
Um abraço a todos,
Revdo. Julio Zamparetti
"...quero que meus textos sejam comidos. Mais do que isso: quero que eles sejam comidos com prazer. Um texto que dá prazer é degustado vagarosamente. São esses os textos que se transformam em carne e sangue, como na eucaristia." (Rubem Alves)
As igrejas que ostentam o título de pentecostal assim se nominam por afirmarem viver os mesmos fenômenos relatados em Atos cap. 2, por ocasião do dia de pentecostes. Todavia, não há em igreja alguma, uma única manifestação de um único sinal semelhante àqueles ocorridos no memorável dia em que o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos.
O primeiro sinal foi de um som, como de um vento impetuoso, que vinha do céu. O som era tão intenso e real que fora ouvido pelos populares da redondeza, atraindo-os até o cenáculo, onde estavam os discípulos. O som descia do céu para o lugar onde eles estavam, nada tinha a ver com os berreiros que são travados, hoje, para que o som chegue ao céu.
Apareceu entre os discípulos línguas como que de fogo. Eles não imaginaram isso. O que apareceu foi visto até por aqueles que estavam de fora, assistindo, atônitos, como expectadores que tentavam entender o que viam.
Cheios do Espírito Santo, os discípulos passaram a falar em outras (mas não estranhas) línguas. O que falavam era perfeitamente entendido pelos estrangeiros ali presentes.
Em línguas estrangeiras, eles falavam das grandezas de Deus, não se gloriavam em seus feitos, não chamavam a atenção para si, não tencionavam mostrarem-se poderosos, como faz a maioria dos pregadores pentecostais de hoje. Os que tencionaram isso não foram os discípulos, mas sim os construtores da Torre de Babel.
Enquanto no dia de pentecostes o céu veio aos discípulos, no relato dos babilônicos, eram eles quem tentavam alcançar o céu. Enquanto os discípulos falavam das maravilhas de Deus, os babilônicos queriam tornar seus próprios nomes grandes. Julgue você mesmo, entre os pregadores de hoje, quem são os que falam das maravilhas de Deus e quem são os que fazem ser enaltecidos os seus próprios nomes.
Mas antes de fazer esse julgamento, considere isso: um grande problema das igrejas de hoje é atribuir aos sinais o conceito de maravilha. O som de vento impetuoso, as línguas de fogo, o falar em outras línguas, as curas, a expulsão de demônios e a invulnerabilidade ante a ingestão de venenos, ou picadas de cobras, são apenas sinais. Vale ressaltar que Cristo advertiu que falsos cristos também operariam essas mesmas coisas, muito embora os falsos cristos de hoje estão longe de realizar tanta coisa. Diferentemente, maravilha de Deus, ou milagre, concerne à salvação e o perdão dos pecados, coisas que só Deus pode obrar. É por isso que as Escrituras atestam que os sinais operados pelos apóstolos tinham o propósito de testificar que a Palavra pregada por eles era verdadeira, maravilhosa, milagrosa. Portanto, não confunda os sinais com as maravilhas de Deus. Pois o grande milagre de Deus é sua Palavra encarnada, Jesus, o Verbo de Deus, que é poderoso para transformar a vida de todo aquele que crê.
Aqueles sinais, ocorridos no dia de pentecostes e relatados em Atos 2, não são mais vistos em igreja alguma, hoje em dia. Embora muitas busquem exaustivamente provocar a sua reincidência, isso nunca aconteceu. No máximo, vêem-se algumas manifestações provenientes de construção humana. Entretanto, para os verdadeiros crentes, isso não faz falta, pois o Evangelho que pregamos não carece mais de sinais. Ele já foi plenamente assinado pelos sinais manifestos através do ministério dos santos apóstolos. Quem, hoje, pede sinais, certamente não crê nos sinais que já foram dados.
Jesus curou um coxo como sinal de que tinha poder de perdoar. Os discípulos operaram sinais como testemunho de que sua pregação era verdadeira. Se você duvida de que Jesus tenha poder de perdoar pecados e de que a pregação dos apóstolos é verdadeira, talvez pior coisa lhe seja receber qualquer novo sinal, pois possivelmente receberá, junto com o novo sinal, um novo e nocivo “evangelho” construído pelo idealismo humano.
Não é por acaso que Jesus falou que muitos, no dia do julgamento, chegarão diante de Deus apresentando como suas obras a realização de vários desses sinais, então Deus lhes dirá para que se afastem, pois são desconhecidos dEle. Esse possivelmente será o retrato da igreja que busca sinais em lugar das maravilhas as quais chamamos de salvação, perdão e vida eterna.
Para concluir, quero dizer que creio que Jesus cura e que ocasionalmente o Espírito Santo levanta a quem quiser para usá-lo da forma como quiser. Mas não encontro nas Escrituras qualquer respaldo para essa bagunça chamada neo-pentecostalismo. Insinuar que isso tenha alguma coisa a ver com aquele grande marco do cristianismo relatado em Atos cap. 2 é no mínimo um desrespeito para com a obra do Espírito Santo, um reducionismo de pentecostes.
Portanto, busquemos com zelo os melhores dons: Amor, liberdade e comunicação. Assunto para outra mensagem. Até Mais!
A mensagem da cruz protagonizada na história de Jesus Cristo é, sem sombra de dúvidas, a mais poderosa mensagem que a humanidade recebeu em toda a sua história. Ela por si, seria, se compreendida e internalizada pelo ser humano, suficiente para transformar a humanidade.
A cruz contém e transmite a maior expressão possível de amor, abnegação e vida de amor ao próximo. Ela é o símbolo daqueles para quem a vida é maior que o próprio ser; para quem os limiares de sua existência terrena não limitam a essência de sua vida; para quem descobriu que viver somente para si não faz jus ao propósito de existir. De acordo com o princípio didático da cruz, a vida só faz sentido quando nossas causas são maiores que nossa estatura, quando não se vive por amor ao próprio umbigo, quando sabemos ser o menor dentre os menores, lavando-lhes os pés, dando-lhes a própria vida, comunicando-lhes a própria alma.
O que faz a vida ter sentido é a causa por qual se vive. E que maior causa há do que servir os pequeninos? Não foi essa a causa defendida pelo Grande Mestre? Ele se fez pequenino para ensinar o caminho da grandeza.
Nisso os céticos prestam um grande serviço à fé. Pois quando tentam desdivinizar o Mestre, provam sua humanidade. Ora, o princípio da cruz nos ensina que Ele não seria tão divino se não se fizesse tão humano; não seria Senhor se não assumisse a condição de servo; não seria o primeiro, o Alfa, se primeiro não se fizesse o último, o Ômega. A verdade é que Deus não seria tão grande, não houvesse antes feito a si mesmo tão pequeno; não seria soberano se não fizesse da cruz o seu trono. E quanto a nós não somos seus filhos se não agimos de forma semelhante ao Pai.
Enquanto alguns eliminam a cruz das paredes e do peito, outros a limitam a um mero objeto decorativo. Mas o pior nisso tudo é que a cruz tem sido eliminada da fé e da convivência social.
A cruz é eliminada da fé quando o propósito pelo qual é buscada visa o eu: fé para enriquecer, fé para prosperar, fé para casar, fé para ganhar o céu de preferência aqui e agora. Em suma, toda fé empreendida pelos crentes hodiernos não tem outro alvo senão benefícios a si próprios. E eu pergunto: Onde está a cruz deste “evangelho”?
A cruz também tem sido extinguida na esfera da convivência social. Não é a toa que temos tanta gente egoísta, sem menor sensibilidade em relação ao sofrimento alheio, e não são poucos os que chegam a se aproveitar das desgraças alheias para faturar mais, explorando até a última gota de quem já não tem sangue para dar.
A cruz remete-nos ao amor, pois sem amor a própria cruz não tem sentido de ser. Foi por amor que Ele morreu, e só o amor nos leva a doarmos nossa vida, nosso tempo e dinheiro por aquilo que não seja o eu. É por isso que a cruz é o lugar constante de quem ama. Pois, como ensinou o Santo Apóstolo Paulo, como Cristo deu sua vida por nós, devemos nós dar a vida pelo próximo.
A mensagem histórica da cruz bastar-nos-ia para mudar o mundo, para sarar nossos relacionamentos, para sabermos viver, para aprendermos a amar. Isso tudo se fôssemos capazes de aprendermos o que dela sabemos e vivermos o que dela aprendemos.
Viver o que da cruz se aprende é um milagre. Mas o milagre não está na aljava da cruz, mas sim da fé que se fundamenta na ressurreição. Graças à ressurreição nossa fé não é vã, nossa caminhada não é solitária, nossa força é complementada. É nessa fé que somos acercados da certeza de que Ele vive, não estamos sós, tomar a cruz e segui-lo agora é possível.
Na cruz Ele nos dá uma razão para viver e amar. Na ressurreição nos proporciona a segurança para dar a vida em amor ao próximo. Assim a ressurreição nos remete, irremediavelmente, à cruz, todavia, já não mais sob o prisma histórico, mas sim miraculoso, mostrando-nos e assegurando-nos que a vida é mais do que possamos viver e muito mais do que possamos imaginar.
Tudo isso tenho dito com aquEle, por aquEle e naquEle que é a Vida.
Certamente soava doce aos seus ouvidos a aclamação de toda aquela gente que dizia “bendito o que vem em nome de Senhor” e com ramos e palmas bradava “hosana ao Rei”. Eis o Cristo que todos esperavam: adentrando triunfantemente à cidade de Davi para assumir seu posto por direito, para libertar seu povo da tirania daquele, Herodes, que, contam os historiadores, ao outro lado da cidade entrava soberbo com sua guarda imperial e seus cavalos imponentes. De um lado o imperador sobre seu cavalo rodeado por sua tropa. Do outro lado o Cristo sobre um burrico rodeado pela multidão.
O Cristo aclamado nessa ocasião era o curador, expulsador de demônios, o milagreiro, aquele que devolveria o reino a Israel. Todos esperavam uma revolução, achavam que Ele viraria a mesa, fizesse um golpe de estado. Os anúncios de que seu reino não viria de forma aparente, mas se daria no interior de quem cresse, foram ofuscados pela euforia do momento. De fato, ninguém poderia imaginar o que estava por se descortinar.
Qualquer semelhança com os nossos dias não é mera coincidência. Já dizia o sábio que “as pessoas nascem e morrem e o mundo é sempre o mesmo”. Ainda ouço as pessoas com ramos nas mãos aclamando Cristo por seu libertador, curador, consolador, milagreiro, prosperador. Mas poucos dentre essa gente têm consciência do que essa semana o reserva. É por isso que ainda hoje, tal qual foi há dois mil anos, as mesmas vozes que o conclamam por seu Rei no domingo, gritam crucifica-o nas santas sextas-feiras da vida.
Ainda o crucificamos quando negamos pão ao faminto, condenamos a prostituta, excluímos os homossexuais, discriminamos os indígenas, aprovamos o aborto de fetos diagnosticados com Síndrome de Down, negamos os direitos dos negros, desprezamos os órfãos e “moleques de rua”, impedimos que cheguem a Cristo aqueles a quem Cristo chama, excluímos da Santa Mesa aqueles por quem Cristo entregou sua carne e sangue.
O Cristo ressurreto não revela sua face apenas por ocasião do dia de ramos, mas também no serviço ao próximo, lavando os pés dos seus discípulos e, principalmente, tomando sobre si as dores e sofrimentos alheios. Quem quiser segui-lo deve saber que este caminho não se resume às aclamações e triunfos, mas se estabelece, principalmente, na abnegação e doação. Pois, como dizia o Santo apóstolo Paulo, assim como Cristo deu sua vida por nós, devemos nós dar a vida pelos outros.
Páscoa é festa da ressurreição de Cristo, pela qual nos apropriamos do espírito de renovação, de força para vivermos uma nova vida. Entretanto, entre a aclamação e a ressurreição não há ponte, há, sim, um caminho estreito, diga-se de passagem. Nesse caminho os passos são distintos e impreteríveis, a saber: o serviço ao próximo e a doação de si. Não vive plenamente quem vive para si. Pode apostar, o Mestre estava certo: “quem perde sua vida por amor de mim encontrá-la-á”.
Você pode encontrar o Cristo aclamado procurando-o nos templos, nas catedrais, capelas, grutas, romarias, programas de rádio e televisão. Mas o Cristo ressurreto só se encontra nos famintos, sedentos, andarilhos, mal-vestidos, presos, sofredores e excluídos. Quem se dispõe a servir e dar sua vida, tem parte na sua ressurreição, é nova criatura, encontrou a vida.
O Domingo de Ramos é o marco inicial da Semana da paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e a cristandade passa a vivenciar os passos em direção ao ápice da Graça de Deus – a crucificação do Messias. Mas naquele domingo homens, mulheres e crianças com galhos de árvores nas mãos ovacionaram àquele que vem em Nome do Senhor! – o Filho de Davi. Parece-nos que precedendo o que estava por vir era necessário uma declaração de que tudo na terra se preparava para o momento extasiante da terrível sexta feira de trevas, o momento triunfal da redenção dos eleitos de Deus.
Surgiria assim um povo eleito antes da fundação do mundo que sob o manto de sangue – precioso sangue de Cristo – teria livre acesso como sacerdotes de si mesmos, ao trono de Deus. Uma nova condição proposta por Deus era agora colocada diante da humanidade caída pelo pecado de Adão e resgatada de todos os povos, tribos, línguas e nações formando assim a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, nascida sob o signo do Agnus Dei – Cordeiro de Deus - que tira os pecados do mundo. Signo de martírio, de dor, de reflexão e silêncio.
Nesta última semana, a maior proximidade dos doze apóstolos, os últimos conselhos e exortações; a última refeição – instituindo a Eucaristia (do grego εὐχαριστία, cujo significado é "ação de graças") e nela o próprio Senhor diz: “Tomai e comei, isto é o MEU CORPO que é dado por vós”. Para Ele, bem mais do que transubstanciação, consubstanciação ou qualquer outra substanciação que queiram indagar nossos teólogos de plantão, havia um sentimento de entregas e partilha para com aqueles mais achegados. Profundo sentimento estava presente na mente e coração do Senhor. Bem mais do que pão, ele estava se dando. E continuou: “Bebei todos deste, este é o cálice da Nova Aliança no MEU SANGUE.” Momento sublime de introspecção e reverencia. O sangue. Lembro-me daquele velho hino quando diz:
Sangue que Jesus verteu, é divino e eficaz Este sangue ao coração, força, amor e vida trás!
Nova aliança. Perdão. Reconciliação – que sangue poderoso! Não foi por acaso que o anjo da morte respeitou as casas cujos umbrais estavam aspergidos com sangue de cordeiro – perfeita figura – que nos enche de temor para com aquelas preciosas palavras do Senhor: “Meu Corpo e Meu sangue”. É do Senhor todo sacrifício. Ele o fez. Ele o aceitou. Somos apenas “alvo” de sua preciosa graça; eu não sou coadjuvante, apenas servo – e inútil diante de tão grandiosa redenção.
Refletir sobre a Semana Santa é levar o pão e vinho para o Calvário e depois renovar a esperança no tumulo vazio. Temos consciência do tamanho significado presente na instituição da Eucaristia, no porque que houve trevas do meio dia às três da tarde e do tumulo vazio?
Silencio. Ouçamos a voz do povo que agitando ramos bradam enquanto um homem simples vem montado sobre o filhote de uma jumenta...
-Que tipo de pessoa de pessoa vive nesse lugar?
-Que tipo de pessoa vivia no lugar de onde você vem? - perguntou por sua vez o ancião.
-Oh, um grupo de egoístas e malvados - replicou o rapaz - Estou satisfeito de ter saído de lá.
A isso o velho replicou:
-A mesma coisa você haverá de encontrar por aqui.
No mesmo dia, um outro jovem de acercou do oásis para beber água e, vendo o ancião, também perguntou-lhe:
-Que tipo de pessoa vive neste lugar?
-Que tipo de pessoa vivia no lugar de onde você vem?-perguntou por sua vez o ancião.
O rapaz respondeu:
-Um magnífico grupo de pessoas, amigas, honestas, hospitaleiras. Fiquei muito triste por ter que deixá-las.
-O mesmo encontrará por aqui - respondeu o ancião.
Um homem que havia escutado as duas conversas perguntou o velho:
-Como é possível dar respostas tão diferentes á mesma pergunta?
Ao que o velho respondeu:
- Cada um carrega no seu coração o meio ambiente em que vive. Aquele que nada encontrou de bom nos lugares por onde passou, não poderá encontrar outra coisa por aqui. Aquele que encontrou amigos ali, também os encontrará aqui. Somos todos viajantes no tempo e o futuro de cada um de nós está escrito no passado. Ou seja, cada um encontra na vida exatamente aquilo que traz dentro de si mesmo. O ambiente, o presente e o futuro somos nós que criamos e isso só depende de nós mesmos.
É nesse estágio que podemos perceber que a perfeição tão requerida pelo senso de espiritualidade se dá não só em reconhecer, mas também saber lidar com nossas imperfeições. O termo ‘perfeito’ significa completo (per-feito = por-concluído). Logo, devemos concluir que ninguém poderá ser completo se não souber viver suas imperfeições, suas angústias, suas dores. A vida é vazia quando não interage com a morte, a riqueza perde o sentido quando não se envolve com a miséria, a alegria perde o gozo quando não há espaço para a melancolia. Quem entende isso descobre o sentido das palavras do Mestre: “felizes os que choram”, “bem-aventurados os pobres pelo espírito”.
Insisto em afirmar que a perfeição não está na ausência do erro, pois onde há ausência, já não há completude. Logo, a perfeição se dá em simplesmente viver a vida em todas as suas dimensões. Não é perfeito quem não cai, nem é completo quem não se levanta após a queda. Nem mesmo Deus seria perfeito se não houvesse provado a dor da humanidade, sua queda e maldição.
“Não deixe o sol morrer, errar é aprender, viver é deixar viver”. Acho, sinceramente, que essa música de Frejat não seria tão espiritual e verdadeira se não fosse secular. Digo isso porque a mensagem da religião, em nossos dias, nem de longe tem essa completude. Pelo contrário, o que se ouve dela é uma mensagem enganosa de triunfalismo gospel, cheia de jargões e padrões de moralidade aparente que reflete bem a intenção daqueles que buscam na religião um disfarce “santo” para a vida pútrida em que tudo é permitido, conquanto nada venha a público. E este fato denuncia a falácia do fundamentalismo religioso, pois nem Cristo, nem os profetas, nem os apóstolos acobertaram qualquer hipocrisia, antes levavam seus seguidores e a si mesmos a reconhecerem suas debilidades. Enquanto a luz de Cristo revela toda imundície de nossas almas, a religião dá aos seus seguidores a falsa sensação de que tudo está purificado; enquanto Cristo aplicava lodo aos olhos, para que até o cego pudesse ver o quanto era pecador, a religiosidade passa óleo perfumado fazendo os pecadores não verem suas misérias e ainda pensarem ser príncipes. De tão cegos, se entregam ao desejo de serem juizes, acusadores e inquisidores de seus semelhantes. Dessa forma o fiel religioso repete o erro tão enfaticamente denunciado por Cristo, de ser religiosamente sepulcro caiado.
Amar alguém, requer amar por inteiro. Advirto que quem quiser me amar não poderá amar-me apenas nos aspectos em que sou luz, porque não sou apenas luz. Queres saber quanto tenho de trevas? Não poderei dizê-lo, pois nem mesmo eu posso saber! Afinal, trevas é área cega. Logo, o amor é um tremendo risco. Talvez por isso seja perfeito!
É que o amor encobre uma multidão de nossas imperfeições! Encobre... não remove! É que se ele as removesse ficaríamos incompletos, e já não poderíamos mais ser perfeitos.
Como se diz numa máxima das artes plásticas: “a perfeição está nas imperfeições”. Amemo-nos, pois, uns aos outros. Amor incondicional, completo, perfeito!
“Logo ao desembarcar, veio da cidade ao seu encontro um homem possesso de demônios que, havia muito, não se vestia, nem habitava em casa alguma, porém vivia nos sepulcros. E, quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando e dizendo em alta voz: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te que não me atormentes. Porque Jesus ordenara ao espírito imundo que saísse do homem, pois muitas vezes se apoderara dele. E, embora procurassem conservá-lo preso com cadeias e grilhões, tudo despedaçava e era impelido pelo demônio para o deserto. Perguntou-lhe Jesus: Qual é o teu nome? Respondeu ele: Legião, porque tinham entrado nele muitos demônios. Rogavam-lhe que não os mandasse sair para o abismo” (Lucas 8:27-31).
Para compreendermos o que ocorreu neste episódio, faz-se necessário entendermos o contexto científico da época. Naqueles dias, cria-se que a terra era como um círculo e não como uma esfera. Acreditava-se que se navegássemos muito além da costa chegaríamos ao fim do “círculo” terrestre e cairíamos num eterno nada. Daí o uso da palavra abismo que vem do grego ábyssos e significa literalmente “sem fundo”. Portanto, cair no abismo significava cair numa eterna inexistência, ser expulso da terra, ser extinto do mundo dos vivos. Assim, entendemos porque em Marcos 5:10 diz que os demônios rogavam-lhe que os deixassem ficar naquela província. Estar na província era estar entre os vivos. Para o gadareno, permanecer com seus demônios na província, significaria viver a ameaça constante de ser tomado novamente pelos mesmos demônios, ou mesmo poder voltar a eles tão logo, assim, quisesse. Lançá-los ao abismo significaria extingui-los para sempre de sua vida.
O que se passava no interior do gadareno não era um estado de inconsciência, mas sim um conflito de consciência, um trauma da luta entre quem ele queria ser versus quem ele conseguia ser. Queria ser livre, sociável, comum, mas como suas iniciativas anteriores, tanto quanto a ajuda de seus parentes e amigos, foram frustradas, pensava que melhor lhe seria manter seus demônios na província e se conformar, apenas, com o que conseguisse ser. Ninguém vive por prazer a vida que este homem vivia. Sua vida era fruto de quem desejava respeito, integridade, liberdade, trabalho, dignidade, mas não havendo encontrado forças, nem condições de ser assim, mergulhou no mundo exatamente oposto àquele que desejou e não alcançou.
A verdade é que muitas vezes queremos nos ver livres das conseqüências do velho modo de vida, mas também queremos que este velho modo de vida continue na província, por perto, para quando o desejarmos de volta, ainda que por um tempo muito breve. Assim, muitas vezes nos prolongamos em situações que nos fazem regressar às coisas que Cristo já havia nos libertado. Nesses casos, pedimos a Jesus nossa libertação de todos os demônios, mas não queremos que nenhum deles seja extinto, pois estamos tão acostumados a eles, que já nos parecem familiares.
Outro fator que inibe a completa libertação são os juízos precatórios dos pregadores do terror, que anunciam aos quatro ventos que os demônios estão na província e poderão devorar você, ou porque você tem um pecado não confessado da infância, ou porque você tem algum pecado oculto que nem mesmo você sabe qual. Desse modo, as pobres e indefesas ovelhas caem numa completa neurose, vendo demônios em cada sombra, aterrorizadas pela possibilidade de que cada ato seu pode ser uma “base legal” para o inimigo.
Leia também os capítulos anteriores:
http://juliozamparetti.blogspot.com/2011/03/o-mudo-endemoninhado-terca-polemica-iv.html
http://juliozamparetti.blogspot.com/2011/03/terca-polemica-3-demonios-feitos-pela.html
http://juliozamparetti.blogspot.com/2011/03/terca-polemica-parte-2.html
http://juliozamparetti.blogspot.com/2011/03/terca-polemica-parte-1.html
Na noite de domingo, o polêmico pastor líder de uma igreja de Gainesville, Flórida, programou uma espécie de julgamento dentro de sua igreja, sendo que o réu era o livro sagrado para os mulçumanos. A congregação declarou o Alcorão culpado de várias acusações, entre elas assassinato. Em seguida a pena foi executada: o exemplar foi queimado.
Os jornais internacionais relataram que o livro foi molhado com querosene e colocado em um recipiente de metal no centro do templo da igreja “Dove World Outreach Center”. O exemplar queimou por 10 minutos.
“Tentamos dar ao mundo muçulmano uma oportunidade de defesa de seu livro”, disse o pastor Terry Jones.
Os planos de Jones era queimar os exemplares do Alcorão em sua igreja no aniversário dos atentados terroristas de 11 de setembro nos Estados Unidos. Após as fortes reações no mundo muçulmano e das críticas de líderes internacionais, incluindo o presidente americano Barack Obama, Jones desistiu da ideia e afirmou que nunca mais voltaria a tentar queimar um Alcorão.
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Fonte: http://www.genizahvirtual.com/2011/03/pastor-queima-o-alcorao-este-e-cabra.html
Mais uma catástrofe e mais gente se imbui de anunciar o fim do mundo. Não sei quantos fins ainda serão anunciados, mas sei que os mercados faturam alto com essa especulação. O mercado cinematográfico fatura milhões de dólares ocupando, provavelmente, o segundo lugar no ranking mundial. Sim, possivelmente, o segundo lugar, porque estou convencido de que quem fatura mais alto é o mercado religioso.
Até mesmo seguimentos equilibrados do meio religioso, ultimamente, têm se rendido ao frisson do apelo sensacionalista que arrasta milhares de pessoas ao redil da religiosidade pela promessa de segurança em meio ao caos. Neste ínterim, a fim de que a religião seja sempre mais útil, faz-se necessário que a tragédia seja tanto maior. É nesse ponto que muitos religiosos caem na falácia de presumirem que quanto pior, melhor.
Não quero, aqui, fazer pouco caso dos problemas ambientais e das catástrofes que têm aterrorizado nosso planeta. Por outro lado, não posso me valer disso para constranger alguém a apegar-se à religião. O que posso dizer é que catástrofes naturais são naturais, por mais catastróficas que sejam. Sempre foi assim e continuará sendo assim, enquanto a Terra estiver viva. Deveríamos, sim, nos preocuparmos se a terra estivesse parando seus movimentos geológicos. Isso seria terrível, pois presumiria a morte do planeta.
O que não é natural é que tanta gente aproveite do sofrimento alheio para se enriquecer. Nesta semana, em meio à tragédia dos terremotos e a tsunami no Japão, já ouvi pregadores de renome internacional anunciando em tom profético que “isso é só o começo”; que “catástrofes muito maiores sobrevirão ao nosso planeta”. E eu pergunto: onde fica o Espírito de consolação, restauração e esperança que permeia a mensagem de Jesus Cristo e seus apóstolos?
Não venham me dizer que Jesus anunciou o fim do mundo. Somente neófitos caem nessa. O mundo do qual Jesus anunciou o fim, em Mateus 24 e Lucas 22, no texto original é aions que significa tempo, era, período, daí muitas versões o traduzirem por século em vez de mundo. Jesus estava anunciando o fim de um tempo em que os rudimentos que regiam a religiosidade e os valores humanos dariam lugar aos novos rudimentos de sua graça. Conforme o próprio Messias, isso ocorreria ainda naquela geração (Mt.24:34), e de fato aconteceu. Esses novos rudimentos são baseados no amor, na simplicidade, na reconciliação, na misericórdia e no compromisso de ser solidário para com todos que sofrem.
Não sei explicar o sofrimento humano, nem a causa de tanto terror, não quero justificar Deus, nem creio que Deus precise ser justificado. Só sei que a história nos ensina que somos capazes de superar nossas limitações e aprender em meio às dificuldades; somos aptos a recomeçar, reconstruir e sairmos das provações ainda mais fortalecidos. Portanto, prefiro ser grato a Deus que nos concede repensar nossa própria vida, nossa história, nossa espiritualidade, refletirmos sobre nosso ativismo e apego material, e exercitar a solidariedade e o espírito de consolação mútuo.
Enquanto o fim não vem, que fique longe o fim. Que haja lugar para a esperança. Que seja cada vez mais presente o amor fraternal, o espírito solidário e a força para recomeçar. Assim somos humanos, como Cristo foi; fazendo um mundo melhor, como Ele fez.
Sempre ouvi dizer que a salvação é algo individual. Mas, honestamente, nunca li um só versículo bíblico que afirmasse tal conceito. Ao contrário, o que encontro são vários versículos que atestam a salvação de um povo, ou de uma nação, uma raça, tribo, toda terra, ou mundo todo.
Por outro lado podemos perceber que a perdição pode ser individual. Eram cem ovelhas quando uma delas, individualmente, se perdeu. Da mesma forma a perdição do filho pródigo se deu de forma individual. É claro que também encontramos exemplos de perdição coletiva, de tal forma que Deus certa vez afirmou que seu povo (termo coletivo) perecia por falta de conhecimento. Assim, encontramos exemplos de perdição coletiva e individual. No entanto, ao que se refere à salvação só a encontramos coletivamente, nunca individualmente.
A verdade é que não precisamos de ninguém para nos perder; e na maioria das vezes nos perdemos exatamente por não ter ninguém ao lado. Não foi a toa que Deus disse: “Não é bom que o homem viva só”; não por acaso Jesus enviou seus discípulos de dois em dois.
Somos seres sociais e seja qual for nosso temperamento, se quisermos crescer como pessoas, precisamos aprender a viver em comunhão, compreendendo a necessidade que temos uns dos outros.
Não há como ser cristão individual. Não se vive cristianismo isolado. Isso porque o cristianismo não se resume em ter comunhão apenas com Deus, mas ter comunhão com Deus e com o próximo. É essa a mensagem expressa na cruz: uma haste vertical, prefigurando a comunhão com Deus e outra haste horizontal, prefigurando a comunhão com os irmãos. Afinal, se não amas teu irmão a quem vês, como podes amar a Deus, a quem não vês?
É salvo quem faz parte de um povo salvo, quem está ligado ao corpo de Cristo. Pois se alguém não está ligado a ele é como um ramo seco que para nada mais serve senão ser jogado ao fogo. Assim já dizia Santo Agostinho: “não há salvação fora da Igreja de Cristo”.
Não quero dizer com isso que a salvação esteja atrelada a alguma instituição religiosa, seja ela qual for. Afinal, muitas instituições religiosas estão longe de parecer-se Igreja de Cristo, muito embora se denominem como tal. Refiro-me à Igreja àqueles que comungam da fé em Cristo e se dispõem a viver em comunidade a serviço do próximo. Estou certo de que embora existam aqueles que vivem em comunidade sem de fato amar, é impossível que alguém que de fato ame não viva em comunidade.
A salvação não é individual porque a vontade de Deus é salvar a todos. A salvação não é individual porque não é um fim em si mesmo, a finalidade de sermos salvos é levarmos a salvação a outros que ainda estão perdidos. A salvação não é individual porque ninguém consegue salvar-se a si próprio, antes necessita da graça de Cristo que é manifestada por meio de seu corpo na terra, a Igreja. A salvação não é individual porque um dos passos do processo de salvação é o chamado, e este se dá pela voz do Espírito e a noiva (Igreja) que juntamente dizem: “vem” (Apocalipse 22:17).
Por fim, ser salvo não significa qualquer mérito pessoal. Significa sim, graça de Cristo, que move céus, terra e corações a fim de nos alcançar.
Portanto, oremos: Obrigado Senhor, por todos aqueles que o Senhor tem colocado em nosso caminho. Pois são anjos sem os quais não saberíamos encontrar-Te!
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Extraído do livro O CRISTIANISMO QUE OS CRISTÃOS REJEITAM de Julio Zamparetti