sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

UMA LISTA DE COISAS A SE ESQUECER

Certo período de minha adolescência foi marcado por uma religiosidade bastante rigorosa. Tudo o que se podia saber é que nada se podia fazer. Não havia porquês, pois nem questões se podia haver. Tudo era pecado e ponto final. Nada de ir ao campo assistir ao futebol, nada de ouvir músicas “mundanas”, nada de televisão, nada disso, nada daquilo. Uma enorme lista de “pecados” dos quais eu não deveria nem pensar. Mas como deixar de pensar naquilo que insistiam em me lembrar de esquecer?

Pensava eu: não posso fazer isso... isso não posso fazer... isso não... isso... ai como queria fazê-lo! Que dilema! A tal lista de proibições só servia pra não me deixar esquecer do que havia de ser esquecido. Como se isso já não bastasse, ainda tinha que conviver com o paradoxo de que o proibido é mais gostoso.

Foi então que aprendi que a melhor maneira de esquecer algo é esquecer de esquecer, e viver em função do futuro ao invés do passado. É preciso buscar algo novo. Como já diziam John Lenon e Paul McCartney, “mais vale tentar viver de esperança”.

Maus hábitos não são vencidos pela recriminação, mas sim pela prática de bons hábitos. Ociosidade não é vencida senão com algo a fazer. Maus pensamentos só são vencidos com renovação da mente: ler um bom livro, ter conversas inteligentes e produtivas, conhecer pessoas novas.

A vida não pode consistir-se na proibição de fazer o que é errado, mas na liberdade de fazer o que é certo. Jesus nunca proibiu o errado, ao invés disso, ordenou o certo, isto é, o amor. Este foi seu mandamento. Afinal, quem ama tem, naturalmente, a consciência e a responsabilidade de fazer o bem e nunca precisará ser proibido de fazer o mal, pois o mal não fará parte de sua conduta.

As proibições só são úteis para quem não ama, pois quem não ama não se recrimina pelo mal que faz. Porém, quem ama não rouba, não mente, não pensa mal, não se corrompe nem corrompe ninguém, não trai aos outros nem trai sua consciência. Logo, quem ama já cumpre a lei mesmo sem a conhecer. Além de não fazer o mal, quem ama sempre faz o bem, sem buscar seus próprios interesses.

Com relação à lista de coisas a se esquecer, esqueci foi da lista.

Um comentário:

  1. Quem dera nossos pastores fossem formados aensinar consciência em vez de terrorismo.

    Cabe a nós, não tentar mudar toda a Igreja, mas conscientizar o maior número de indivíduos possível a respeito do amor e da conscientização, crindo nos irmãos o hábito de pensar em vezde seguir cegamente os "podes" e "não podes" das convenções religiosas.

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