“E eis que certo homem, intérprete da Lei, se levantou com o intuito de pôr Jesus à prova e disse-lhe: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Então, Jesus lhe perguntou: Que está escrito na Lei? Como interpretas? A isto ele respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 10:25-27).
A pergunta que Jesus fez ao intérprete da lei é crucial para nós. Não basta saber o que está escrito, a maior importância recai sobre como se interpreta os escritos. Afinal, uma coisa é o que está escrito, mas o que está dizendo pode ser outra.
O homem que conversava com Jesus poderia ter citado diversos textos da Lei que contemplasse o zelo religioso e a moralidade como princípios para herdar a vida eterna. Ao invés disso, como bom intérprete que era, sabia que tudo que estava escrito na Lei tinha uma única interpretação, amar.
A Lei mandava extinguir os inimigos, mas Jesus, que não veio ab-rogar a Lei e sim trazer a verdadeira interpretação dela, ensinou que devemos amar os nossos inimigos. Com isso Jesus não contrariou a Lei, apenas lhe deu um sentido mais amplo e eficaz: ao invés de extingui-los ao fio da espada, propôs sua extinção acabando com a inimizade, se dispondo a amar; ao invés de expulsar o pecador do meio dos santos, propôs livrá-lo do pecado se aproximando dele.
São Tiago nos dá o princípio hermenêutico mais precioso e fundamental, que infelizmente muita gente deixa de lado. Assim diz ele: “observais a lei régia segundo a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Tg.2:8). Isto é, o amor ao próximo é a lei que rege todas as demais leis.
Com isso, podemos dizer que qualquer cumprimento da lei será ilegítimo se o amor não lhe for o seu princípio e finalidade, sua causa e efeito. Por outro lado, até mesmo a violação de certos legalismos não é imputada sobre o infrator, quando as ações são regidas pelo amor. Sobre isso disse São Pedro: “Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados (1 Pedro 4:8).
Se para os homens dura lex, sed lex (a lei é dura, mas é a lei), para Deus verus amor omnia vincit (o amor verdadeiro vence tudo), pois o amor é maior que tudo e nele se concentra toda vontade divina para o homem.
A verdade é que a Bíblia é uma só, mas milhares são suas interpretações. É exatamente aí que se concentra nossa dificuldade, pois em vez de termos, da Bíblia, uma Lei com diversas interpretações, deveríamos, sim, extrair dela seus vários princípios de conduta, mas com uma só intenção, a saber, o amor a Deus e ao próximo.
Este é o Espírito das Escrituras. Quem não o tem, morre na letra.
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