Por Julio Zamparetti
Confesso: eu não
conheço Deus! Também não conheço Curitiba, embora já tenha estado lá diversas vezes.
Já estive algumas vezes na cidade de São Paulo, mas sem dúvida não a conheço
mesmo! Seria insanidade afirmar conhece-la por ter andado pelo terminal Tietê
ou ter corrido pelos portões de embarque do aeroporto de Congonhas. E o Rio de
Janeiro... Ah o Rio! Conheço alguns quarteirões de Curicica, algumas ruas de
Jacarepaguá, Duque de Caxias, baixada Fluminense, o Shopping da Barra, a praia
de Ipanema e claro, o Maracanã. Mas tudo isso eu devo aos amigos anfitriões que
gentilmente me conduziram pela Cidade Maravilhosa, pois eu, sozinho no Rio, faria
coro à música de Renato Russo: “preciso me encontrar, mas não sei onde estou”.
Isso, simplesmente porque não conheço o Rio de Janeiro, senão de por lá passar,
assistir TV e ouvir falar.
Como, pois, eu poderia
conhecer Deus? Nem minha pequena cidade, no interior catarinense, eu conheço
todalmente! Deus seria ainda menor que ela para que eu o conhecesse?
Houve quem em sã
consciência afirmou ter conhecido Deus de ouvir falar e depois de andar com
Ele. Com base nisso há quem presuma conhecer Deus dessa mesma forma. Mas eu, na
minha loucura, afirmo que estão todos enganados. Afinal, por onde tem andado
essa gente a ponto de conhecê-lo? Teriam eles andado por outras galáxias?
Teriam absorvido todas as culturas da terra? Teriam penetrado a mente de cada
ser humano? A menos que você seja capaz de responder sim a todas essas
prerrogativas, você não pode dizer que conhece aquele que se revelou de
diferentes formas em cada ponto do universo e multiversos, em cada cultura da
terra e em cada solitário e livre pensamento humano. A menos, é claro, que você
tenha por Deus algo menor que isso, tão medíocre e pequeno a ponto de ser
confinado ao seu planeta, à sua cultura, à sua religião e ao que você pensa.
O que conheço de Deus
não é nada mais do que aquilo que leio, ouço, vejo, penso ou sinto. E tudo isso
está subjugado à minha limitação cognitiva e a condição de onde estou e por
onde ando. Há tantos outros caminhos que não são os meus, que não os sei e
jamais trilharei, mas sei que Ele lá está também! E lá se revelará a outros que
não sou eu, nem se parecem comigo, talvez nunca os conheça, nem os entenda. No
entanto, eles entenderão de maneira tão diferente, um pouco do mesmo Deus do
qual outro pouco eu entendo.
Conhecê-lo de andar
com Ele não é nada, e ainda assim é o máximo que dEle podemos conhecer. A
verdade é que Deus não é apenas o que se pode conhecer no caminho! Não seria
Deus se não fosse bem maior que isso! Por isso não posso dizer que o conheço.
Seria loucura dizer que conheço a Deus por ter andado com Ele por alguns
lugares, durante alguns anos, pois o Deus que convictamente desconheço não se
limita ao tempo e espaço, muito menos ao meu tempo e espaço.
Deus também se revela
por onde os outros andam e de maneira que os outros entendam. É por isso que
temos culturas tão distintas, mas que, igualmente, visam preservar a história de
sua gente e a ordem na sociedade constituída; cristãos são diferentes de
taoistas, budistas, umbandistas, e ainda assim procuram o bem comum! Porque nem
o cristianismo, nem o taoísmo, nem qualquer outro ‘ismo’ ou cultura poderia
comportar todo conhecimento de quem é Deus. Aliás, nem mesmo o universo inteiro
poderia revelar a plenitude do Criador, pois, segundo o autor sagrado, os céus
e a terra revelam apenas o que é possível dele ser conhecido. (vd.Rm.1,19)
Caso você pense
diferente, não faça mal juízo de mim. É que talvez, por andarmos separados,
tenhamos conhecido partes diferentes desse mesmo Deus.
Concluo dizendo que
ninguém que realmente queira conhecer a Deus pode fechar-se em sua religião,
cultura e filosofia. Para conhecermos, o quanto mais se pode conhecer desse
Deus desconhecido e inconhecível, é necessário perder o medo do desconhecido, libertarmo-nos
de nossos preconceitos, conhecer outros caminhos, religiões, culturas e
filosofias, que não sejam as nossas, com a capacidade de respeitá-las, admirá-las,
conviver e aprender com elas. Pois estou certo de que Deus revelou um pouquinho de si a
cada pessoa, a fim de que conhecendo-nos e respeita-nos uns aos outros possamos
juntos conhecer um pouco mais de Deus e a plena felicidade.
Sendo assim, a todos a
paz de Cristo, Shalom, Namasté, Axé, Ahadith...
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