Por Julio Zamparetti
Marta é
aquela mulher que ao receber a visita do Mestre, envolvida nos afazeres
domésticos, não encontrou tempo para ouvi-lo.
Maria é irmã
de Marta, corresponsável por todos os afazeres do qual sua irmã empenhava-se em
lidar. Mas Maria parou e ouvia Jesus.
Marta é
aquela geração de filhos e filhas de Deus que está sempre ocupada demais para
se permitir parar para jogar uma conversa fora, ouvir uma sonata, declamar um
poema, ou brincar com e como as crianças.
Maria é
aquela geração que é capaz de, a despeito de tudo, permitir-se ser criança.
Marta é uma
geração que cresceu, estudou, formou-se, aprimorou-se, desvendou a mente, os
números, criou metodologias, estatísticas e probabilidades. Por isso, não
acredita em intuições, nem precisa de orações.
Maria é uma
geração simples, que simplesmente crê; que faz coisas impensáveis e
impossíveis, talvez pelo simples fato de não ter acesso ou ignorar às tais estatísticas.
Marta é uma
geração de pessoas bem informadas e evoluídas que não precisa dos conselhos de
quem não estudou tanto, que embora tanto tenha vivido, tempo vivido é tempo
passado, desatualizado, caducado, velho...
Maria é
capaz de ouvir e aprender com quer que seja: do mais novo ao mais velho, do
mais rico ao mais pobre, do mais estudado ao mais indouto.
Marta é uma
geração de filhos que, envolvida pelos sons do mundo moderno, não pode perceber
o som suave da brisa, nem a sinfonia regida pela vida, a harmonia da
respiração, a melodia dos sonhos em-cantos e o ritmo do pulsar do coração.
Maria, por
sua vez, baila ao som do coração, do vento, da revoada dos pássaros. Ainda que
não entenda a melodia, pode sentir a vibração do ritmo que a vida rege
harmonizando sua alma à sinfonia do universo.
Marta é uma
gente que aprendeu a força de um argumento, a importância de uma influência e o
valor de um pronome de tratamento que precede seu próprio nome, da mesma forma
que suas funções, suas atividades e habilidades precedem e ofuscam sua alma.
Marta sabe o que faz, mas não sabe quem é.
Maria é apenas
Maria. Sem pronome de tratamento, sem função. Sabe que antes de ser a
profissional, precisa encontrar-se em si e ser quem é.
Marta só
pode ler livros, ou artigos, técnicos, que lhes seja proveitoso
profissionalmente ou agregue valor à sua formação. Afinal, Marta não tem tempo
a perder com fábulas, poemas, causos, ou utopias.
Maria gosta
de visitar a lua, as estrelas, imaginar um mundo perfeito, tem um jardim, joga
milho aos pombos, cata conchinhas na beira da praia, crê em Deus e em outras
coisas que não vê; pra relaxar lê Dom Quixote, O Pequeno Príncipe e Irmãos
Grimm.
Marta está
preocupada com a concorrência. Ela precisa chegar em primeiro lugar, ser a
melhor, atingir a meta, superar as expectativas, ganhar mercado, garantir o
futuro, sacrificar o presente, a família, os amigos. Marta nunca se satisfaz.
Sua vida sempre está no futuro.
Maria vive o
hoje. Embora sonhe e almeje dias melhores, não se esquece de que ser feliz é
ser feliz agora.
Marta é
racional; não sonha, porque não pode dormir; não tem esperança, porque não sabe
esperar; não vive, porque não consegue respirar.
Maria,
todavia, aprendeu a amar, e que amar é viver.
Então disse
o Mestre: “Maria escolheu a melhor parte”.
Penso que
ainda temos tempo de escolher.