“Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mt.5:8).
Sempre que tratamos sobre a possibilidade de ver Deus a primeiro coisa que nos vêm a mente, pelo menos o que vem a minha mente, é a morte. Criamos a idéia de que somente veremos a Deus quando morrermos. Mas afinal, onde veremos Deus?
Tudo bem, em primeiro lugar reflitamos sobre o fato de que haveremos de ver Deus após a morte. E para isso necessitaremos ser purificados. A respeito deste assunto já dizia São Paulo: “Isto afirmo, irmãos, que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção” (I Cor.15:50).
Paulo foi enfático: não há como vermos Deus nesta condição carnal em que vivemos hoje. Necessitamos ser transformados segundo a imagem de Cristo. Em outras palavras, precisamos ser cristificados. E por mais que sejamos cristificados nesta vida, sem dúvida, sairemos dela com várias áreas por cristificar. Tais áreas, segundo o apóstolo Paulo, não poderão herdar o Reino de Deus. Daí a necessidade de sermos julgados após a morte e sermos limpos de toda sujeira que não havemos nos desvencilhado durante nosso tempo terreno.
Para compreendermos este julgamento precisamos entender que tudo o que fazemos reflete o que somos. Portanto, ainda que o juízo seja segundo o que fazemos, referir-se-á a quem somos. O apóstolo Paulo diz que “qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará” (I Cor.3:13). Perceba que o fogo (juízo de Deus) não provará a obra de cada um, mas sim o próprio sujeito que a pratica. Ele disse: “o provará”, e não “a provará”. O artigo definido masculino (o) indica que o sujeito será provado, e não a obra. Isso mostra que as obras servirão apenas por medida do que somos, para que, pelo que somos, sejamos julgados. Isso porque as obras são o espelho fiel de quem somos.
O mesmo conceito de purificação é transmitido por Cristo usando o corpo biológico como analogia. Assim disse Jesus: “Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno” (Mateus 5:29).
Enquanto Paulo trata da purificação sob a ótica da análise das obras, Cristo a trata sob o ponto de vista de um corpo humano. Tanto as obras quanto o corpo que as pratica figuram nossa alma e refletem o que somos. Enquanto Paulo aponta para um processo de purificação pós morte, Cristo mostra a necessidade de se purificar em vida. Analisando os dois textos, entendemos que a purificação não é um trabalho que terá seu início após o fim de nossa carreira terrena. Na verdade seu início deve dar-se desde já e só será concretizado no outro lado da eternidade. Precisamos amputar de nossas vidas toda maldade que pudermos eliminar já. O objetivo desta purificação é vermos Deus já em vida.
Com isso voltamos à pergunta: Onde veremos Deus?
Já vimos que o veremos na eternidade. Mas precisamos também, e principalmente, vê-lo em vida, no próximo.
A impureza nos impossibilita de vermos Deus no próximo porque nos faz ver no outro a sujeira de nossos próprios olhos. Por isso“Todas as coisas são puras para os puros; todavia, para os impuros e descrentes, nada é puro. Porque tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas” (Tiago 1:15).
Para o sujeito cristificado é possível ver Deus no andarilho, no miserável, no pobre, no cego, no enfermo, no presidiário e todos os demais pecadores e excluídos com quem Cristo andou e se identificou. Para o impuro isso é impossível, por que sua mente está impura e seus olhos espirituais enxergam todo mundo e o mundo todo com a mesma sujeira com que ele próprio está sujo.
A todo homem e mulher que deseja ver a Deus, dá-se a necessidade de purificar suas mentes pela palavra de Cristo, para que lhe seja possível ter uma visão límpida e real do mundo, sem deixar de ver Cristo no próximo, nem se deixar iludir pelas aparências de quem tem Cristo só dos lábios para fora.
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