Certamente soava doce aos seus ouvidos a aclamação de toda aquela gente que dizia “bendito o que vem em nome de Senhor” e com ramos e palmas bradava “hosana ao Rei”. Eis o Cristo que todos esperavam: adentrando triunfantemente à cidade de Davi para assumir seu posto por direito, para libertar seu povo da tirania daquele, Herodes, que, contam os historiadores, ao outro lado da cidade entrava soberbo com sua guarda imperial e seus cavalos imponentes. De um lado o imperador sobre seu cavalo rodeado por sua tropa. Do outro lado o Cristo sobre um burrico rodeado pela multidão.
O Cristo aclamado nessa ocasião era o curador, expulsador de demônios, o milagreiro, aquele que devolveria o reino a Israel. Todos esperavam uma revolução, achavam que Ele viraria a mesa, fizesse um golpe de estado. Os anúncios de que seu reino não viria de forma aparente, mas se daria no interior de quem cresse, foram ofuscados pela euforia do momento. De fato, ninguém poderia imaginar o que estava por se descortinar.
Qualquer semelhança com os nossos dias não é mera coincidência. Já dizia o sábio que “as pessoas nascem e morrem e o mundo é sempre o mesmo”. Ainda ouço as pessoas com ramos nas mãos aclamando Cristo por seu libertador, curador, consolador, milagreiro, prosperador. Mas poucos dentre essa gente têm consciência do que essa semana o reserva. É por isso que ainda hoje, tal qual foi há dois mil anos, as mesmas vozes que o conclamam por seu Rei no domingo, gritam crucifica-o nas santas sextas-feiras da vida.
Ainda o crucificamos quando negamos pão ao faminto, condenamos a prostituta, excluímos os homossexuais, discriminamos os indígenas, aprovamos o aborto de fetos diagnosticados com Síndrome de Down, negamos os direitos dos negros, desprezamos os órfãos e “moleques de rua”, impedimos que cheguem a Cristo aqueles a quem Cristo chama, excluímos da Santa Mesa aqueles por quem Cristo entregou sua carne e sangue.
O Cristo ressurreto não revela sua face apenas por ocasião do dia de ramos, mas também no serviço ao próximo, lavando os pés dos seus discípulos e, principalmente, tomando sobre si as dores e sofrimentos alheios. Quem quiser segui-lo deve saber que este caminho não se resume às aclamações e triunfos, mas se estabelece, principalmente, na abnegação e doação. Pois, como dizia o Santo apóstolo Paulo, assim como Cristo deu sua vida por nós, devemos nós dar a vida pelos outros.
Páscoa é festa da ressurreição de Cristo, pela qual nos apropriamos do espírito de renovação, de força para vivermos uma nova vida. Entretanto, entre a aclamação e a ressurreição não há ponte, há, sim, um caminho estreito, diga-se de passagem. Nesse caminho os passos são distintos e impreteríveis, a saber: o serviço ao próximo e a doação de si. Não vive plenamente quem vive para si. Pode apostar, o Mestre estava certo: “quem perde sua vida por amor de mim encontrá-la-á”.
Você pode encontrar o Cristo aclamado procurando-o nos templos, nas catedrais, capelas, grutas, romarias, programas de rádio e televisão. Mas o Cristo ressurreto só se encontra nos famintos, sedentos, andarilhos, mal-vestidos, presos, sofredores e excluídos. Quem se dispõe a servir e dar sua vida, tem parte na sua ressurreição, é nova criatura, encontrou a vida.
Sensacional este texto! Verdadeiro e humanista!Marcelo Menezes dugosdvd@hotmail.com
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