quinta-feira, 17 de maio de 2012

IGREJA, PRA QUE TE QUERO?

Por Julio Zamparetti

Quando Jesus falou que o Espírito Santo viria para convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo, ele contrariou, previamente, toda expectativa que, hoje, leva tantos crentes a buscarem uma igreja "cheia do Espírito Santo".

Enquanto o Espírito Santo foi prometido para nos convencer do pecado, as igrejas tem se servido de uma espiritualidade estranha que serve unicamente para inflar o ego do sujeito, fazendo-o pensar ter virado uma espécie de quinto elemento do quarteto fantástico, e que por ter uma fé inabalável, foi convocado pelo governo dos Estados Divinos da América a compor o quadro dos Vingadores, a fim de lutar contra os poderes sobre-humanos vindos de um portal infernal que lança sobre a terra deuses (anjos e demônios) caídos nessa nossa dimensão. E nessa luta, é claro, ninguém mais tem culpa de seus erros, pois tudo se trata de uma ação maligna bem arquitetada, diante da qual o ser humano não passa de um elemento passivo e impotente. É por isso que, segundo esses neuróticos, Deus concede poder aos seus escolhidos, a fim de que esses, cheios do poder, promovam a libertação dos cativos, como guerreiros atalais e porque não dizer, verdadeiros super heróis.

Lamentavelmente muitos leitores acabaram de pensar: e não é?

Não, não é. Segundo Jesus o que o Espírito Santo faz é justamente o contrário.

O pensamento de se ter super poderes não é advindo de outro lugar, senão de nossa imaturidade. Adorava ver meus filhos, aos 10 anos de idade, brincarem de super herói, dando golpes no ar, enfrentando monstros e vilões intergalácticos em sua imaginação. Isso é saudável para uma criança, mas o mesmo não se pode dizer se quem passasse as tardes brincando assim fosse eu, no alto de minha idade.

O Espírito Santo não nos faz pensar ser super crente, ao contrário, nos convence de que somos pecadores. Também não nos faz pensar que somos superiores a alguém, mas nos faz entender que somos todos iguais. O fato é que a maioria das pessoas que busca uma igreja, o tem feito, ou com o anseio de realizar seus desejos na base do "eu determino", ou com o intuito de mascarar sua vida de podridão e falsidade. Em ambos os casos a última coisa que se quer é admitir o pecado.

Portanto, uma igreja cheia do Espírito Santo não é aquela que te faz se sentir santo, chorar de emoção, entrar em transe, andar nas nuvens e tocar os céus. Uma igreja cheia do Espírito Santo é aquela que te leva a se esvaziar de si mesmo, reconhecer o pecado, despir-se das máscaras, encarar a realidade e ainda assim ter esperança.

Outra característica de uma igreja cheia do Espírito Santo é que nela o Espírito nos convence da justiça. Comumente, quando pensamos em fazer justiça, pensamos em vingar um mal, descobrar um desaforo ou cobrar uma dívida. Cabe, aqui, lembrar das palavras de São Tiago que diz: "A ira dos homens não cumpre a justiça de Deus". Isso porque a justiça de Deus é equidade. Isto é, sua justiça nos faz todos iguais. Enquanto os homens operam a justiça para condenação, Deus a opera para justificação. Assim, ao pensar em justiça sob os critérios divinos, devemos pensar em perdoar um mal, esquecer um desaforo e até mesmo pagar uma dívida de alguém.

Portanto, uma igreja cheia do Espírito Santo não é aquela que julga ser sem fé o que está doente, mas o consola na sua aflição; não pensa mal do que está fraco, mas lhe sustenta com a força que lhe falta; não pisa no caído, mas se abaixa como semelhante para juntos se levantarem; não discrimina o pobre, nem cogita que sua pobreza seja por falta de fé ou por causa de "pecado oculto", antes estende a mão para o ajudar; não condena o pecador, mas, por entender que é igualmente pecadora, o ama incondicionalmente, tal qual Cristo a amou.

Por fim, o Espírito Santo nos convence do juízo. Assim, temos a certeza de que nada escapa aos seus olhos. Não adianta usarmos da igreja para escondermos nossos pecados ou para nos afirmarmos diante dos homens, pois Ele tudo vê; nem podemos nos valer de leis e dogmas religiosos para discriminar alguém e nos eximirmos de ajudá-lo, pois a verdadeira religiosidade, aquela que segue o curso do Espírito, nos convence do contrário.

Então prosseguimos. Certos de que de tudo que fizermos - especialmente de nossa religiosidade - cedo ou tarde, daremos conta.

2 comentários:

  1. Gostei do blog, desse e de outros artigos, sempre tive essa mesma mentalidade, e acho que hoje essa religiosidade esta causando um dependência do cristão para com a igreja, em vez de para com Deus.

    e tem uma imagem que retrata bem o que foi dito no segundo parágrafo.

    http://4.bp.blogspot.com/-CTa5HJxRwTE/Tfuyq9JZmxI/AAAAAAAAAuA/zptQXPzEYrU/s1600/155125_173678752659333_100000516286176_538358_2216333_n.jpg

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caro Robson, muito obrigado por contribuir com seu comentário e seja bem-vindo ao blog.

      Excluir