Por Julio Zamparetti
Desde
criança ouço a respeito de fulano ou sicrano que “comeu o pão que o diabo
amaçou”. Não sei quem criou esse dizer, mas agora sei que estava errado. O
diabo nunca foi padeiro, nunca foi nada, nunca foi. Sendo ele o opositor de
Deus, a quem as Escrituras denominam como “O Grande Eu Sou”, a única coisa que
resta ao diabo ser é ‘o pequeno nada é’.
O
padeiro foi Jesus, e que padeiro foi! Nunca outro fez, de cinco pães, pães
suficientes para alimentar mais de vinte mil pessoas, em uma só tarde! Depois
da ressurreição, ele apareceu aos discípulos assando um pão e convidando-os
para jantar. E não se pode deixar de mencionar que o amor de Jesus pela arte
culinária panificadora e sua identificação com ela eram tão intensos que disse:
este pão é meu corpo. Isso é como o músico que diz que em suas veias corre
música, ou o montanhista que diz que seu coração pulsa montanhas.
Carpinteiro
foi seu pai, São José. Jesus exerceu esse ofício enquanto viveu a vida de seus
pais. Quando saiu para viver sua própria vida e cumprir o propósito de sua
existência, assumiu sua verdadeira profissão, padeiro. Não foi à toa que disse:
“Quem vem a mim jamais terá fome”. Queria que seu trabalho, como seu amor, fosse degustado, metabolizado,
e compusesse, biológica e espiritualmente, o ser que somos.
Eu
imagino que, nesse ponto da leitura, muitos estejam resistentes em aceitar o
que eu digo. Isso é compreensível. Preferimos um Jesus Rei, imaginamo-lo como
um grande líder religioso, alguém com grande influência política. No Brasil,
aprendemos desde pequeno que Deus é brasileiro e que padeiro sempre foi um
português!
É importante dizer que esse ensaio não visa diplomar Jesus nesse ou aquele ofício, e sim lançar luz sobre uma nova analogia do caráter cristão.
É importante dizer que esse ensaio não visa diplomar Jesus nesse ou aquele ofício, e sim lançar luz sobre uma nova analogia do caráter cristão.
A
perspectiva que criamos, recebemos e transmitimos de quem é Jesus nos impede de
reconhecê-lo como ele é de fato. Como os discípulos no caminho de Emaús, também
nós somos incapazes de reconhecê-lo, ainda que estejamos vendo, andando e
conversando com ele. Aqueles discípulos esperavam alguém que libertasse o povo
da opressão romana e restituísse o trono de Davi. Queriam um Rei, daqueles
escolhidos dentre os grandes soldados guerreiros, não um padeiro. Nós também esperamos
que Cristo seja um milagreiro, um gênio da lâmpada, um imperador que ponha tudo
em ordem, não um trabalhador.
Mas
também como os discípulos no caminho de Emaús, nossos olhos são abertos no
partir do pão. Engana-se quem diz reconhece-lo nos templos, nos dogmas, na
hierarquia eclesial, ou nas vestes litúrgicas. Ele é reconhecível na partilha
do pão, da sopa, do teto, da terra, da renda e da própria alma. Por isso
reconheço Cristo nas grandes mesas em que comunidades inteiras de chineses que
jamais ouviram falar de Jesus partilham sua refeição, fazendo assim com que
ninguém dos seus passe fome. Reconheço Cristo na forma comunitária e devotada
com que tribos indígenas, sem a religião cristã, partilham e cuidam da terra e
seus recursos. Reconheço Cristo na humanidade de quem, mesmo sem religião,
acolhe os desabrigados e desprezados pela sociedade. Reconheço Cristo naqueles
que, mesmo sem crer em Deus, partilham seus bens com os necessitados. Reconheço
Jesus naqueles que, mesmo contrariando a religião, expõem sua alma, partilham
seus sentimentos e lutam por aquilo que acreditam.
Como
bom padeiro, Jesus gostava de convidar os amigos para uma boa degustação acompanhada
de peixes, ervas amargas e vinhos. Nem todo pão agrada a toda gente; pouca
gente se agrada do amargor das ervas; e não é qualquer um que aprende a apreciar
um bom vinho. Acho que vem daí a atribuição do amassamento de certos pães à
figura do diabo. Por isso insisto em dizer: o diabo não é padeiro, Jesus é. E
tenho uma prova cabal disso. O salmista disse que “aos seus amados, Deus lhes abençoa
enquanto dormem”, enquanto outro autor sagrado diz que “Deus não faz acepção de
pessoas”. Viu? É o padeiro quem acorda muito cedo e trabalha duro, enquanto
todos dormem, a fim de que de manhã cedinho, reis, soldados, plebeus, damas e
vagabundos, indistintamente, tenham o que comer. Existe prova maior que essa?
Por
fim, é bom saber que amargores, bolores, tristezas e choros também fazem parte
da culinária de Cristo. Por isso, saber viver é como aprender a degustar um bom
vinho Cabernet, um bom queijo Grana, uma boa radice com polenta. No início
parece horrível, mas quando se aprende a degustar percebe-se que não há coisa
melhor. O pão que Jesus amassou é assim: nem sempre é facilmente digerido; alguns
nunca aprendem a degusta-lo; há até quem diga que foi o diabo quem o amassou; enfim,
talvez seja para poucos, mas espero que você seja um destes. Porque a vida só é
boa quando é plena, e só é plena quando se aprende a viver bem suas doçuras e
amarguras.
Servido?
mano pqp amei o texto caralho brigado tu me salvou
ResponderExcluirjesus era quimico????????
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