Baseado em Rute 1.1-19 e Lucas 17.11-19
Quando Rute ficou viúva, foi rompido o elo que a prendia a sua sogra. Isso ficou claro, quando Noemi, a sogra, disse: Vai para junto de teu povo e volta para os teus deuses, pois já não tenho filhos, nem marido, e ainda que engravidasse hoje, você não poderia esperar para casar com ele. Minha outra nora já partiu, vá você também. Rute, por sua vez, respondeu: O teu Deus é meu Deus, e teu povo meu será, onde viveres viverei eu, e onde fores sepultada também eu repousarei.
Rute não deixou Noemi por duas razões simples. A primeira delas era a gratidão. Rute lhe era grata pelo filho que sua sogra havia gerado e, certamente, por toda a amizade que havia cultivado. A segunda razão era a fidelidade ao Deus Eterno a quem aprendeu a servir. Temos aqui dois princípios que deveriam ser muito mais evidentes em nossas vidas: gratidão e fidelidade, empenhadas a Deus e ao próximo.
Numa geração de “fiéis”, onde a maioria está preocupada tão somente consigo, fazendo do egocentrismo a razão de sua religiosidade, fica cada vez mais difícil encontrar quem esteja disposto a viver em fidelidade e gratidão. Trocar de religião ou de cônjuge já se tornou quase tão normal quanto trocar de roupa. É claro que o dever da igreja é acolher os prosélitos e também os que contraíram novas núpcias, mas, é melhor que as trocas permaneçam somente no campo do vestuário.
Lembro-me de quando era pequeno, e meu pai dizia que um homem pode fazer mil coisas certas, mas bastaria um erro para que os mil acertos fossem esquecidos. Na verdade, ao coração ingrato, não é necessário erro algum, pois os ingratos põem defeitos em cada um dos acertos. A maior prova disso é o próprio Senhor Jesus, que tendo cometido erro algum, ainda assim não escapou de alvo da maior ingratidão.
Mesmo tendo, Rute, perdido o elo que a ligava à Noemi, permaneceu com ela até o fim de sua vida. Todavia, hoje em dia, muita gente fica ao nosso lado somente o tempo em que precisam da gente; permanecem na igreja somente enquanto isso lhe parecer útil. A grande lição de Rute é que não devemos estar ao lado de alguém pelo que dela possamos nos beneficiar, mas sim pelo que possamos a ela ajudar; não devemos buscar a igreja pelo que dela possamos ganhar, mas sim pelo que a ela possamos ser úteis. Parece até antagônico, mas os que se aplicam no serviço a Deus e ao próximo são os mesmos que vivem em gratidão e fidelidade aos que lhe cercam. Os ingratos são sempre os que nunca se dispõem a servir.
Enquanto Rute nos traz o exemplo fidedigno de gratidão a Noemi, temos nos nove, dentre os dez, leprozos curados por Cristo, um enfático exemplo de ingratidão. Temos, nestes dois exemplos, mais uma prova de que aqueles que nada fazem pelo seu benfeitor serão, possivelmente, os mais ingratos, ao passo que aqueles que nada devem, pelo contrário, prestam serviço e socorro ao próximo e ao Reino, são os mesmos que sempre demonstrarão maior gratidão.
Infelizmente, essa nossa reflexão não mudará o pensamento dos outros. Mas podemos refletir melhor sobre: qual lado estamos? Quanto, de cada lado, cultivamos em nossa vida? Quantas vezes somos nós os ingratos?
No mais, só nos resta recebermos as ingratidões, tal como Cristo as recebeu. E de alguma forma, sob a graça de Deus, sermos gratos e pagarmos o mal com o bem.
Que Deus nos de força.
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