sábado, 6 de dezembro de 2014

EU NÃO CONHEÇO DEUS

Por Julio Zamparetti

Confesso: eu não conheço Deus! Também não conheço Curitiba, embora já tenha estado lá diversas vezes. Já estive algumas vezes na cidade de São Paulo, mas sem dúvida não a conheço mesmo! Seria insanidade afirmar conhece-la por ter andado pelo terminal Tietê ou ter corrido pelos portões de embarque do aeroporto de Congonhas. E o Rio de Janeiro... Ah o Rio! Conheço alguns quarteirões de Curicica, algumas ruas de Jacarepaguá, Duque de Caxias, baixada Fluminense, o Shopping da Barra, a praia de Ipanema e claro, o Maracanã. Mas tudo isso eu devo aos amigos anfitriões que gentilmente me conduziram pela Cidade Maravilhosa, pois eu, sozinho no Rio, faria coro à música de Renato Russo: “preciso me encontrar, mas não sei onde estou”. Isso, simplesmente porque não conheço o Rio de Janeiro, senão de por lá passar, assistir TV e ouvir falar.

Como, pois, eu poderia conhecer Deus? Nem minha pequena cidade, no interior catarinense, eu conheço todalmente! Deus seria ainda menor que ela para que eu o conhecesse?

Houve quem em sã consciência afirmou ter conhecido Deus de ouvir falar e depois de andar com Ele. Com base nisso há quem presuma conhecer Deus dessa mesma forma. Mas eu, na minha loucura, afirmo que estão todos enganados. Afinal, por onde tem andado essa gente a ponto de conhecê-lo? Teriam eles andado por outras galáxias? Teriam absorvido todas as culturas da terra? Teriam penetrado a mente de cada ser humano? A menos que você seja capaz de responder sim a todas essas prerrogativas, você não pode dizer que conhece aquele que se revelou de diferentes formas em cada ponto do universo e multiversos, em cada cultura da terra e em cada solitário e livre pensamento humano. A menos, é claro, que você tenha por Deus algo menor que isso, tão medíocre e pequeno a ponto de ser confinado ao seu planeta, à sua cultura, à sua religião e ao que você pensa.

O que conheço de Deus não é nada mais do que aquilo que leio, ouço, vejo, penso ou sinto. E tudo isso está subjugado à minha limitação cognitiva e a condição de onde estou e por onde ando. Há tantos outros caminhos que não são os meus, que não os sei e jamais trilharei, mas sei que Ele lá está também! E lá se revelará a outros que não sou eu, nem se parecem comigo, talvez nunca os conheça, nem os entenda. No entanto, eles entenderão de maneira tão diferente, um pouco do mesmo Deus do qual outro pouco eu entendo.

Conhecê-lo de andar com Ele não é nada, e ainda assim é o máximo que dEle podemos conhecer. A verdade é que Deus não é apenas o que se pode conhecer no caminho! Não seria Deus se não fosse bem maior que isso! Por isso não posso dizer que o conheço. Seria loucura dizer que conheço a Deus por ter andado com Ele por alguns lugares, durante alguns anos, pois o Deus que convictamente desconheço não se limita ao tempo e espaço, muito menos ao meu tempo e espaço.

Deus também se revela por onde os outros andam e de maneira que os outros entendam. É por isso que temos culturas tão distintas, mas que, igualmente, visam preservar a história de sua gente e a ordem na sociedade constituída; cristãos são diferentes de taoistas, budistas, umbandistas, e ainda assim procuram o bem comum! Porque nem o cristianismo, nem o taoísmo, nem qualquer outro ‘ismo’ ou cultura poderia comportar todo conhecimento de quem é Deus. Aliás, nem mesmo o universo inteiro poderia revelar a plenitude do Criador, pois, segundo o autor sagrado, os céus e a terra revelam apenas o que é possível dele ser conhecido. (vd.Rm.1,19)

Caso você pense diferente, não faça mal juízo de mim. É que talvez, por andarmos separados, tenhamos conhecido partes diferentes desse mesmo Deus.

Concluo dizendo que ninguém que realmente queira conhecer a Deus pode fechar-se em sua religião, cultura e filosofia. Para conhecermos, o quanto mais se pode conhecer desse Deus desconhecido e inconhecível, é necessário perder o medo do desconhecido, libertarmo-nos de nossos preconceitos, conhecer outros caminhos, religiões, culturas e filosofias, que não sejam as nossas, com a capacidade de respeitá-las, admirá-las, conviver e aprender com elas. Pois estou certo de que Deus revelou um pouquinho de si a cada pessoa, a fim de que conhecendo-nos e respeita-nos uns aos outros possamos juntos conhecer um pouco mais de Deus e a plena felicidade.


Sendo assim, a todos a paz de Cristo, Shalom, Namasté, Axé, Ahadith...

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