expirou entre o céu e a terra - na sua pátria cruciforme...

"Não havia lugar para ele" - em outra parte...

E é por isso mesmo que os melhores dentre os homens são sempre crucificados...

Não os compreende a terra - nem os acolheu ainda o céu...

E assim, entre o céu e a terra, vive o homem esta vida dilacerada de angústias e paradoxos.

Sem pátria certa

Em perene exílio

Oscilando entre a matéria e o espírito

Lutando

Sofrendo

Amando

Até que a matéria volte à matéria

E o espírito ao Espírito

Sintetizando dois mundos

Em Deus.

(Texto extraído do livro "De Alma Para Alma";
Huberto Rohden; Editora Martin Clare)

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