O que está em jogo não é apenas o direito de abortar uma vida, mas de abortar a consciência de toda sociedade. Nossa gente, há tempos, vem cultivando trivialidade, consumindo enlatados, fast foods, preferindo descartáveis, se relacionando virtualmente; não sabe mais se relacionar pessoalmente, amar incondicionalmente, viver ou morrer por alguém, ter compaixão. Nossa mente tem sido condicionada a valorizar o sucesso, a fama, a juventude, o dinheiro, a beleza física, a estética, ao mesmo tempo em que desaprendemos a valorizar o que é essencial e verdadeiro.
É muito mais fácil divorciar-se do que promover a restauração do casamento; é muito mais fácil romper relacionamentos do que perdoar; é muito mais fácil correr dos problemas do que solucioná-los; é muito mais fácil descartar os idosos do que cuidar deles; é muito mais fácil se isolar do que conviver com os defeitos dos outros; é muito mais fácil abandonar um filho com deficiência do que viver suprindo sua carência; é muito mais fácil abortar uma vida do que amar incondicionalmente. Mas, enfim, essa é a geração das facilidades, em que tudo - tudo mesmo - é descartável. Isso não é um problema de simples religiosidade, mas de formação intelectual de uma nação. Poderemos pagar o preço disso que estamos semeando? Duvido. A certeza que tenho é que amanhã os descartáveis seremos nós.
Ao contrário do que muitos pensam, conviver com pessoas com deficiência não é martírio; martírio é a morte de um inocente. Legalizado ou não, isso não muda o fato de que caminhamos rumo a uma sociedade cada vez mais intolerante com os doentes, os velhos e os especiais. Defender a vida e o direito desses, também é inclusão.
Para encerrar, deixo aqui um questionamento pertinente: O que doe mais, gerar um filho que terá pouco tempo de vida e dar-lhe um enterro digno, ou tira-lo à força, mutilando seu corpinho indefeso num procedimento abortivo, mesmo sabendo que ali existe uma vida, uma alma vivente, um filho seu?