Por Julio Zamparetti
Um Deus de promessas e serviço é o que todos procuramos. É isso que esperamos
sentados e de mãos estendidas, pedindo que algo se nos dê, que alguma coisa
aconteça. Mas será que realmente cremos em Deus? Não estaríamos depositando a
fé, na verdade, numa espécie de Super-man?
Afinal, para que nos serve esse Deus?
Volto a me perguntar: por que ainda vamos à igreja? O que procuramos
nela? A resposta que ouço não é a mesma que vejo. Porque os nossos lábios dizem
que vamos à igreja “adorar ao Senhor”, ao passo que nossas atitudes mostram que vamos massagear nosso próprio ego, pois saímos
de lá tão presunçosos e cheios de si, que tornamo-nos incapazes de nos
identificarmos com os pecadores, pobres e miseráveis com quem Jesus se
identificou, andou, serviu, conversou, sorriu, festejou, comeu e bebeu. Nossos
lábios dizem que vamos “encontrar a Deus”, mas nossas atitudes mostram que não
podemos vê-lo, porque só vemos maldade e malícia em tudo o que nos rodeia. Nossos
lábios dizem que queremos ser cidadãos dos céus, todavia nossas atitudes mostram
que, cada vez mais, estamos acorrentadas às futilidades e riquezas terrenas, de
maneira que fizemos delas a própria razão de nossa fé. Nossos lábios dizem que
queremos ser felizes, mas nossas atitudes mostram somente a infelicidade de apenas
anestesiarmos nossas almas, já não sendo mais capazes de alcançar a felicidade de
chorar com os que choram. Nossos lábios dizem que almejamos alcançar a
misericórdia divina; no entanto, nossas atitudes mostram a impossibilidade
disso, pois nos afastamos dela cada vez que a negamos a quem quer que dela
necessite. E a despeito de tudo isso, ainda esperamos que Deus faça alguma
coisa, que nossas orações mudem tudo e todos, mas nós mesmos não mudamos.
Deus não se fez um super-herói, se fez homem. Não fez por nós as
coisas que devemos fazer, mas serviu sim de exemplo para que nós o seguíssemos,
tomando nossa cruz e fazendo o que está à nossa mão para fazermos. Deus também
não nos deu as respostas prontas. Como fez no passado, ainda hoje faz, nos leva
a olharmos para o nosso interior e buscarmos as respostas no íntimo de nosso
consciente, e depois disso, assumirmos as responsabilidades que venhamos a
contrair através de nossas respostas e escolhas, principalmente quando, por
conta delas, necessitarmos pedir perdão.
A igreja não existe para nos conduzir a um caminho de poder, mas sim
para nos fazer entender nossas fraquezas e seguirmos a trilha da humildade e
compaixão; não existe para nos fazer deuses, mas sim para nos tornar mais
humanos, pois é justamente na nossa humanidade que Deus é revelado, e na nossa
fraqueza sua força é manifestada. Afinal, assim como por uma humilde mulher nasceu
o próprio Deus, assim também, em nossa pobre humanidade o Cristo é gerado. Ao
que o anjo diz: “não temas receber Maria”, direi, então: não temas receber a
humanidade do ser, não temas ser humano.
A igreja não existe para aliviar a nossa consciência atulhada pelo nosso
descaso com as causas ambientais e sociais, mas sim para nos comprometer com a luta
por um mundo melhor, sem fome e mais justo. Se algo diferente disso existe - e
lamentavelmente existe - com certeza não é igreja.
Estou
convencido de que o templo é último lugar onde podemos encontrar a Cristo. Nas
Escrituras Cristo é relatado apenas quatro vezes dentro do templo, das quais
duas vezes ele ainda era um bebê. Entretanto, Cristo é relatado constantemente
nas ruas, montanhas, praias, vilarejos, entre pecadores, leprosos, prostitutas,
gente excluída de sua época e, como se isso não bastasse, Ele ainda disse que o
encontraríamos nos presos e miseráveis desse mundo. Portanto, só encontrará
Cristo na igreja quem for capaz de encontrá-lo em qualquer outro lugar. Por
isso penso que a única razão pela qual devo ir à igreja é para aprender a viver
no mundo. Se a igreja não ensina isso, nem para isso serve.
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