Por Julio Zamparetti
Deus não tem filhos prediletos, nem casa favorita. A todos Ele ama indistintamente e não há nada que ninguém possa fazer para que Ele o ame mais ou o deixe de amar. Essa é a única razão por que podemos nos aproximar dEle, adorá-lo, participar da Eucaristia e sermos chamados de filhos de Deus.
Quando compreendemos a graça de Deus, deixamos de nos justificar a nós mesmos. Compreendemos que somos pecadores injustificáveis, que todas as nossas tentativas de nos justificar acabam implicando em pecados ainda maiores. Afinal, não se pode cobrir mentira com mentira, nem justificar o injustificável. Mas a verdade é que quem tenta assim fazer não conhece a Deus, nem sua graça. Do contrário, saberia que isso é inútil e desnecessário. Pois Deus simplesmente nos ama como somos: pecadores injustificáveis. Se alguém tenta se justificar, abdica do amor de Cristo, pois Cristo veio por amor aos perdidos e não aos sãos. Tentar colocar-se numa posição de justo é lançar-se para fora do foco do amor de Deus.
Isso não significa que devemos continuar pecando para ser amados por Deus, mas sim que devemos reconhecer quem somos para podermos ser transformados por seu amor.
O maior mal de não compreendermos isso não é o fato de acabarmos rejeitando o perdão e o amor de Deus, mas sim o fato de que nos tornamos incapazes de perdoar e amar a quem nos ofende. Se cremos num deus que cobra certo padrão moral daquele que é objeto de seu amor, fatalmente nos preservaremos o direito de também exigirmos certo padrão moral daqueles a quem pretendemos amar. Consequentemente, faremos todas as exigências cabíveis e incabíveis a quem havemos de perdoar.
Gosto do que diz o personagem Mestre, em O Vendedor de Sonhos, de Augusto Cury (CURY, 2008, p.168): “O deus construído pelo homem, o deus religioso, é implacável, intolerante, exclusivista, preconceituoso. Mas o Deus que se oculta nos bastidores do teatro da existência é generoso. Sua capacidade de perdoar não tem bom senso, nos estimula a carregar os que nos frustram tantas vezes quantas forem necessárias”.
Verdade seja dita, muitos preferem crer num deus religioso, intolerante, pois assim sentem-se no direito de também agirem intolerantemente com quem lhe ofende. Buscam, na religiosidade, obter os méritos que julgam suficientes para torná-los capazes de dispensar um perdão tão tolerante de Deus. Alimentando a crença em um deus intolerante, pensam que não precisarão ser tão tolerantes com os outros. Honestamente, que bom fruto isso pode dar?
Necessitamos aprender, urgentemente, a perdoar e amar uns aos outros, de forma abnegada e incondicional, tal qual o Pai nos ama e nos perdoa. Cristo nos ordenou dar de graça o que de graça recebemos. Mas como fazer isso se não cremos ter recebido de graça? Como fazer isso se cremos que o que recebemos de Deus (seu amor e perdão), recebemos por termos feito por merecer?
Somente ampliando a compreensão do amor divino é possível ampliarmos nossa dimensão de amor ao próximo. Quanto mais restringimos o amor de Deus, tanto mais aniquilamos nossa capacidade de amar. Quanto mais somos cientes de nossas mazelas e que ainda assim Deus nos ama, somos capazes de amar o próximo a despeito de suas misérias.
Nunca busque uma só razão para amar ou perdoar alguém. O amor não tem razão, não tem justificativa, não tem lógica, não tem sanidade. Todavia, a sua ausência é, paradoxalmente, o princípio de toda espiritual enfermidade.
..................................
Extraído do livro ESPIRITUALIDADE DINÂMICA
Nenhum comentário:
Postar um comentário