sexta-feira, 8 de maio de 2009

O FIM DO FIM DO MUNDO

Comumente algumas pessoas me perguntam se eu acho que o fim do mundo realmente está próximo. Prontamente respondo que acredito piamente que estamos, a cada dia que passa, mais longe do fim do mundo.

Em primeiro lugar, estamos mais longe do fim do mundo porque a cada dia chegamos mais perto de nossa morte, o que ocorrerá muito antes que o mundo possa se acabar. Sabedor de que a morte não é o fim, não verei fim algum.

Em segundo lugar, porque, como diz a Bíblia, nosso trabalho, no Senhor não é em vão (I Coríntios 15:58). Portanto, só crê e vive na expectativa do fim do mundo aqueles que trabalham para isso. Eu, no entanto, creio e trabalho para que o mundo seja restaurado.

Não há sentido em escrever livros, educar as crianças, trabalhar por um futuro melhor ou ter qualquer tipo de esperança, e crer que tudo está prestes a se acabar.

Alguma coisa está muito errada! Creio que os homens estão sendo vítimas de uma grande conspiração, oriunda de sua própria concupiscência.

É no mínimo intrigante ver líderes religiosos usarem do discurso de que o fim do mundo está próximo, sensacionalizando qualquer acontecimento cataclísmico para “comprovar” o iminente fim, com intuito de sensibilizar seus ouvintes a se “converterem” logo, já que amanhã pode ser tarde. Depois, esses mesmos líderes usam outro argumento para induzirem seus ouvintes a realizarem doações expressivas a fim de se construir um maravilhoso templo, um “palácio para Deus”. Ora, se o fim está próximo, porque gastar dinheiro construindo palácios? Para quem eles trabalham?

A verdade é que esses disparates têm proporcionado uma geração de homens e mulheres que caminham sob a bandeira do cristianismo, mas na direção contrária de Cristo. Tornaram-se egocêntricos, mesquinhos e amantes de si mesmo. Vêem Cristo como um serviçal sempre disposto a servir aos seus mais fúteis prazeres. Idealizaram um Cristo conforme seus anseios, que longe está de ser o Cristo real, Mestre, Senhor e Rei.

A mesquinhez daqueles que buscam um Cristo ideal é claramente delineada na forma de relacionamento que estes têm com o seu Cristo, o Cristo que idealizaram. Estes ao invés de terem tido um encontro com o Mestre que apregoou e viveu uma vida simples, abnegada e altruísta, encontraram um falso Cristo, que mais se parece com o gênio da lâmpada, que está disposto a realizar-lhes todos os seus desejos.

Nesse tipo de relacionamento o sentido de vida abundante prometida pelo Mestre tem um único direcionamento, o EU. Ninguém, dentre estes, pede a Deus a descoberta da cura para o câncer, da aids, a restauração da camada de ozônio, pois tudo o que deseja é apenas ver a si mesmo curado.

Neste tipo de fé, ser luz para o mundo é tão somente ser iluminado. Pois pra mente medíocre, o mundo gira em torno dela e a pessoa fecha-se como se fosse o mundo em si.

Pra quem crê no seu próprio Cristo idealizado, ao invés de crer no verdadeiro Filho de Deus, uma vida melhor se resume em viver isolado das mazelas sociais, sem que essa o incomode, nem influencie seu bem estar. Para este, cair mil a sua direita e dez mil a esquerda é o que há de mais glorioso, conquanto ele não seja atingido. Estes são incapazes de se alegrarem na alegria alheia, bem como impossibilitados de chorarem com os que choram.

Isso tudo é fruto da pregação de líderes religiosos sem escrúpulos, que fizeram de Cristo um negócio, incitando seus ouvintes a mesma ganância pela qual são dominados.

Se algum fim está próximo, o fim é este. Este é o fim do qual Cristo veio anunciar: O fim de um mundo perverso e pervertido, a fim de que seja transformado em um novo mundo, nova criatura, segundo os princípios daquele que o criou.

Aqueles que vivem a expectativa de um cataclismo universal fatal, não só propagam o fim do mundo, mas também promovem o fim da espiritualidade dinâmica, da esperança, do amor ao próximo, do altruismo, da compaixão. Pois nada disso tem razão de ser, quando tudo o que se espera é o pior.

Então porque aqueles que não crêem no futuro buscam a Deus? Simples, eles crêem que nada pode ser feito em benefício da humanidade, mas que pode ser feito em benefício particular. Eles têm certeza de que não há tempo para melhorar o mundo, mas a convicção de que não há mais tempo muda quando se trata dos interesses particulares. Mas o terrível engano se dá no fato de que na busca desenfreada por seus interesses pessoais, acabam promovendo seu próprio fim. Afinal, assim disse o Mestre: “Quem quiser preservar a sua vida perdê-la-á; e quem a perder de fato a salvará” (Lucas 17:33).

Não é difícil perceber que o mesmo espírito que move a ganância dos homens de negócio, também move e rege os ditames e o proceder dos homens que lideram o mercado da fé, bem como aqueles que os seguem. Vê-se aí um mundo em que nada é de graça, um mundo em que toda ação tem um fundo de interesse pessoal, um mundo em que o capetalismo (sic) impera. Embora as circunstâncias indiciem que esse mundo se fortalece a cada dia, tenho fé e esperança de que esse mundo terá um fim.

Foi para destruir este mundo de sistemas corruptos que Cristo se fez homem e elegeu homens para serem cristos nessa batalha. É contra esse mundo que os homens devem proferir o fim e não contra a criação de Deus. Pois “a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Romanos 8:21).

Estou certo de que a transformação deste mundo começa em nosso interior, através de uma reeducação espiritual, da consciência e do cuidado ambiental, da retomada dos valores cristãos, da morte do egocentrismo e da ressurreição para uma nova vida em Cristo.

Eu sei que esse é um caminho árduo, que mais fácil seria dizer que o mundo está se acabando e cada um que tome cuidado de sua própria salvação. Anunciar destruição é muito mais fácil e chega a ser covardia, pois destruir é fácil, difícil é construir, organizar, coordenar. Entretanto, Jesus não nos confiou tarefa fácil, mas sim nos enviou como ovelhas entre lobos (Lucas 10:3). Não nos chamou para trilhar o caminho largo, mas sim o caminho estreito que leva à porta estreita (Mateus 7:13). Ele não nos chamou para anunciar a destruição, mas sim as boas novas da redenção e nos confiou o ministério da reconciliação entre Deus e o mundo. A única destruição a qual Cristo veio realizar é destruição do destruidor (I João 3:8). Ou seja, somos chamados a proclamar o fim do fim do mundo.

“ Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação” (2 Coríntios 5:19).



Julio Zamparetti Fernandes
Texto extraído do texto original (não revisado) de meu novo livro, Espiritualidade Dinâmica, que será lançado em breve.

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