É inegável a tensão existente entre aqueles que defendem uma deificação de Maria e aqueles que por não aceitarem essa postura acabam incorrendo no erro de se colocarem no outro extremo, fazendo pouco caso da mãe do Salvador, ou mesmo demonstrando desprezo a ela.
Não queremos incorrer nem em um erro, nem em outro. Diz o provérbio latino: “Virtus in médio” (A virtude está no meio). Acreditamos que uma teologia equilibrada estará sempre mais próxima a verdade.
O papel de Maria no mistério da encarnação do Messias, não se deu em lhe transmitir a vida sem pecado, tão pouco a deidade. Estes atributos Ele herdou do Pai, que é Deus. Para Maria cabia-lhe o papel de ser mulher, transmitindo a Jesus Cristo o atributo de ser humano. A esse respeito disse São Paulo: “Deus enviou seu Filho, nascido de mulher”.
Assim, o que podemos aprender das Escrituras, especificamente do cântico de Maria (Lucas 1.46-55), é que Maria não é bem-aventurada por ser salvadora, mas sim por ter um Salvador (v.47); não é bem-aventurada por ter-se engrandecido, mas sim por engrandecer ao Senhor (v.46); não é bem-aventurada por ser Senhora, mas por ser serva (v.48); nem é bem-aventurada por seus feitos, mas sim porque por ela o Poderoso fez grandes coisas (v. 49).
Alguém pode pensar que com isso estou diminuindo a virtude de Maria. De fato, eu estaria diminuindo o conceito da virtude mariana, se ao homem, ou mesmo a Maria, fosse possível maior virtude do que ser usado(a) por Deus.
Para o conceito humano, espera-se que os grandes feitos sejam precedidos pela virtude pessoal, de forma que a bem-aventurança acaba sendo arrolada ao mérito próprio, à capacidade cognitiva, à habilidade dialética, ou a força física. Entretanto, na visão cristã, todo mérito é de Cristo que, pelo seu Espírito, opera, nos seus servos, segundo o Seu querer. É a partir da força do Senhor dos exércitos que um pequeno garoto vence um gigante, 300 vencem milhares, um só homem com uma queixada derruba um exército, poderosos são derribados do seu trono e humildes são exaltados; famintos são fartos de bens e ricos são despedidos vazios; uma mulher simples, frágil, pobre, habitante de uma sociedade excludente justamente dos pobres, dos fracos e das mulheres, traz ao mundo o Salvador da humanidade.
Uma grande lição que aprendemos da Bem-Aventurada é que nós, mesmo sendo pecadores, fracos e insignificantes, também podemos ser bem-aventurados se bem-aprendermos-com-Maria, nos dispondo a ação de Deus, dizendo a Ele algo semelhante ao que ela disse: “Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra”. Para isso não precisamos ser deuses ou super-homens. Precisamos tão somente ser humanos.
Do atributo da virgem enaltecemos o nascimento virginal do Filho de Deus, o mistério intelectualmente inexplicável, humanamente inconcebível, e que somente é recebido pela fé. Pois unicamente com fé se discerne o que é da fé. Como dizia o Apóstolo São Paulo: “Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais” (1 Coríntios 2:13). A fé neste mistério carrega em si o benfazejo de uma vida bem-aventurada.
Seja, Maria, considerada bem-aventurada também nessa geração. E aprenda, essa geração, a ser bem-aventurada tal qual a mãe do Salvador.
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