segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A JUSTIÇA

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos” (Mateus 5:6).

A grande falácia da interpretação deste ensinamento de Cristo se dá na analogia dos sentidos. O sentido relativo ao que Jesus falou é o paladar, ao passo que as pessoas, de modo geral, tomam-no por visão. Em outras palavras, o ser humano tem ardente desejo de ver a justiça, mas não de degustá-la.

Como já dizia um velho ditado: “pimenta nos olhos dos outros é colírio”. È muito fácil percebermos o que está diante dos olhos e constatarmos as injustiças praticadas pelos políticos corruptos, empresários capetalista (sic), pelo vizinho mal-caráter, ou o comerciante sovina. Difícil é bebermos da mesma justiça que os olhos apreciam quando é imposta a outrem.

Os bem-aventurados não são os que anseiam ver justiça. Nossa sociedade mergulhou no caos, exatamente, porque cada indivíduo espera que os outros sejam justos, e que assim o sejam conforme o conceito de justiça que ele mesmo impôs. Numa sociedade onde o valor do altruísmo está quase extinto, o conceito de justiça, para o cidadão, não é nada mais do que o cumprimento do seu interesse particular, por mais injusto que este seja.

A justiça não é unilateral. Portanto, não saciará sua fome e sede quem tão somente desejar vê-la. Saciará, sim, quem dela comer e beber.

Quão diferente seria nossa sociedade se este ensinamento de Cristo fosse posto em prática! Infelizmente a sociedade quer ver líderes honestos, mas ela mesma trai a si própria, pois não se alimenta da justiça que deseja ver em seus governantes. Ela exige boa administração dos recursos públicos, mas não deixa de comprar produtos piratas; exige transparência dos políticos, mas se esconde atrás das fôrmas religiosas, ou das fantasias carnavalescas; critica as regalias do congresso; mas também não abre mão dos modismos, das aparências e do consumismo.

E assim, caro leitor, nós, que também compomos essa sociedade, vamos criando nossas crianças no mesmo espírito daqueles que os antecederam, desejando apenas ver a justiça que de geração em geração vai ficando cada vez mais distante. Em breve, essas mesmas crianças estarão governando sem nunca terem sentido, ao menos, o cheiro de justiça.

Bem-aventurados são aqueles que desejam, primeiramente, saborear a justiça, degustá-la, ser justificado. Não é impondo justiça aos outros que se alcançará a bem-aventurança. Se assim o fosse, as cadeias resolveriam o caos social. O que se precisa é viver a justiça de forma pessoal e exemplar. Mesmo que isso não mude o mundo (a priori), deixará sementes de mudança que certamente germinarão ao tempo certo.

Por hora, saibamos que não podemos controlar as ações das pessoas, mas podemos provocar reações diferentes. E provocar reações diferentes consiste em realizar ações diferentes. Ações injustas jamais provocarão reações justas. Quem se julga esperto e espera levar vantagens sobre tudo e todos, provoca reações similares e não se dá conta do mal que faz para si mesmo, pois ninguém é uma ilha para que sua injustiça não retorne, de alguma forma, para si.

Tens tu fome e sede de justiça? come e bebe dela. Tem-na em teu interior para que a possas ver além de ti. Mas não queiras vê-la sem antes prová-la. A bem-aventurança (felicidade plena) consiste da fé e a prática dos ensinamentos de Cristo, justiça de todo o que crê.

“Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei”
(Isaias 55:1).

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