quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O PARADOXO DA VIDA

Em Deuteronômio, capítulo 30, verso 19, vemos a proposta que o próprio Deus faz ao seu povo, a fim de que este escolha entre a vida e a morte, entre a bênção e a maldição. Por fim, arremata dizendo: “Escolhe, pois, a vida”.

O paradoxo se estabelece quando nos damos conta de que Cristo advertiu que todo aquele que busca “preservar sua vida perdê-la-á” (Lc.17:33). Logo, vemos a necessidade de não apenas escolher a vida, mas discernir que vida escolher.

Para alguns a vida consiste dos prazeres pessoais e momentâneos. Todos temos uma sede espiritual que não poderá jamais ser saciada em coisas finitas, passageiras e materiais. Isso porque essa sede é inerente a todo ser vivente que tenha aquela mínima noção existencial que nos faz desejar saber de onde viemos, quem somos, e para onde iremos. E se a vida não provém do que seja finito, a sede de viver não será satisfeita em coisas finitas; e se a vida não se resume à matéria, ninguém poderá se satisfazer no materialismo; e se a vida não subsiste em um único ser, não viverá plenamente quem vive para si.

A vida é bem maior que o mundo visível. Por isso, nem o mundo inteiro satisfará a alma do ser vivente. Somente algo tão grande quanto à própria vida poderá preencher o vazio de quem vive.

Outro paradoxo se dá na escolha entre bênção e maldição. Isso porque o conceito de bênção tem sido tragicamente invertido nos círculos pseudo-cristãos, onde o conceito de bênção foi reduzido ao sucesso financeiro pessoal. Ironicamente, o que eles buscam por bênção tem sido sua perdição espiritual; enquanto a maldição que rejeitam – a cruz – é, para o verdadeiro cristão, razão de bênção e bem-aventurança.

Cristo se fez maldito. Como está escrito: “maldito todo o que for pendurado no madeiro” (Dt.21:23). Logo, escolher a benção não é abraçar as teologias forçosamente triunfalizadas que muitas seitas têm difundido, mas sim seguir o caminho do calvário, fazendo-se maldição como Cristo se fez, morrendo em relação à vontade própria, vivendo em função do próximo, do Reino e do universo. Porque também quem perder a vida por causa de Cristo e do evangelho salvá-la-á (Mc.8:35).

Também é paradoxal o conceito de liberdade. Enquanto Cristo anuncia as Boas-Novas dizendo que “se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo.8:36), São Paulo afirma que pela mesma Boa-Nova ele foi feito escravo (Fm.13).

Embora a prisão a que Paulo se refira tenha sido de algemas físicas, não podemos deixar de refletir sobre outra espécie de prisão. Pois a liberdade que nós recebemos por meio do Evangelho de Cristo também nos aprisiona às algemas da consciência, que nos impede de agirmos, ou seguirmos agindo, de maneira leviana e sem escrúpulo. Pois aquele que tem Deus por Pai não é livre para vender seu voto, não é livre para enriquecer ilicitamente, não é livre para agir maquiavelicamente, nem é livre para oprimir os mais fracos, nem dominá-los pela manipulação da fé, nem difamar o semelhante, não pode trair aos que lhe confiam, nem trair sua própria consciência. Sua liberdade consiste em amar, perdoar e fazer o bem, até mesmo, a quem lhe quer mal.

Assim, embora os termos sejam homônimos, os conceitos que o verdadeiro e o falso cristão têm sobre vida, bênção e liberdade, são completamente opostos.

Escolhe, pois, viver em Cristo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário