Por Julio Zamparetti
Falar sobre Deus é
difícil. Se eu pudesse fazê-lo, Deus não seria Deus, uma vez que Deus para ser
Deus tem que estar acima de tudo. Se Ele é quem está acima, nada pode ser
falado sobre Ele. A única coisa que posso dizer de Deus, di-lo-ei sob Ele,
porque estando bem abaixo posso apenas contar o que minha visão espiritual
nublada, abaixo, distante e limitada pode ver a respeito dEle, se é que o pode
ver.
Muita gente fala
sobre Deus. No entanto, se fala sobre Ele, não é dEle que se fala, mas sim de
um deus pequeno abaixo. O que se pode falar
de Deus é o que sob Ele se pode entender dEle. Isso, acreditem-me, já é
muita coisa. Só os iluminados ou malucos podem estar sob Ele de maneira a
entender alguma coisa dEle. Se você não é iluminado ou maluco, parabéns, você deve ser são! Pena que os sãos não precisam de Deus e nem foi para esses que Deus se
manifestou na pessoa de Jesus.
Acho que todos somos
meio malucos, meio iluminados, oscilante entre os dois, ou, talvez, maluco e
iluminado seja a mesma coisa. O fato é que somos mutantes, estamos sempre
mudando, e isso acontece pelo simples fato de estarmos vivos. A mutação é a
principal característica de um ser vivo.
E Deus é vivo?
Obviamente sim. Mas há quem diga o contrário, e não estou falando de Nietzsche,
me refiro a todos que afirmam que Deus é imutável. Afinal, o que não muda não
tem vida, e por mais beleza que possa ter, é como flor de plástico.
O Deus sob o qual eu
tento vislumbrá-lo muda todos os dias porque em nenhum dia eu sou o mesmo. Ele
que é o mesmo ontem hoje e eternamente continua revogando seus “decretos
irrevogáveis” por amor de um pecador arrependido; continua voltando atrás com
relação ao castigo que anunciou, para atender o clamor sincero de um povo
devoto; continua mudando a direção do mover de seu Espírito sem qualquer
prescrição, tal como afirmou o Cristo.
Quem não muda mesmo
é a igreja morta, que mortificou seus ensinamentos com dogmas e leis as quais
jugou infalíveis e inquestionáveis. Como poderiam essas leis e dogmas serem “verdades
imutáveis” se procedessem de um Deus mutável? E como a igreja dominaria o povo
se não detivesse as “verdades imutáveis”? Assim, para dominar o mundo, a igreja matou
seu deus.
Depois de matar o
seu deus, a igreja condenou aqueles que, segundo ela, eram maus. E mandou para
a fogueira vários dos que eram semelhantes a Deus e, por serem semelhantes a
Deus, pensavam livremente e eram capazes de mudar o pensamento, a si próprio, o
mundo e a história. Hoje, apagaram-se as tochas, mas continuam sendo acesas as
fogueiras moralistas dos pregadores que arbitram contra os homossexuais, as
religiões africanas ou orientais, as benzedeiras, os sensitivos e qualquer pessoa que
mesmo sendo do bem não esteja sob o domínio eclesiástico.
Lembro-me de um
texto bíblico em que o profeta advertiu o povo de Israel de que Deus mudaria sua
escolha a respeito de quem seria para sempre o seu povo. Dizem que Deus cumpriu
a mudança há dois mil anos... Eu penso que Deus mudou muito mais vezes! Porque
Ele vive.